'Era responsabilidade do estado zelar pela integridade dele', diz advogado da família de jovem encontrado morto em cela
Caso aconteceu na 32ª DP (Taquara). Justiça autorizou pedido de exumação do corpo para apurar circunstâncias da morte
Marcos Vinícius Gouvea Gomes foi encontrado morto, quinta-feira, numa cela da 32ª DP (Taquara)Reprodução do Facebook
Por Natasha Amaral
Rio - A Justiça do Rio autorizou, durante plantão judiciário na madrugada desta quarta-feira, o pedido de exumação do corpo de Marcos Vinícius Gouvea Gomes, de 33 anos, encontrado morto em uma cela da 32ª DP (Taquara) na última quinta-feira (29). Inicialmente, o pedido de exumação havia sido negado, mas o advogado da família do jovem morto, Leonardo Silva Pinto, protocolou petição em segunda instância, que foi deferida pelo desembargador Siro Darlan.
"Fizemos o pedido de exumação junto ao plantão judiciário da primeira instância, que foi indeferido. A partir disso, entramos com recurso (em segunda instância) para o desembargador de plantão – que deferiu o pedido. Ele entendeu o que estava acontecendo, teve sensibilidade em entender a história mal contada pela polícia. Era responsabilidade do estado zelar pela integridade dele", disse Leonardo.
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No momento em que Marcos Vinícius teria cometido suicídio, um outro detento dividia a cela. "Não tivemos acesso a um possível depoimento desse rapaz, que foi encontrado dormindo. Ele foi preso por um crime de menor gravidade e foi liberado no dia seguinte durante audiência de custódia. O inquérito é por natureza sigiloso, mas, considerando o caso, a sociedade tem direito de saber o que a polícia anda fazendo. O depoimento dele vai ser peça fundamental para o desfecho do caso", disse o advogado.
Na decisão do desembargador, que também autorizou um novo exame na camisa que teria sido usada na asfixia do jovem, Siro Darlan afirmou que "os documentos trazidos demonstram que as circunstâncias da morte são no mínimo nebulosas". "Trata-se de morte violenta ocorrida no interior de unidade de Polícia Civil do Estado e a declaração de óbito se limita a descrever asfixia mecânica, sendo estarrecedor a notícia que havia outra pessoa na mesma cela e que não ouviu nada do que ocorreu. É dever do Estado zelar pelos seus acautelados e no caso em espécie e dever esclarecer as circunstâncias da morte".
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Marcos, que era dependente químico, foi preso por estar dirigindo embriagado ou sob efeito de drogas; provocar acidente de trânsito e fugir do local e estelionato – ele parou para abastecer em um posto de gasolina e pediu ao frentista para colocar R$ 10 de combustível, mas não tinha dinheiro.
Questionado sobre quais serão os próximos passos, o advogado afirmou que a família vai aguardar o inquérito e lutar para que tudo seja esclarecido. "O fato dele ter sido usuário de drogas não pode minimizar a responsabilidade do Estado. Vamos aguardar. A corregedoria da Polícia Civil está investigando o caso e, como o inquérito é sigiloso, estão se esquivando de maiores informações. Acreditamos que algo muito nebuloso tenha acontecido e vamos descobrir", finalizou.
O autônomo Marcos Vinícius Gouvea Gomes, de 33 anos, foi encontrado morto na quinta-feira, em uma cela da 32ª DP (Taquara), na Zona Oeste do Rio. Segundo a versão da Polícia Civil, ele teria se enforcado com a própria camisa, presa na janela. Laudo do Instituto Médico Legal (IML) comprovou a morte por "asfixia mecânica".
O rapaz, que morava com a família no Cachambi, teria se envolvido em uma confusão no trânsito após voltar de um encontro em Jacarepaguá. Descontrolado, ele arremessou objetos contra policiais e foi conduzido à delegacia mais próxima, onde acabou sendo preso. Marcos estaria sob efeito de álcool ou substância entorpecente, segundo os policiais.
Em nota, a Polícia Civil informou que instaurou inquérito para apurar a morte. "Segundo informações, a 32ª DP (Taquara) instaurou inquérito para apurar a morte de um preso que se enforcou com a própria camisa dentro de uma cela na delegacia. O fato ocorreu na última quinta-feira (29/08). Também foi aberta uma sindicância administrativa interna".