Orquestra da Grota forma crianças e adolescentes da comunidade - reprodução
Orquestra da Grota forma crianças e adolescentes da comunidadereprodução
Por O Dia
Rio - A comunidade que hoje chora a perda do jovem Dyogo Costa Xavier de Brito, de 16 anos, morto com um tiro nas costas durante operação policial, é a mesma que há 25 anos planta um caminho de esperança para suas crianças e adolescentes através da música. A Orquestra de Cordas da Grota transforma a vida de gerações de pequenos moradores da Grota do Surucucu, em São Francisco, na Zona Sul de Niterói.
O projeto surgiu na década de 1980, a partir do sonho da professora Otávia Paes Selles de mudar a realidade de quem vivia em situação de vulnerabilidade social, com atividades de complementação pedagógica, como horta comunitária e trabalhos manuais para crianças, adolescentes e seus parentes. Em 1995, o filho de Otávia, o músico Marcio Selles, passou a ministrar aulas de flauta doce para uma turma de apenas quatro alunos, que com o tempo se popularizou e acolheu outras crianças.
Publicidade
Para Marcio, a música mudou a perspectiva de jovens que passaram pelo projeto e os ajudou a se entenderem como indivíduos. “A música serviu para abrir novas perspectivas de vida e para eles saberem que é possível se inserir na sociedade e ampliar sua visão de mundo. Aprendendo música, eles vão construindo sua própria identidade dentro do grupo. Essa sensação de pertencimento a um grupo é importante”, contou o músico, que vê na arte a melhor maneira de combater a violência:
“Eu já estou lá (na Grota) há 50 anos e o confronto. A invasão e os tiros não construíram nada, não modificaram nada, pelo contrário. Fica todo mundo em pânico e o que se ganha com isso? Já chegou a época de pensar em uma outra abordagem, em que a arte pode ajudar. Um pouquinho que você pode oferecer, uma oportunidade que você dá pode mudar uma história”.
Publicidade
Para a professora de música e produtora cultural Alexandra Seabra, de 29 anos, o projeto foi “a melhor coisa que aconteceu” em sua vida. Aos 10 anos, a orquestra se apresentou na escola onde ela e a irmã estudavam, próximo à comunidade da Grota, e sua mãe decidiu que elas fariam as aulas de música para não ficarem sozinhas em casa.
“Com 10 anos, eu comecei com a flauta, depois virei monitora e, aos 18, ganhei uma bolsa para estudar na faculdade do conservatório Brasileiro de Música”, orgulha-se. Já a irmã de Alexandra, a assistente social Monique Seabra, de 28, também estudou música durante oito anos no projeto, mas usou sua vocação para ajudar de outra forma.
Publicidade
Suplente da gestão do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Niterói, entre 2014 e 2019, atua como articuladora e consultora de captação de recursos na orquestra. “Nas escolas, quando eu digo que sou da (Orquestra) Grota já consigo trabalho. O projeto virou referência em educação musical”, afirma Alexandra.

Projeto exporta talentos
Dirigida por Lenora e Márcio, com a produção de Alexandra Seabra, a Orquestra de Cordas da Grota, hoje, conta com mais de 200 alunos. O projeto se tornou Patrimônio Imaterial de Niterói e coleciona momentos inesquecíveis. Em 2006, os seis jovens que iniciaram o projeto participaram do IV Annual Gala, um jantar beneficente em Nova York.
Publicidade
Em 2008, o grupo fez turnê pela América Central. Atualmente, alunos estudam em diversos lugares mundo afora, como Estados Unidos e Moçambique.
Uma delas, Kely Pinheiro, ganhou uma bolsa integral na mais renomada escola de música contemporânea do mundo, a Berklee, em Boston. A jovem já está nos EUA há quase um ano e é ajudada pelo projeto e pela Associação do Banco do Brasil.

Da estagiária Rachel Siston, sob supervisão de Clarissa Monteagudo