José Luiz de Oliveira Filho, morto por uma bala perdida no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio, foi enterrado no domingo no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
José Luiz de Oliveira Filho, morto por uma bala perdida no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio, foi enterrado no domingo no Cemitério São Francisco de Paula, no CatumbiReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Por Beatriz Perez

Uma triste rotina voltou a se repetir em um cemitério do Rio: dezenas de pessoas carregaram um caixão para enterrar mais uma vítima da violência ontem à tarde, no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi. O choro de parentes e amigos que sepultaram o corpo do lanterneiro José Luiz de Oliveira, de 27 anos, baleado na sexta-feira em meio a um tiroteio no Complexo do Lins, escancara a dor por trás das estatísticas, que apontam aumento de 32% nesses casos em comparação ao mesmo período de 2018.

Um levantamento feito pela plataforma Fogo Cruzado registrou 33 vítimas fatais de bala perdida na Região Metropolitana do Rio neste ano, média de uma morte a cada sete dias. Nesse período, outras 86 pessoas sobreviveram. Ao todo, foram 119 baleados em dados coletados até sábado.

Para o sociólogo Ignacio Cano, membro do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, o aumento de mortes por bala perdida está relacionado à estratégia adotada pelo governo estadual, que prioriza o confronto. "A política de extermínio que sempre existiu no Rio agora virou política oficial e aberta, com o governador incentivando as polícias a matar pessoas. O aumento de vítimas de bala perdida é consequência de tiroteios em áreas povoadas. Querer acabar com os bandidos e achar que isso vai resolver a criminalidade é uma ilusão. Mas é essa a ilusão que o governo está vendendo", critica.

Eliana Sousa, diretora da ONG Redes da Maré, concorda. "Falta inteligência e planejamento. Não dá para resolver simplesmente matando as pessoas. Não está claro qual é a política de segurança que esse governo quer implantar", avalia.

Procurada, a assessoria de imprensa do governo do Estado disse que não comentaria a morte de José Luiz de Oliveira ou o aumento no número de mortos por bala perdida.

TIROS NA LINHA DO TREM

Os confrontos armados também assustam e interrompem a viagem de quem usa o trem para se deslocar diariamente pela Região Metropolitana do Rio. A SuperVia já registrou 48 interrupções temporárias da circulação dos trens em função de tiroteios nas imediações da via férrea neste ano.

Ao todo, foram 51 horas e 28 minutos de alterações na operação dos veículos. As estações mais atingidas foram as de Manguinhos (ramal Saracuruna), com 18 interrupções; Jacarezinho (ramal Belford Roxo), com nove; e Senador Camará (Santa Cruz), com sete paradas.

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