É quase um evento quando o engenheiro Ronaldo Neder, acompanhado da mulher, Daniella, passeia com o bichinho de estimação da família pela orla de Copacabana, na Zona Sul do Rio. Basta ele dar alguns passos para atrair olhares curiosos e gente de toda idade, que se aproxima do casal para saber mais sobre o pet da família.
"As pessoas mais perguntam: 'Que bicho é esse?' e também 'o que ela come?'. Já a chamaram de coruja e até de urubu. E de urubu não foi só uma vez", diverte-se Ronaldo, de 62 anos, morador de Copacabana e dono de Malika, um gavião fêmea Parabuteo unicinctus (nome científico), popularmente conhecido como Gavião-asa-de-telha. O nome de "batismo" da ave de rapina, que tem 1 ano e seis meses, é de origem árabe: significa rainha.
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Parado a todo instante para matar curiosidade das pessoas, Ronaldo conta que já teve cachorro, papagaio e até já criou bicho da seda. Mas, quando quis ter um novo animal de estimação, resolveu criar uma ave de rapina. "Acho um bicho imponente. Quando você compra já vem anilhada (marcação individual de aves) com autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Costumo andar com a nota fiscal no bolso para não ter nenhum tipo de problema", esclarece.
VALORES
Dependendo da espécie, o preço de uma ave pode variar bastante. No caso de um gavião, vai de R$ 2.800 (Gavião-asa-de-telha) até R$ 5 mil (Gavião-pedres). "É caro, mas a manutenção não achei. Ela não é uma coisa trabalhosa, até porque fica no viveiro/puleiro o dia inteiro se você deixar", explica.
O engenheiro conta que enfrentou uma certa resistência no início. "Meus filhos falam: 'meu pai é louco', 'minha mãe é maluca'. Mas todo mundo gosta, os amigos também. Falam, falam, mas se amarram", diverte-se.
Sim, o banho é um capítulo à parte. Ronaldo coloca uma bacia de tamanho médio para Malika, que se banha sozinha. Mas não é todo dia. Uma vez por semana é o suficiente. "Ela se seca no sol", diz.
A alimentação da ave de rapina requer um cuidado especial. Carnívora, ela se alimenta basicamente de codorna, rato e até pintinho de um dia de vida. "O pintinho pode estar vivo. Os outros, dou abatido para não misturar doença, porque codorna pode estar má de saúde".
Enquanto Ronaldo conversa com a reportagem, banhistas e turistas se aproximam intrigados com a "amizade" entre o engenheiro e Malika. "As senhoras de idade são as mais atenciosas, elas querem passar a mão e adoram", afirma.
No entanto, ele lamenta a questão do tempo dedicado ao animal. "Ela precisa voar mais, se exercitar. Os exercícios que faço é o que a gente chama mais de vertical. Quando vou dar comida, faço ela vir na luva e voltar para o lugar dela. Precisaria levar ela mais a campo, voar. Mas aí é aquele negócio: ou você faz falcoaria ou trabalha. No fim de semana, ela aproveita aqui, ou a gente a leva para a Lagoa", diz.
ROTINA
O dia a dia de Malika é tranquilo. Ela tem um viveiro para chamar de seu. "Bem grande, com dois metros de comprimento, por um de largura e um de altura. Ela fica ali mais por esse meu medo que ela se solte", conta Ronaldo.
O receio dele não é gratuito. Entre o Natal e o Ano Novo de 2018, a ave tirou o nó da corda de proteção e voou para o prédio vizinho. A mobilização parou a rua, e todos ajudaram. Outro episódio foi quando Neder chegou em casa e tinham três gaviões agarrados no lado de fora do viveiro, enquanto Malika estava dentro.
Periodicamente, o gavião faz exame de sangue e visita a veterinária. Uma vez, a ave estava papuda, e o engenheiro ficou preocupado, mas foi só ingestão de muita água. Segundo ele, a ave não oferece perigo a estranhos. "Ela não ataca. O perigo é ela querer pousar na pessoa e machucar. Se ela se assustar, vai tentar subir em um lugar mais próximo. Pode arranhar o rosto de alguém, por exemplo. Mas ela não parte para cima", garante Ronaldo, que não pretende arrumar um par para Malika.
"Não é simples colocar dois animais juntos. Eles precisam de tempo para se conhecer. Senão, começam uma agressão. Geralmente a inseminação é fora. Recolhe o sêmen e injeta na fêmea", frisa ele, acrescentando que a ave pode viver até 30, 35 anos. "Já falei para os meus filhos que vou deixar a Malika como herança", brinca.