Treinamento do batalhão do exército com cães no Complexo penitenciário de Bangu, Zona Oeste - Ricardo Cassiano
Treinamento do batalhão do exército com cães no Complexo penitenciário de Bangu, Zona OesteRicardo Cassiano
Por GUSTAVO RIBEIRO
Rio - No dia 12 de abril deste ano, um funcionário da padaria da Penitenciária Industrial Esmeraldino Bandeira, no Complexo de Gericinó, em Bangu, tentava entrar com drogas, quando latidos denunciaram a atitude suspeita. O homem correu, mas acabou pego por agentes e admitiu ter descartado o entorpecente. Foi demitido. No dia 5 de junho, embaixo de uma pedra no estacionamento do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no mesmo complexo, foi encontrada uma balança de precisão que seria usada para separar droga. Em novembro de 2015, um fugitivo do presídio Evaristo de Moraes, em São Cristóvão, deixou os chinelos perto de uma passagem subterrânea do zoológico para disfarçar o local da fuga, mas um faro apurado apontou que o detento havia escapado por outro lado.
Em todos os casos, os responsáveis por auxiliar na localização de material ilícito ou na captura de presos em fuga não eram agentes penitenciários humanos, mas 'xerifes' de quatro patas do time do Grupamento de Operações com Cães (GOC) da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio (Seap). O órgão conta com dez cães em atividade no canil, sediado em Gericinó. A maioria é proveniente de doações. A pasta está fazendo licitação para comprar mais três animais até o final do ano. A quantidade é considerada pequena, porque o trabalho é dividido para as 50 penitenciárias do estado, que reúnem cerca de 53 mil presos.
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Entre as ações praticadas pelos peludos, está a de proteção e contenção, que consiste no uso dos animais para evitar a fuga de presos durante transferências ou em situações em que os detentos são retirados temporariamente das celas. Os caninos também agem em conjunto com o Grupamento de Intervenções Táticas (GIT), a tropa de elite da Seap, no controle de motins ou rebeliões e auxiliam no resgate de reféns. "Se eu entrar com um cão desse, querendo te pegar, babando, você vai para cima? Preso nenhum vai. É mais fácil o preso ir para cima de um combatente tentar a sorte do que de um cachorro querendo mordê-lo, porque sabe que se morder é para machucar", ressalta a chefe do GOC, Lucia Helena Pimentel Rangel.
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Militares soltam grito de guerra 'Obrigado, Bruce' para o cão xerife - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
Já os cachorros treinados para o faro são utilizados na procura de drogas, armas, munição, celulares e até chips que entram irregularmente nos presídios ou mesmo para evitar a entrada. "O cão fareja lugares que o homem não consegue enxergar. Temos a vantagem de colocar o cachorro dentro de uma unidade e ele vai encontrar o material proibido dentro de um bueiro ou outro lugar que não estamos vendo", explica Lucia.
As estrelas do GOC
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A pastora holandesa Katrina e os pastores alemães Dox e Athena são os novatos da equipe, com menos de 2 anos de vida. Foi Athena quem achou a balança de precisão no estacionamento em Bangu. O mansinho Machida, da raça american staffordshire, e o brincalhão Paco, um pastor belga malinois, são os mais velhos, ambos com 8 anos, e estão prestes a se aposentar. A dupla brilhou nas ações do GOC. Machida foi um dos primeiros a terem o faro treinado para achar chips de celulares. Já Paco foi um exímio 'soldado' de busca e captura em mata, o mesmo que apontou a direção do preso que escapou em São Cristóvão.
Machida já pode ser adotado - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
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Veterano, Paco vai se aposentar - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
O pastor alemão Bruce e a malinois Aika têm 11 anos e não estão mais no time atuante. Acometido por quatro hérnias, ele sente muitas dores e tem dificuldades para se locomover. Bruce escoltou presos famosos, como Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, quando o criminoso deixou o Complexo de Gericinó em direção ao Aeroporto do Galeão, de onde seguiria para presídio federal. Um glaucoma afastou Aika das missões. A guerreira trabalhava 'pra cachorro', em ações de faro, contenção e show dog (apresentações ao público). Os anciãos chegaram a ser oferecidos para doação, mas não conseguiram lar.
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Uma turma de alunos do curso Cães de Guerra do 1º Batalhão de Polícia do Exército (1º BPE) visitou a sede do GOC, no dia 8 de agosto, para conhecer o trabalho desenvolvido pela equipe. Se Bruce fosse humano, provavelmente seus olhos teriam se enchido de lágrimas ao ver um gesto emocionante dos rapazes diante do cão. Todos se abaixaram ao chão e fizeram flexões repetindo o grito de guerra: 'Obrigado, Bruce'.
Tecnologia facilita o treinamento de cães farejadores
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Recentemente, os agentes penitenciários passaram a usar um material conhecido como 'nose' no treinamento dos animais. São micropartículas que imitam o odor de entorpecentes, já que o uso de droga real depende de autorização judicial. Os cães só entram em cena quando o grupamento é acionado pela direção dos presídios ou pelo GIT.
Substâncias que imitam drogas são usadas para treinar os cães - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
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Segundo o agente penitenciário Alexandre Penna, adestrador do GOC, cada animal é direcionado para uma função de acordo com sua personalidade. "Algumas raças podem ser direcionadas para o trabalho de faro. A gente arremessa no mato o brinquedo que o cão mais gosta para trabalhar com a parte olfativa. Se ele vai achar ou não, nesse momento pouco importa. A gente está avaliando o tempo de busca dele", ressalta.
A Seap está em busca de tutores para adotar Machida e Paco. Os dois são saudáveis e sociáveis com adultos e crianças. Considerado ótimo cão de guarda, Paco precisa de um lar com muro alto, porque é 'fujão'. Interessados podem entrar em contato pelo telefone (21) 2333-5025 ou enviar e-mail para seapgoc@yahoo.com.br.