Tamara Pereira (à esquerda) com o namorado Wagner de Souza são atendidos por Shirlei Oliveira - fotos Gilvan de Souza
Tamara Pereira (à esquerda) com o namorado Wagner de Souza são atendidos por Shirlei Oliveirafotos Gilvan de Souza
Por O Dia
Rio - Romeu e Julieta da noite da Lapa, Wagner de Souza, de 23 anos, e Tamara Pereira, de 21, aguardam na fila por uma vaga no Hotel Popular da Central do Brasil. Convertidos à fé evangélica, contam que seu amor nasceu nas ruas. Ela veio de Mato Grosso e espera tirar seus documentos. Ele teve "um passado no cárcere", foi marcado pela dependência química e hoje tem "esperança de conseguir um rumo".
Invisíveis no corre-corre das ruas cariocas, suas histórias fazem parte dos 96 mil atendimentos feitos pelas 24 assistentes sociais que trabalham na Operação Segurança Presente, promovida pela Secretaria de Estado de Governo, desde 2014.
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Ana Lúcia e Leo Motta, que foi atendido pela Operação Segurança Presente - Divulgação
Recordista de atendimentos, a Lapa vê chegar sob os Arcos uma romaria de andarilhos todas as noites. A esperança é uma cama e um banho no Hotel Popular, para onde são conduzidos pelas equipes. Água e lençóis limpos são ouro. "Boa noite, meus abençoadinhos!", ecoa a voz da assistente social Shirlei Marques de Oliveira Gonçalves. Ela chama cada um de seus acolhidos pelo nome. E se orgulha das vitórias acumuladas durante os anos de dedicação à Operação Lapa Presente madrugada adentro:
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"Já atendi um rapaz e, meses depois, ele veio aqui com seu cartão: estava trabalhando em restaurante chique. É muita história. Às vezes, as pessoas só querem um abraço, uma palavra, alguém que lhes diga que estão vivas".
As memórias dos anos nas ruas são amargas para o escritor Leo Motta. Hoje empresário, dono de restaurante, palestrante e autor da biografia "Há vida depois das marquises", ele ainda se emociona ao se encontrar com seu anjo da guarda: a assistente social Ana Lúcia Avelar Pinto.
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Foi ela que o encaminhou da base do Centro Presente, no Largo da Carioca, para a Associação Solidários Amigos de Betânia, uma instituição de referência na recuperação de dependentes químicos, em Jacarepaguá. Leo entrou no dia 9 de janeiro de 2017, enfrentando o vício no crack, cocaína, álcool e um passado de perdas e humilhações, e saiu no dia 24 de agosto de 2017 já empregado como garçom.
Um dia, em uma viagem de ônibus, ouviu de um passageiro. "Aqui na cracolândia morrem 10 e chegam 20". E pensou: "Eu estive nesse inferno e não morri". E decidiu escrever sua história. O livro de 218 páginas, financiado por uma vaquinha online, foi todo digitado no celular. Um relato de todas as suas provações:
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"Uma vez pedi a um segurança: "Só quero uma água". Ele voltou com um copo com gelo. Quando me deu, eu senti aquele gosto horrível. Era sal. E me mandou nunca mais voltar ali. Outra vez, pedi um pão a uma senhora na padaria. Ela não disse nada. Cuspiu em meu rosto".
Desempregado, Joao Paulo Alves da Silva conseguiu ocupação por indicação de seu anjo da guarda, a assistente social Monica Isabel Xavier Dias - Gilvan de Souza / Agencia O Dia
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Ana se lembra do dia em que reviu Leo:
"Ele chegou aqui todo arrumadinho, empregado. Eu o reconheci e dei um abraço forte nele, foi lindo".
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O escritor conta que a abordagem carinhosa foi fundamental para que ele sentisse confiança e seguisse o tratamento. Para o major Carlos Eduardo Falconi, superintendente das operações da Segov, as assistentes sociais são um diferencial:
"São profissionais que acolhem, encaminham e ajudam pessoas em momentos difíceis. Também fazem um trabalho de prevenção que contribui com a Segurança Pública. É um orgulho tê-las".  Para o Rio inteiro.