Mônica e Lorani venceram as drogas e voltaram ao convívio familiar - Cléber Mendes
Mônica e Lorani venceram as drogas e voltaram ao convívio familiarCléber Mendes
Por Maria Luisa de Melo e Waleska Borges
Após dois anos perambulando pelas ruas do Centro do Rio, onde consumia drogas, Mônica dos Santos Costa, de 34 anos, conheceu o Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps-AD) Miriam Makeba, em Ramos. Foi ali que encontrou o apoio e o cuidado necessários para sua recuperação. Depois de um ano de tratamento, voltou para sua casa, na Baixada Fluminense, e retomou o convívio familiar. Sua história de superação é parecida com a de outros moradores de rua e usuários de álcool e drogas que não precisaram ser internados compulsoriamente.
Quem também encontrou a transformação através de um Caps foi Lorani Sadatelly, 45 anos. Ex-moradora de rua e ex-usuária de cocaína, ela faz tratamento há cinco anos, para evitar recaídas.
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“Conheci o Caps por acaso, quando uma mulher, na rua, me perguntou onde o centro ficava. Meu tratamento começou com um prato de comida. Daquele dia em diante a minha vida se transformou”, lembra Lorani, que hoje mora em uma Unidade de Acolhimento.
Já a solução para a dependência química de Léo Motta, 38 anos, veio por uma comunidade terapêutica. Depois de viver seis meses na rua, ele procurou a ajuda de agentes do Centro Presente, que o indicaram para a Associação Solidários Amigos de Betânia, em Jacarepaguá. Léo conta que ficou até uma semana sem banho, além de ter vivenciado a situação precária dos abrigos do município:
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“Algumas vezes até conseguia vaga nos hotéis sociais. Mas era uma dificuldade, tinha que chegar bem cedo para conseguir uma senha. E perdia horas na fila aguardando para não perder a vaga”.
Após ser acolhido pela Amigos de Betânia, ele se livrou da dependência química e conseguiu emprego. Recuperado, sua história foi contada em uma rede social, atraindo 30 mil seguidores, e também rendeu o livro ‘Há vida depois das marquises’, que estará em setembro na Bienal do Livro.

Assim como Mônica e Lorani, Léo rechaça as internações compulsórias defendidas pelo governador Wilson
Witzel. Especialistas explicam que a internação forçada só deve ser realizada em casos extremos.
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“A internação deve acontecer se o dependente estiver em surto ou ameaçando sua vida ou de outra pessoa”, pontua a coordenadora da Comissão de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria, Ana Cecília Marques. “Nos demais casos, é preciso que haja uma sensibilização para tratamentos em ambulatório, que funciona com 50% a 60% dos pacientes”. Ela ressalta, ainda, que, para garantir a efetividade do tratamento, os ambulatórios precisam ter equipes multidisciplinares completas, com psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, entre outros profissionais.

Medidas de acolhimento
Defensora pública do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, Carla Beatriz opina no mesmo sentido. Ela aponta medidas de acolhimento que podem evitar a necessidade de internação forçada. “A presença do morador nas ruas já é um ‘start’ (começo) para a loucura. Os Centros de Atenção Psicossociais e os abrigos existentes não são suficientes para atender a demanda existente. Precisam ser ampliados”.
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Sérgio Alarcon, psiquiatra e doutor em Saúde Pública pela Ensp/Fiocruz, indica que as internações compulsórias para esse público não respeitam a diversidade dessa população, que não é homogênea.
“Produz mais desordem social, dor e sofrimento. Afinal, tratam-se de pessoas vulneráveis, sem emprego formal, com redes precárias ou ausentes de apoio social e familiar”.
Prefeitura cortou recursos voltados para ações psicossociais
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Depois de o governador Wilson Witzel (PSC) dizer que vai promover a internação forçada de moradores
de rua usuários de drogas, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) voltou ao assunto na quarta-feira e prometeu uma parceria. A promessa foi de criar centros de triagens com avaliações de médicos, assistentes sociais e
psicólogos daqueles que forem retirados das ruas.
No entanto, dados sobre os gastos municipais indicam que, só no último ano, a prefeitura cortou R$ 64,2 milhões das ações voltadas para atenção psicossocial. No ano passado, o orçamento dispunha de R$ 209,4 milhões para tais ações. Este ano, a cifra caiu para 145,2 milhões. O levantamento foi feito pela vereadora Teresa Bergher.
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Segundo funcionários das unidades, o corte reflete no dia a dia dos pacientes. “Há relatos de redução
do número de refeições em várias unidades, contrariando a Portaria 336, de 2002. Como você vai manter um paciente num centrose você não tem comida? A prefeitura precisa resolver isso”, denuncia Cintia Teixeira, membro do Fórum de Saúde Mental. Ela denuncia, ainda, demissões de farmacêuticos e demora na reposição de medicamentos.
Procurada para dar explicações sobre os problemas, a Prefeitura negou cortes e demissões. Sobre os
medicamentos, a Secretaria Municipal de Saúde alega que os remédios “estão em processo de compra”.
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"É um retrocesso", critica paciente que passou dez anos internado
A internação compulsória defendida por Witzel arrepia o aposentado Milton Freire, de 73 anos. Ele passou dez anos internado em manicômio por ter esquizofrenia. Hoje, é atendido em um Centro de Atenção Psicossocial. “Não podemos tolerar nenhum tipo de internação forçada, nem de usuário de drogas nem de quem sofre de transtornos. É um completo retrocesso”, criticou. “O Caps é um ambiente onde circula o afeto e não a humilhação. Por isso, funciona”.
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Ex-dependente química, a cantora Kátia Cilene, de 51 anos, conta que se recuperou das drogas em tratamento ambulatorial. “Internar forçosamente relembra o Trem dos Loucos”, criticou, em referência aos doentes mentais enviados para o hospital-colônia de Barbacena (MG). Frequentadora do Instituto Municipal Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, ela faz questão de mostrar onde os doentes mentais ficavam encarcerados. "Prender alguém num lugar como este pode ser chamado de tratamento?”, questiona ela.  
Comissão flagra problemas
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A Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores fez uma vistoria, ontem, no Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas Mané Garrincha, no Maracanã, na Zona norte do Rio. No local, as equipes constataram que, dos dois psiquiatras que atendem na unidade, só um foi encontrado. A outra profissional estava de licença-maternidade e não foi substituída. Além da falta de um profissional, o grupo constatou que a parte de infraestrutura também sofria de problemas. Um dos banheiros não tinha pia, sabão nem papel.
Algumas paredes da unidade tinham mofo e rachaduras, e três pessoas dormiam ao ar livre, em bancos
no pátio principal. “Só vemos os recursos diminuírem. Mas a tendência é de que a demanda aumente. Isso não pode continuar assim. Vamos denunciar essa situação para o Ministério Público”, prometeu a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, Teresa Bergher (PSDB).
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Procurada, a Prefeitura informou que as providências para os reparos no CAPSad Mané Garrincha serão tomadas.
Saiba onde procurar ajuda: 
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Atualmente, a rede de saúde mental do Município do Rio de Janeiro dispõe de 34 Centros de Atenção Psicossociais (Caps). Algumas unidades são voltadas especificamente para o tratamento de dependência
química. São os chamados Caps-AD (Álcool e Drogas). Os Caps-AD II são voltados para o atendimento diário de dependentes adultos. Já os Caps-AD III têm funcionamento 24h por dia, durante toda a semana, oferecendo, inclusive, a possibilidade de acolhimento noturno para quem procura seus serviços.
CAPS II – atendimento diário de adultos

CAPS II Carlos Augusto da Silva (Magal)
Área de atendimento: Manguinhos, Maré, Benfica e Tuiuti 
Avenida Dom Hélder Câmara, 1.390, fundos – Manguinhos
Tel.: 2201-0180/ 97002-1427.


