Prédio que abriga o setor IBIO da Universidade - Reprodução/Internet
Prédio que abriga o setor IBIO da UniversidadeReprodução/Internet
Por Jenifer Alves*
Rio - A aluna Ana Guinodi, que estuda Ciências Ambientais na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), precisou voltar para casa com a filha de dois anos, após ter uma aula cancelada, nesta segunda-feira. O caso aconteceu na unidade de Botafogo, na Zona Sul do Rio. A jovem, de 25 anos, saiu da sala durante uma explicação para pedir à menina que fizesse silêncio e, quando voltou, foi avisada sobre a decisão do professor. Ao questionar o motivo aos colegas de classe, eles informaram que o docente estava incomodado com a criança.
Ana explica que notou o professor a encarando ao deixar a sala para atender à menina. "Eu respondi que tenho uma filha e preciso estudar", contou.
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Rebecca Moura, de 22 anos, aluna do 8º período de Ciências Ambientais da Unirio, foi à coordenação relatar o ocorrido e, segundo ela, o professor também foi ao local reclamar da jovem que estava com a criança. "Ele chegou lá falando alto. Disse que estava impossível dar aula porque tinha uma criança de dois anos chorando. Falou ainda que tinha uma aluna abusada e reclamou da resposta dela quando disse que era mãe e tinha que estudar", conta. A estudante diz que o professor cancelou a aula para evitar discutir com a mãe da bebê.
A jovem entrou na faculdade no primeiro semestre de 2015 e está no 6º período. Segundo ela, nunca houve objeções sobre a presença da filha em sala de aula. "Essa foi a primeira vez que tive problemas com um professor por levar a minha filha. Os outros sempre nos receberam muito bem", explica.
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A aluna intercala sua semana entre o Grajaú, na Zona Norte, onde o pai da menina vive, Santíssimo, na Zona Oeste, onde mora sua família, e Botafogo, na Zona Sul, para assistir às aulas. Ela conta que a rotina é pesada e que às vezes precisa levar a menina para a aula. "Não tinha com quem deixá-la e faltar a aula na faculdade não era uma opção", disse.
Por conta do ocorrido, a jovem decidiu abandonar a disciplina e substituir por outra matéria. "Nesse dia voltei para casa aos prantos. