Moradores de Campo Grande sofrem com o desaparecimento de linhas de ônibus, entre elas a 398 - Estefan Radovicz
Moradores de Campo Grande sofrem com o desaparecimento de linhas de ônibus, entre elas a 398Estefan Radovicz
Por GUSTAVO RIBEIRO
Rio - Um levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) a pedido de O DIA comprovou que pelo menos 26 linhas de ônibus que constam como ativas na pasta desapareceram das ruas do Rio. Em consulta ao sistema de monitoramento dos GPS instalados nos veículos, realizado na última quarta-feira, a secretaria descobriu que os consórcios Internorte, Intersul, Santa Cruz e Transcarioca continuam a desrespeitar as normas da prefeitura. Entre as irregularidades mais recorrentes estão circulação com frota abaixo do determinado e operação com veículo não submetido à vistoria anual. A estimativa é que 1,45 milhão de passageiros sejam prejudicados. De acordo com a SMTR, nos últimos 17 meses, a cidade perdeu 18% da frota, cerca de 1,5 mil veículos. Em média, 195 multas são aplicadas por dia às empresas. No entanto, a medida parece não surtir qualquer efeito positivo para o passageiro.
A reportagem percorreu alguns pontos da cidade e constatou que as maiores queixas de quem depende do transporte público são o longo tempo de espera, as condições precárias e o desrespeito causado pelas empresas. É o caso de moradores de Campo Grande, na Zona Oeste, uma das mais afetadas pela falta de ônibus. Das quatro linhas mais autuadas pela SMTR por redução de frota, três têm ponto final na região: a 366 e a 398, que fazem o trajeto Campo Grande-Tiradentes, e a 744, que liga Realengo a Cascadura.
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Embora a frota determinada pela SMTR para a operação da linha 366 estabeleça um total de 27 carros, passageiros afirmam que há apenas um veículo em funcionamento. "Esse carro circula entre 4h30 e 11h30. Nós estamos abandonados", desabafa o aposentado Paulo Cesar Fonseca, 69 anos.
Além da demora, quem precisa da condução reclama de uma alteração na rota, medida tomada para atender aqueles que utilizavam a linha 365 Expresso (Mendanha X Tiradentes), também desaparecida. "Era uma mão na roda quando era permanente. Agora, eu tenho de andar até a Avenida Brasil para pegar outro ônibus", diz a vendedora Leila Santos, 37 anos. Segundo o monitoramento por GPS feito pela SMTR, a linha não funcionou na quarta-feira (05), quando a equipe de O DIA esteve no local.
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Já a linha 365, aparece cadastrada na secretaria com apenas três carros em operação. Em sua ausência, os passageiros são obrigados a pegar duas conduções para chegarem ao Centro. "Eu pego uma van para o centro de Campo Grande. De lá, tenho que pegar o trem. Também tem a opção do frescão, mas o valor da passagem é bem mais caro (R$ 18,85)", diz o vigilante Carlos Assis, 33 anos.
Queda expressiva
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O monitoramento também constatou uma queda expressiva no número de coletivos. Em janeiro do ano passado, a cidade contava com 8.344 ônibus. Atualmente, este número é de 6.833. Uma redução de 1.511 veículos. De acordo com a SMTR, somente este ano, as empresas já foram multadas 2.949 vezes, por inoperância ou por circulação abaixo da frota determinada. Cada multa tem o custo de R$ 1.712,95. Somando os cinco primeiros meses deste ano, o valor total dessas multas já chega a R$ 2,7 milhões. Caso a irregularidade seja constatada novamente, o consórcio responsável recebe uma nova punição. Existe a possibilidade das empresas recorrerem, o que resulta em um tempo maior para o pagamento das multas.
Na Zona Norte a situação não é muito diferente para quem depende dos ônibus para se locomover. Moradora de Vaz Lobo, Vânea Regina Ribeiro, de 55 anos, reclama do desaparecimento da linha 928, que opera o trajeto Marechal Hermes - Ramos. Segundo a digitadora, ela precisa pegar duas conduções para chegar ao trabalho, na Vila da Penha, na mesma região. "Me sinto muito desrespeitada. Os ônibus simplesmente pararam de circular. Além do trabalho, preciso ir para a fisioterapia. Meu dilema é sempre o mesmo: andar sem poder ou pagar mais uma passagem", reclama. Apesar de contestação, quatro veículos que supostamente deveriam operar nesta linha estão registrados junto à SMTR.
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Na opinião do especialista em transportes, Alexandre Rojas, o ciclo de precariedade envolvendo os ônibus já ocorre há anos. Segundo ele, seria necessário acabar com a corrupção para que o sistema funcionasse com qualidade. "Este tem sido um problema de muito tempo. Não adianta aplicar multas se os responsáveis se recusam a pagar. Tem toda uma cadeia, que envolve diversos setores e isso precisa acabar. Só assim teremos um serviço digno para a população", avalia.

Em nota, o Rio Ônibus, informou que, mesmo com todas as dificuldades, o setor de transporte por ônibus do Rio está empenhando esforços redobrados para normalizar o sistema o quanto antes. AInda de acordo com o sindicato, "diante da pior crise econômico-financeira da história, 14 empresas encerraram as atividades nos dois últimos anos, forçando o acionamento sistemático de planos de contingência para manter a frota mínima exigida e o atendimento à população. Por fim, o Rio Ônibus diz que o apoio da sociedade e do poder público é fundamental para que o sistema não entre em colapso total, ainda este ano.