CAPS II Ernesto Nazareth
Área de atendimento: Ilha do Governador (AP 3.1)
Av. Paranapuã, 435 – Freguesia, Ilha do Governador
Tel.: 3367-5145


CAPS II Fernando Diniz
Área de atendimento: Olaria, Ramos, Bonsucesso (AP 3.1)
Rua Leopoldina Rego, 754 – Olaria
Tel.: 3867-1319


CAPS II Clarice Lispector
Área de atendimento: Méier e adjacências (AP 3. 2)
Rua Dois de Fevereiro, 785A – Encantado
Tel.: 3111-7490 / 3111-7411


CAPS II Dircinha e Linda Batista
Área de atendimento: Guadalupe, Anchieta, Osvaldo Cruz e adjacências (AP 3.3)
Rua Jornalista Hermano Requião, 447
Tel.:2475-4917


CAPS II Rubens Corrêa
Área de atendimento: Irajá, Madureira, Vila da Penha e adjacências (AP 3.3)
Rua Capitão Aliatar Martins, 231 – Irajá
Tel.: 3833-3340 / 3833-3341.


CAPS II Lima Barreto
Área de atendimento: Bangu e Padre Miguel (AP 5.1)
Av. Ribeiro Dantas, 571 – Bangu
Tel.: 3462-5449


CAPS II Neusa Santos Souza
Área de atendimento: Sulacap, Senador Camará, Deodoro e Magalhães Bastos (AP 5.1)
Rua Baalbeck, 75 – Senador Camará
Tel.: 3523-8640


CAPS II Pedro Pellegrino
Área de atendimento: Campo Grande, Santíssimo e Guaratiba (AP 5.2)
Praça Major Vieira de Mello, 13 (fundos) – Comari, Campo Grande
Tel.: 3394-2583


CAPS II Profeta Gentileza
Área de atendimento: Inhoaíba e parte de Campo Grande (AP 5.2)
Estrada de Inhoaíba, 849 – Inhoaíba
Tel.: 3402-6835


CAPS II Simão Bacamarte
Área de atendimento: Santa Cruz, Paciência e Sepetiba (AP 5.3)
Av. Senador Camará, 224 - Santa Cruz
Tel.: 3365-8775 / 3395-0898.


CAPS III – atendimento 24 horas (diurno, noturno e nos finais de semana)

CAPS III Franco Basaglia
Área de atendimento: Glória, Catete, Laranjeiras, Cosme Velho, Botafogo, Urca, Humaitá, Copacabana e Leme (AP 2.1)
Avenida Venceslau Brás, 65, fundos – Botafogo
Tel.: 2542-6761.


CAPS III Maria do Socorro Santos
Área de atendimento: Rocinha, Vidigal, São Conrado, Gávea, Ipanema, Lagoa e Jardim Botânico (AP 2.1)
Estrada da Gávea, 520 – Rocinha.
Tel.: 3322 6368.


CAPS III João Ferreira Filho
Área de atendimento: Complexo do Alemão (AP 3.1)
Estrada do Itararé, 951 – Ramos
Tel.: 2270-8688.


CAPS III Torquato Neto
Área de atendimento: Abolição, Pilares, Engenho da Rainha, Tomás Coelho, Todos os Santos, Higienópolis, Jacarezinho (AP 3.2)
Estrada Adhemar Bebiano, 339 - Del Castilho
Tel.: 3111-6720 / 3111-7139


CAPS III EAT Severino dos Santos
Área de atendimento: Jacaré, Rocha, Sampaio, São Francisco Xavier, Riachuelo (AP 3.2)
Rua Dois de Fevereiro, 635
Tel.: 3111-7452 / 3111-7456

CAPS III Arthur Bispo do Rosário
Área de atendimento: Jacarepaguá (AP 4.0)
Estrada Rodrigues Caldas, 3400 – Taquara, Jacarepaguá
Tel.: 2456-7537 / 341-5608 / 3412-5619
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CAPS III Manoel de Barros
Área de atendimento: Barra, Recreio, Vargem Grande, Vargem Pequena, Curicica e Camorim (AP 4.0)
Avenida Nossa Senhora dos Remédios, s/nº – Taquara
Tel.: 3432-2246/ramal 2211


