As alunas Carine Abreu, Amanda Barros e Flávia Cunha e a professora Mônica Azzariti participam do projeto acadêmico que
ajuda a combater o crime de sequestro - Estefan Radovicz
As alunas Carine Abreu, Amanda Barros e Flávia Cunha e a professora Mônica Azzariti participam do projeto acadêmico que ajuda a combater o crime de sequestroEstefan Radovicz
Por GUSTAVO RIBEIRO
Rio - No início de julho, chegou ao fim da linha uma quadrilha formada por cinco suspeitos de sequestrar o filho de um vereador de Teresópolis. O rapaz, de 26 anos, foi feito refém por oito horas, em dezembro, em uma casa em Paciência, Zona Oeste do Rio, e só foi libertado após o pagamento de resgate.
Um projeto acadêmico, inédito no estado, parceria do curso de Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida (UVA) com a Delegacia Antissequestro (DAS), permitiu à polícia chegar ao grupo. Trata-se de um banco de dados inteligente que armazena os áudios de ligações feitas pelos bandidos e traça o padrão de fala dos sequestradores. Uma artilharia tecnológica para identificar os autores dos crimes.
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Desenvolvido pela fonoaudióloga Mônica Azzariti, professora da UVA, o sistema Áquila (‘águia’, em latim, o símbolo da DAS) permite aos investigadores reconhecer, pela voz, sequestradores.
Segundo Mônica, muitas vezes um suspeito que já foi reconhecido, preso ou que prestou depoimento em outra ocasião volta a praticar o crime. Os telefonemas de pedidos de resgate ficam armazenados e podem ser acessados a partir da busca por características da fala e comportamentais. Os perfis são traçados por três alunas da Fonoaudiologia da UVA, estagiárias do projeto. Já foram cadastrados os perfis de 60 envolvidos em crimes ocorridos nos últimos dez anos.
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Numa investigação, mesmo que os policiais não reconheçam o sequestrador pela voz, eles conseguirão recorrer ao sistema pesquisando os marcadores descritos na decupagem dos áudios, como sotaque e vícios de linguagem (como a repetição das palavras ‘daí’, ‘então’, ‘né’). O sistema também guarda características da comunicação não verbal, como, por exemplo, reações de um indivíduo quando mente.
“Temos questões relacionadas à articulação, características de desvios articulatórios, velocidade de fala. Algumas pessoas são mais orais, outras mais nasais. A gente consegue fazer um raio x desse comportamento e descrever (o suspeito)”, explica Mônica, que se inspirou no banco de dados do FBI, a polícia federal americana. Para o delegado titular da DAS, Claudio Góis, o programa pode servir de inspiração para outras unidades policiais.
Ele explica como o sistema foi importante para a elucidação do sequestro do filho do vereador de Teresópolis.
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“Essa quadrilha fazia sequestros-relâmpago. Tomamos conhecimento de que ela teria feito um sequestro que não foi comunicado. A partir daí, usamos o programa para ajudar a compilar os dados e efetuamos a prisão”, comenta o policial.

Sequestro virou ‘um mau negócio’ no Estado do Rio
O crime de extorsão mediante sequestro (sequestro clássico), investigado somente pela DAS, vem caindo. Em 2003, 2004 e 2005, os primeiros anos da série histórica do Instituto de Segurança Pública (ISP), foram registrados, respectivamente, 15, 10 e 10 casos, média de 11,6 ocorrências por ano. Em 2016, 2017 e 2018, foram 12, 8 e 4 registros, média de 8 por ano.
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O sequestro clássico tem escolha de local de cativeiro e pedido de resgate. Já os sequestros-relâmpago, falsos sequestros e roubos com momentânea privação de liberdade podem ser investigados pelas delegacias de área.
“A DAS conseguiu resolver essa questão de que sequestro é um bom negócio. Sequestro é um mau negócio”, comenta Mônica Azzariti. Para as estagiárias do projeto Áquila, a experiência é desafiadora. “Quando vi a matéria sobre a prisão da quadrilha, eu pensei que, como cidadã, consegui contribuir com o que eu tinha de conhecimento. É uma sensação impagável”, diz Carine Abreu, de 21 anos, aluna do 8º período.
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“Quando começamos a trabalhar num áudio, não temos noção do que aconteceu no caso, é uma adrenalina forte”, conta Amanda Barros, 20, do 7º período. Flavia Cunha, 32, também do 7º período, uniu duas paixões: “Antes de entrar para Fonoaudiologia, eu gostava muito de perícia criminal. Quando eu soube que podia atuar nessa área, fiquei encantada”.