A atriz e bailarina Arielle Macedo como Pequena Sereia. Projeto Identidade - Faya/Divulgação
A atriz e bailarina Arielle Macedo como Pequena Sereia. Projeto IdentidadeFaya/Divulgação
Por Bernardo Costa
A próxima versão do filme ‘A pequena sereia’ terá uma atriz negra como protagonista. O anúncio foi feito na última semana pela Disney, que escalou a cantora Halle Bailey para o papel de Ariel. Mas a Pequena Sereia já foi negra, e aqui no Brasil. Há dois anos, a atriz e bailarina Arielle Macedo viveu o personagem infantil no Projeto Identidade, que fotografou personalidades nacionais negras no papel de ícones do imaginário popular, todos de pele branca.
A iniciativa foca na representatividade do negro, assim como a página do Facebook Senti na Pele e a marca de bonecas Era uma Vez o Mundo: ações de impacto social que tentam fortalecer o conceito na sociedade.
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O sambista Jorge Aragão encarnou um simpático Papai Noel negro - Studio Faya/Divulgação
O Projeto Identidade, idealizado pelos atores Orlando Caldeira e Noemia Oliveira, se vale de personagens emblemáticos da cultura ocidental para mexer com o senso comum e levar o público a refletir sobre o racismo. A exposição de fotos esteve em cartaz no Sesc Madureira, em 2014, e no Parque das Ruínas, em 2016. Os organizadores buscam patrocínio para nova exposição.
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"Talvez o bom velhinho não tivesse o nariz tão afilado assim e nem mesmo o cabelo incrivelmente liso", questiona o sambista Jorge Aragão, que posou para fotos caracterizado como Papai Noel: “Gosto de confrontar o lugar comum, onde a cor da pele de quase 100% de nossos ícones, santos e ídolos é branca”.
A atriz Mariana Nunes: Mona Lisa - Studio Faya/Divulgação
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NAS TELAS DE CINEMA
Antes do ensaios fotográficos, Orlando e Noemia gravaram depoimentos em vídeo dos artistas da exposição. O material dará origem a um documentário, que também depende de apoio para chegar aos cinemas. "A força das imagens é capaz de fazer o público pensar. Por que não uma princesa ou uma heroína negras? Isso mostra que a gente aprendeu errado. Fizemos questão de destacar o que trazíamos de diferente para personagens emblemáticos”, diz Noemia.
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Foi assim que Monalisa virou ‘Monacrespa’ no ensaio da atriz Mariana Nunes. "O espectador se coloca numa posição de aceitar novas possibilidades, longe dos limites que ainda são impostos aos negros", diz Mariana.
Projeto Senti na Pele recebe denúncias de racismo pelo Facebook - Matheus Frigols
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RELATOS VIRAM LIVRO E TESE
Em 2015, na tentativa de conter uma onda de arrastões nas praias da Zona Sul, a polícia decidiu montar blitzes para revistar os ônibus que partiam da Zona Norte em direção à orla. As ações motivaram uma postagem do jornalista Ernesto Xavier, que viralizou. Nela, Xavier evidenciava o racismo contido na atitude.
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O texto gerou ataques. Mas também mensagens de apoio, que deram origem à página do Facebook ‘Senti Na Pele’, e um livro homônimo. “Publicamos mensagens de vítimas que mostram o racismo nas mais variadas situações”, diz Ernesto, que vai defender tese de Mestrado na UFF com base nos relatos.
Jaciana e Leandro Melquiades, fundadores da Era Uma Vez o Mundo e da primeira loja só de bonecas negras do Brasil - Divulgação
 
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BONECAS NA LUTA CONTRA O RACISMO
Na Rua dos Andradas, no Centro do Rio, quando mães negras entram com suas filhas na loja Era uma Vez o Mundo, é comum ficarem emocionadas ao ver as prateleiras repletas de bonecas negras. Jaciana Melquiades, a criadora das bonecas, começou a produzi-las para decorar o quarto do filho e, em pouco tempo, viu a atividade se tornar um negócio de impacto social.
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“Nossa geração só brincou com bonecas brancas, louras e de olhos claros, no estilo Barbie. Crescemos sem esse referencial, de uma criança negra que poderia ser bela”, ressalta Jaciana, que prepara o lançamento de uma coleção de bonecas com o figurino de cinco profissões: "Quem disse que a negra não pode ser médica ou empresária?".
Jaciana criou a marca de bonecas negras Era uma Vez o Mundo: representatividade - Divulgação