Leandro recebendo prêmio 'Plumas e Paetês 2018' como melhor aderecista junto com o carnavalesco Edson Pereira. Reconhecimento pelo trabalho na Viradouro, que disputou a Série A - Reprodução Facebook
Leandro recebendo prêmio 'Plumas e Paetês 2018' como melhor aderecista junto com o carnavalesco Edson Pereira. Reconhecimento pelo trabalho na Viradouro, que disputou a Série AReprodução Facebook
Por O Dia
Rio - Carnavalescos que trabalharam diretamente com o aderecista Leandro Santos de Oliveira, reforçam a indignação diante de sua prisão pela acusação de homicídio. Ele foi preso em 27 de maio com base em um reconhecimento feito por foto de rede social, conforme mostra o inquérito, ao qual O DIA teve acesso, além das acusações de familiares e amigos.

O carnavalesco Paulo Menezes, que atualmente está na Gaviões da Fiel, de São Paulo, trabalhou durante 20 anos com Leandro e a relação profissional, interrompida em 2015, se tornou uma grande amizade.

"No carnaval, eu conheço várias pessoas que não gostam de várias pessoas. Em todo o tempo que trabalhamos juntos, eu nunca conheci alguém que não goste do Leandro. A gente estava o tempo todo junto. Em 20 anos, você conhece a personalidade de uma pessoa. Eu ponho a minha mão no fogo de que o Leandro não tem nada a ver com isso", defendeu.
Leandro e Paulo Menezes (destacados) no barracão da Paraíso do Tuiuti, em foto de 2000 - Arquivo Pessoal


Ele também contesta a forma com aconteceu a prisão do aderecista. “É um absurdo a pessoa ser reconhecida por uma foto no Faceboook. A testemunha falou que ele tinha tatuagem e não tem nenhuma”, questionou, afirmando que, da mesma forma que a rede social ajudou a “identificá-lo”, poderia ajudar a encontrá-lo, pois ele foi dado como foragido.

“Ele nunca recebeu nenhuma notificação e do nada é preso. Tinha um mandado, que ele estava foragido, mas no próprio Facebook tem o local de trabalho dele. Por que não foram na Vila Isabel (escola de samba)? Ele nunca se escondeu de ninguém, não vivia como uma pessoa foragida, se fosse não colocaria na rede social onde trabalha”, falou.
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Galeria de Fotos

Leandro fazendo prova de roupa na atriz Dill Costa, em foto de 2014 na Mocidade Arquivo Pessoal
Leandro (meio) e Paulo Menezes (direita) trabalham juntos por 20 anos e se tornaram amigos Arquivo Pessoal
Aderecista Leandro trabalhando no barracão da Mocidade, em 2005 Arquivo Pessoal


Menezes teme pela vida do amigo e tem sofrido desde que Leandro foi preso. “Nosso caso não era só relação de trabalho, era uma relação de amizade. Eu gosto muito dele, desde que aconteceu isso, não durmo direito, aquela angústia de querer ajudar a tirar do sofrimento. É uma situação muito ruim que todos nós, amigos e família, estamos passando”, disse, com a voz embargada.

Aderecista começaria preparativos para carnaval de 2020

Na semana em que foi preso, Leandro começaria os trabalhos para o carnaval de 2020 da Vila Isabel, escola para qual trabalha desde 2018 e é diretor de alegoria. Segundo o carnavalesco da agremiação, Edson Pereira, o aderecista é uma referência na sua função de exemplo de bom funcionário.

"Ele está fazendo bastante na falta. Ele é premiado, esse ano nas matérias de vídeo, todas eu coloquei ele porque é uma referência de bom profissional, o que mais se adequava, uma referência de bom funcionário, todos os lugares públicos que eu ia, Leandro estava comigo", explicou Pereira.
Leandro Santos sendo apresentado na Vila Isabel pelo carnavalesco Edson Pereira a Milton Cunha no 'Esquenta do RJTV', da TV Globo. Ele foi diretor de alegorias na escola e começaria a trabalhar no carnaval 2020 na semana em que foi preso - Reprodução TV


O carnavalesco ressaltou as qualidades de Leandro, uma pessoa identificada como "extremamente pacífica e de conduta exemplar" . "Ele trabalha comigo há três anos, não grita, não fala alto com ninguém" contou, preocupado em como o preso está reagindo ao tempo na cadeia.

“Não sou eu só que estou falando que ele é não inocente, mas todos que trabalham com ele. Nós sabemos da conduta dele e os fatos indicam isso. Ele nem tatuagem tem, não tinha proximidade da vítima. A gente sabe, conhece as pessoas, Ele é dedicado à família e estamos preocupados com isso, porque não é o ambiente que condiz com sua conduta, ele não está acostumado com isso. Todos aqui na Vila estão motivados para sua volta, porque ele faz muita falta”, contou Edson Pereira.

Leandro está na Cadeia Pública Frederico Marques, em Benfica, e está trabalhando na cozinha, de acordo com Fábio Wanderley, seu advogado. “Na medida do possível, com toda a dificuldade, ele está bem. Trabalhar é até uma forma de ele não ficar com a ‘cabeça virada’. “Isso só prova o quanto é uma pessoa digna”, disse o carnavalesco da Vila Isabel.
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Polícia Civil não comenta investigação
Procurada e questionada sobre a forma como a investigação que prendeu Leandro foi conduzida, a Polícia Civil não respondeu às perguntas da reportagem. "O caso já foi relatado à justiça", se limitou a dizer, através de nova.
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O DIA espera resposta do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), também questionando sobre a investigação e porque ofereceu denúncia contra Leandro, mesmo com a fragilidade da investigação.
Leandro é acusado pela morte de Luiz Fernando Armando de Abreu, assassinado a facadas dentro de casa em 10 de março de 2017, no bairro do Anil, em Jacarepaguá. O DIA teve acesso ao inquérito policial que concluiu que Leandro é o assassino. Na madrugada do crime, a principal testemunha, uma vizinha da vítima, ouviu gritos do apartamento dele e foi ver o que estava acontecendo.
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No depoimento, ela afirma que um homem moreno, alto, com uma tatuagem em um dos antebraços, abriu a porta e falou que não estava acontecendo nada, que era uma "briga de casal". Mas Leandro, preso pelo crime, é negro, não tem tatuagem e possui estatura mediana.
"A pessoa que o reconheceu disse na polícia na época que o assassino tinha tatuagem no antebraço, mas o Leandro não tem nenhuma tatuagem, isso é gritante. Ela também apontou Leandro como namorado da vítima, mas as pessoas que conheciam a vítima disseram que ele não era namorado do Luiz Fernando. Isso foi totalmente ignorado", explicou o advogado Fábio Wanderley, que defende Leandro.
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Uma outra vizinha que trabalhava no local onde Luiz Fernando almoçava quase que diariamente, falou em depoimento que conversou com ele um dia antes do crime. A vítima disse a ela que estava namorando, mostrou foto do suposto companheiro e disse que ele passaria o fim de semana em sua casa. Na delegacia, ela falou que Leandro não é o homem que Luiz Fernando mostrou na foto.