CAPSi II – atendimento diário de crianças e adolescentes

CAPSi II Maurício de Sousa
Área de atendimento: Centro e parte da Zona Sul (APs 1.0 e 2.1-parte)
Av. Venceslau Brás, 65 fds – Botafogo.
Tel.: 3873-2416


CAPSi II Visconde de Sabugosa
Área de atendimento: Ilha do Governador, Penha e adjacências (AP 3.1)
Av. Guanabara s/n. – Praia de Ramos – Ramos.
Tel.: 3884-9635


CAPSi II Maria Clara Machado
Área de atendimento: Méier e adjacências (AP 3. 2)
Rua Honório, 461 – Todos os Santos.
Tel.: 3111-620 / 3111-4168 / 3111-7139


CAPSi II Heitor Villa Lobos
Área de atendimento: Madureira e adjacências (AP 3.3)
Rua Padre Manso s/nº – Madureira.
Tel.: 3018-2201


CAPSi II Eliza Santa Roza
Área de atendimento: Barra e Jacarepaguá (AP 4.0)
Rua Sampaio Corrêa, 105, Taquara – Jacarepaguá
Tel.: 3412-5601 / 3412-5605.


CAPSi II Pequeno Hans
Área de atendimento: Bangu, Realengo e adjacências (AP 5.1)
Rua Carlos Pontes, s/n – Jardim Sulacap
Tel.: 3355-3887.


CAPSi II João de Barro
Área de atendimento: Campo Grande e Santa Cruz (AP 5.2 e 5.3)
Estrada do Campinho, s/n – Santa Margarida, Campo Grande
Tel.: 3394-2668.


CAPSad II – atendimento diário a usuários de álcool e outras drogas

CAPSad II Mané Garrincha
Área de atendimento: Tijuca e adjacências (AP 2.2)
AV. Professor Manoel de Abreu, 196 – Maracanã
Tel.: 2284-6339 / 2284-6860.


CAPSad II Júlio César de Carvalho
Área de atendimento: Campo Grande e Santa Cruz (AP 5.2 e 5.3)
Rua Severino das Chagas, 196 – Santa Cruz
Tel.: 3156-9277.

CAPSad III – atendimento 24 horas (diurno, noturno e nos finais de semana)


CAPSad III Miriam Makeba
Área de atendimento: Bonsucesso, Ramos e Maré (AP 3.1)
Rua Professor Lacê, 485 – Ramos
Tel.: 3889-8441


CAPSad III Raul Seixas / UAA Metamorfose Ambulante
Área de atendimento: Méier e adjacências (AP 3. 2)
Rua Dois de Fevereiro, 785 – Encantado
Tel.: 3111-7512 / 3111-7507


CAPSad III Paulo Portela
Área de atendimento: Madureira e adjacências (AP 3. 3)
Rua Pirapora, 69, Madureira
Tel.: 2452-2130


CAPSad III Antônio Carlos Mussum / UAA Cacildis
Área de atendimento: Barra e Jacarepaguá (AP 4.0)
Rua Sampaio Corrêa, s/nº – Taquara, Jacarepaguá
Tel.: 3523-8546 / 3412-8356


CAPS das redes estadual e federal
CAPS II UERJ (estadual) / Policlínica Piquet Carneiro
Área de atendimento: Tijuca e adjacências (AP 2.2)
Av. Marechal Rondon, 381 – São Francisco Xavier
Tel.: 2334-2371 / 2334-2372

CAPSi II Carim (federal)
Área de atendimento: parte da Zona Sul e Tijuca (AP 2.1-parte e 2.2)
Av. Venceslau Brás, 71 fds – Botafogo
Tel.: 3938-5574


CAPSad II Centro-Rio (estadual)
Área de atendimento: parte da Zona Sul (AP 2.1)
Rua Dona Mariana, 151 – Botafogo.
Tel.: 2334-8109