Para a advogada Paula Lindo, circunstâncias devem ser esclarecidas - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Para a advogada Paula Lindo, circunstâncias devem ser esclarecidasEstefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Thuany Dossares
Rio - Familiares do pedreiro José Pio Baía Júnior, de 45 anos, estudam processar o Estado do Rio, caso se comprove em laudo pericial que o tiro que o matou foi disparado pela Polícia Militar. Os parentes acreditam que PMs do 14º BPM (Bangu), atiraram nele por engano, ao vê-lo trabalhando numa laje da favela Vila Kennedy, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, na manhã de terça-feira. “Foi precipitação da policial com falta de preparo. Isso define a tragédia”, afirmaram os irmão da vítima.

A advogada da família, Paula Lindo, reforçou que, pelo que ela apurou, não existe outra possibilidade a não ser um tiro disparo por um agente do Estado.

Segundo parentes do pedreiro, ele foi atingido pelas costas e morreu ainda no local. “Meu irmão morreu com um prego na mão e o martelo do lado. A arma dele era um martelo. Acreditamos que confundiram ele com algum bandido por ele estar na laje, mas meu irmão era trabalhador. Ele foi executado”, afirmou o irmão da vítima, Janilson Baía.
Josimar Baía, um dos irmãos, do pedreiro José Pio Baía Junior, morto enquanto trabalhava na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio - Estefan Radovicz / Agência O
De acordo com familiares e testemunhas, no momento em que José foi baleado, a operação policial já havia sido praticamente encerrada e os PMs já estavam de saída da comunidade. Eles ainda contaram que a troca de tiros entre agentes e traficantes havia acontecido momentos antes, em outro ponto da Vila Kennedy.

“Eu moro lá também, mas na hora estava trabalhando. O que todos falaram foi que a viatura já estava saindo da comunidade, os policiais estavam praticamente na Avenida Brasil, quando viram meu irmão e os dois ajudantes na laje. Alguns PMs saíram da viatura e uma policial mulher, uma loira, pelo que contaram, atirou de baixo para cima, em direção a laje, o tiro entrou pelas costas e saiu quase na garganta. O pessoal começou a falar que era trabalhador. Falaram que ela sentiu que tinha feito besteira, aí eles entraram na viatura e foram embora”, narrou Janilson.
Publicidade
Pedreiro foi atingido enquanto trabalhava numa laje, perto do conflito - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
ADVOGADA DA FAMÍLIA REFORÇA POSSÍVEL ERRO DO ESTADO

A família ainda não teve acesso ao resultado do exame de necropsia realizado no Instituto Médico Legal (IML) de São Cristóvão. Mesmo assim, os irmãos de José acreditam que a PM tenha atirado contra o pedreiro. A advogada deles, Paula Lindo, declara que as circunstâncias precisam ser analisadas com rigor, mas que mesmo assim o Estado deve ressarcir a família do pedreiro.

“Existe um relato de um erro de uma agente do Estado e em decorrência desse erro, a gente precisa verificar as medidas cabíveis. A princípio, o Estado tem que ressarcir, pelos prejuízos causados, foi uma vida que foi ceifada. O rapaz era trabalhador, sem antecedentes criminais, pedreiro, querido na comunidade, hoje deixa cinco filhas. A situação é muito triste”, disse Paula Lindo.

Para a advogada, os relatos dos moradores não deixam dúvidas da culpa do Estado, na morte do pedreiro. “Ele foi alvejado de costas para a Avenida Brasil, então do que a gente escuta, não existe outra possibilidade a não ser um disparo feito por um agente do Estado. O laudo pericial ainda não saiu. No local, comenta-se que foi um único disparo, realizado por trás e a perfuração saiu na altura do pescoço”, afirmou Paula.
Manifestantes incendeiam ônibus na Avenida Brasil, altura da Vila Kennedy, contra morte de morador - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicidade
A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na manhã desta terça-feira (3/9), policiais 14º BPM (Bangu), realizavam uma operação na comunidade Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, na saída da Avenida Brasil, quando criminosos armados atiraram contra os militares. Posteriormente, o comando o batalhão foi informado que um homem estaria ferido.

Em nota, o Governo do Rio lamenta a morte de vítimas inocentes em ações policiais. As operações realizadas pelas polícias, acrescenta, são pautadas por informações da área de inteligência e seguem protocolos rígidos de execução, sempre com a preocupação de preservar vidas. "Todas as mortes decorrentes de intervenção de agente público são apuradas. Caso comprovado algum excesso, são aplicadas punições previstas em lei", finaliza.
Publicidade
Júnior foi baleado na cabeça - Arquivo Pessoal
MINEIRO, JOSÉ SERÁ ENTERRADO EM SUA CIDADE NATAL

José era o mais velho de cinco irmãos. Mineiro, nascido no distrito de Cachoeira Alegre, na cidade Barão de Monte Alto, ele veio para o Rio de Janeiro em 1997 e desde então morava na Vila Kennedy.

“Ele era um homem muito bom de coração, amável, querido. Não media esforços para ajudar o próximo, estava sempre à disposição para ajudar os outros. Era muito trabalhador, sempre era muito requisitado porque todo mundo elogiava o trabalho dele”, finalizou.

O pedreiro era pai de cinco filhas e também deixa um neto de apenas um ano.

O enterro de José acontecerá em sua cidade natal, em Minas Gerais. “A prefeitura da nossa cidade nos ofereceu ajuda para levarmos o corpo para lá”, contou o irmão.
Publicidade
O Governo do Estado disse que a Secretaria de Estado de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência está em contato com parentes de José Pio Bahia Júnior para prestar todo auxílio possível e vai providenciar o traslado do corpo para Minas Gerais, conforme desejo manifestado pela família.
NOTA DE POSICIONAMENTO DO GOVERNO DO ESTADO DO RIO:

A Secretaria de Estado de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência está em contato com parentes de José Pio Bahia Júnior para prestar todo auxílio possível e vai providenciar o traslado do corpo para Minas Gerais, conforme desejo manifestado pela família. 

O Estado lamenta a morte de vítimas inocentes em ações policiais. As operações realizadas pelas polícias, que têm como principal objetivo localizar criminosos e apreender armas e drogas, são pautadas por informações da área de inteligência e seguem protocolos rígidos de execução, sempre com a preocupação de preservar vidas. Todas as mortes decorrentes de intervenção de agente público são apuradas. Caso comprovado algum excesso, são aplicadas punições previstas em lei.