Condições de saneamento no Camarista Méier são precárias - André Luiz Bezerra
Condições de saneamento no Camarista Méier são precáriasAndré Luiz Bezerra
Por RENAN SCHUINDT

Rio - Sem acesso à água potável e ao saneamento básico, Miguel, de apenas 3 anos, foi vítima da Leishmaniose e morreu no mês passado sem saber qual a sensação de tomar um banho de chuveiro. Dias depois, a irmã dele, Hihana Patrícia, de 2, teve problemas no baço e no fígado, sintomas da mesma doença. Mas ela sobreviveu após ser internada e receber o tratamento. Eles são filhos de Meirele de Oliveira, que luta pela sobrevivência com o marido e sete filhos em ruas de barro cortadas pelo lixo e pelo esgoto no morro Camarista Méier, na Zona Norte do Rio.

"Não temos água encanada nem esgoto. É tudo a céu aberto mesmo. Eu tenho 30 anos e até hoje tomo banho de balde, com água barrenta do poço", desabafou Meirele.

 

Vozes como as de Meirele ecoaram no começo da tarde de sábado, em meio a uma visita feita pelo prefeito Marcello Crivella. Entre as demandas, pedidos por obras de infraestrutura para minimizar os danos quando chove. Segundo relatos, bolsões de água se formam perto das casas e impedem a passagem dos moradores. "O Ministério Público já determinou uma solução por parte da Cedae. Mas continuamos na mesma situação. A água que chega na bica não é própria para o consumo. A coleta de lixo até chega, mas não é suficiente. Já o esgoto corre pelas ruas e não tem saneamento. Estamos abandonados", lamentou Rafael Amorim, presidente da associação de moradores.

Os moradores também reclamam da água na localidade conhecida como Ouro Preto, contaminada com coliformes fecais. "Eu vou reiterar com a Cedae a proposta de parceria para a criação de um castelo d'água para distribuição para a população", disse Crivella.

Marcelo Crivella - Divulgação

Segundo a Cedae, a Camarista Méier é abastecida por rede da companhia. Mas a região sofre com a ocupação desordenada, que não cabe à companhia fiscalizar. O projeto para ampliação do abastecimento foi finalizado, mas o orçamento para executar as obras está em estudo.

Doença que mata

A leishmaniose, que vitimou o menino Miguel, é causada pelo protozoário parasita Leishmania, que é transmitido pela picada de mosquitos-palha infectados. Se não tratada, a doença chega a ser fatal em mais de 95% dos casos. Estima-se que ocorram até 400 mil novos casos por ano no mundo. Mais de 90% desses registros ocorrem em seis países: Bangladesh, Brasil, Etiópia, Índia, Sudão do Sul e Sudão.

Sem água adequada

Os casos na família de Meiriele ilustram os dados levantados por um estudo inédito desenvolvido em parceria entre o Trata Brasil e a BRK Ambiental, empresa de saneamento. Segundo o levantamento, uma em cada quatro mulheres não possui acesso adequado à água tratada no país. Cerca de 1,5 milhão de mulheres não têm banheiro em casa e a renda delas é 73,5% menor em comparação às demais trabalhadoras.

Impacto social

A infraestrutura sanitária seria capaz de tirar 635 mil brasileiras da pobreza, segundo a pesquisa. Isso poderia proporcionar um acréscimo de R$ 321, em média, à renda anual de cada uma delas, gerando impacto de R$ 12 bilhões por ano para a economia do país. "É o retrato evidente do impacto sofrido pela falta de água tratada e esgotamento sanitário. Os danos provocados hoje serão refletidos nas gerações futuras. A água tem o poder de transformar a realidade de milhares de pessoas, afirma Teresa Vernaglia, diretora-geral da BRK Ambiental.

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