Catia Monteiro Lima vai todos os dias ao Hospital do Andaraí para tentar receber remédios para quimioterapia. Operada de um câncer de mama, ela precisa urgentemente continuar o tratamento - fotos Daniel Castelo Branco
Catia Monteiro Lima vai todos os dias ao Hospital do Andaraí para tentar receber remédios para quimioterapia. Operada de um câncer de mama, ela precisa urgentemente continuar o tratamentofotos Daniel Castelo Branco
Por O Dia

Rio - A Defensoria Pública da União (DPU) pretende denunciar o Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos devido à situação precária dos hospitais federais no Rio de Janeiro. A decisão foi informada ontem pelo defensor público Daniel Macedo, após vistoria no Hospital Federal do Andaraí. Na última segunda-feira, a unidade sofreu interdição ética do Conselho Regional de Medicina (Cremerj).

De acordo com o defensor, nas vistorias da DPU, no Hospital do Andaraí, foram constatados problemas como falta de médicos, leitos para internação e medicamentos. "Primeiro, vamos comunicar ao juízo da 5ª Vara Federal, onde nós temos uma ação coletiva, com liminar deferida, determinando a contratação imediata de 4.200 profissionais para o hospital. É preciso chamar atenção do mundo para o que está acontecendo no Brasil. A União vem agravando o estado clínico desses pacientes, e muitos vão a óbito", disse Macedo.

O defensor público enumera que a maternidade e os setores de pneumologia e cardiologia do Hospital do Andaraí estão fechados por falta de profissionais. "O salário oferecido na rede federal é baixo em relação às redes municipais. Isso não atrai os médicos, que ainda encontram um cenário caótico para trabalhar", explicou.

Segundo Macedo, há uma decisão judicial que determina a construção de uma nova emergência no Hospital do Andaraí, mas, segundo ele, o Ministério da Saúde não cumpre a decisão. "Conseguimos também a reconstrução da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, mas mesmo assim o problema não foi resolvido, pois agora há falta de profissionais para trabalhar", contou o defensor, acrescentando que, entre 2008 e 2018, seis hospitais federais tiveram diminuição de 39% no número de cirurgias.

à espera de tratamento

Pacientes que precisam se tratar nas unidades federais sofrem com a atual situação. Cátia Monteiro, de 53 anos, disse que vai todos os dias ao Hospital do Andaraí para saber se consegue receber os remédios para quimioterapia. Diagnosticada com um câncer de mama no ano passado, ela foi operada, mas aguarda pela continuidade do tratamento. "A mastologista disse que eu tenho que começar o tratamento o mais rápido possível, para as células cancerígenas não voltarem. Registrei reclamação, mas, até agora, nada", reclamou.

Já Maria de Fátima Bonelis, de 65 anos, só conseguiu vaga no Hospital Federal de Bonsucesso depois de entrar na Justiça para receber atendimento. "Se, por acaso, não fosse a Justiça, iria morrer. Sorte que uma conhecida que trabalha no hospital conseguiu uma vaga para mim e me encaixou antes, porque, por conta própria, eu não conseguiria. Cheguei a dormir duas noites em uma cadeira na emergência para não perder a minha vaga para fazer a biópsia, já que para começar a me tratar precisava do exame", lembrou.

 

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