Rua Tenente Possolo, no Centro, é exemplo de asfalto detonado     
 - Estefan Radovicz
Rua Tenente Possolo, no Centro, é exemplo de asfalto detonado Estefan Radovicz
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Uma diferença de quase meio bilhão de reais afasta os investimentos em pavimentação de logradouros feitos no Rio pelo prefeito Marcelo Crivella, em seus dois primeiros anos de governo, do total executado no mesmo período do segundo mandato de Eduardo Paes. Isso representa uma queda vertiginosa de 73,10% em recursos. Em 2013 e 2014, durante a gestão anterior, foram aplicados R$ 610.069.626 milhões. Em 2017 e 2018, na atual administração, a soma dos valores empregados caiu para R$ 164.062.063. Embora Paes tenha preparado a cidade para megaeventos, especialistas e moradores percebem no dia a dia que os esforços empenhados nos últimos anos são insuficientes.

As informações constam de levantamento do gabinete da vereadora Teresa Bergher (PSDB), com base em dados lançados no Fincon, sistema da Prefeitura do Rio onde são registrados eventos orçamentários. Segundo a equipe da parlamentar, não existem no sistema ações específicas para operações tapa-buraco. Por isso, os dados reúnem ações que englobam recapeamento, drenagem e conservação de logradouros. Nesta segunda reportagem da série 'Rio da Esculhambação', é possível entender por que a cidade está tomada de buracos, como O DIA mostrou ontem.

"Pelos números apurados, os dois primeiros anos de Crivella foram marcados pela falta de investimentos em pavimentação e conservação dos logradouros. Entre 2017 e 2018, a média foi de R$ 82 milhões, enquanto a média entre 2013 e 2016 foi de R$ 349,7 milhões. Ou seja, Crivella investiu 77% a menos do que Paes", diz Bergher, estabelecendo outro recorte de comparação.

Rua Jacinto Alcides, perto da Escola Simoni: vegetação no buraco contra acidentes com carros e pedestres - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Ronaldo Balassiano, professor do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, ressalta que é compreensível gastos mais robustos nas vésperas da Copa do Mundo (2014) e da Olimpíada (2016), mas considera a redução de verba exagerada diante das necessidades do Rio: "O investimento praticamente acabou. É lógico que não precisa ter o mesmo volume de recursos do período dos grandes eventos, mas não poderia ter caído dessa forma".

Para ele, os números demonstram falta de visão do poder público em relação aos impactos das vias esburacadas, desde prejuízos com conserto de transportes públicos e privados até riscos de acidentes. "É falta de visão do custo disso para a cidade. Os buracos aumentam exponencialmente os riscos de acidentes. Um carro pode cair num buraco e subir a calçada, acarretando em pessoas hospitalizadas e mortes. A prefeitura diz que não pode gastar, mas indiretamente está gastando e muito o que poderia economizar para investir em outras áreas", conclui.

"A redução dos investimentos foi bem drástica. Se isso significou a não implantação de uma faixa de pedestres solicitada pela população em determinado ponto onde há muitos acidentes, isso acaba impactando na segurança do trânsito", acrescenta Nibia Cardoso, idealizadora do projeto Giro Urbano, que mapeia buracos em calçadas de responsabilidades pública e privada.

O DIA questionou à prefeitura, ontem de manhã, os valores investidos em ações tapa-buraco desde 2009. A resposta oficial contemplou apenas o seguinte: R$ 63 milhões e R$ 100 milhões em 2015 e 2016, no fim do governo Paes, e R$ 11,8 milhões e R$ 14,5 milhões em 2017 e 2018, já na gestão atual. Procurada novamente à tarde para comentar os números informados pelo gabinete da vereadora, não respondeu.

Na Av. João XXIII, em Santa Cruz, grandes obstáculos para motoristas - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Rombos no asfalto forçam manobras arriscadas

A "esculhambação" (como Crivella classificou o Rio em reunião com servidores no dia 19) continua. Próximo aos Arcos da Lapa, buracos da Rua Teixeira de Freitas forçam manobras arriscadas. "Essas duas crateras já estão pra fazer aniversário. Precisa quase subir no meio-fio para desviar", comentou o motorista de aplicativo Márcio Farias. No Caju, o asfalto irregular e a falta sinalização no chão, como faixas, também complicam a circulação. A situação se repete nas estradas do Galeão e dos Macarajás, na Ilha do Governador, onde buracos tornam o trânsito quase um rally.

Em Benfica, a Rua Couto Magalhães é o reflexo do descaso. São buracos e rachaduras em praticamente toda a via. Na Visconde de Niterói, em frente à Comunidade da Mangueira, o motorista também precisa fazer malabarismos para desviar das crateras. A condição se estende pelo Viaduto da Mangueira.

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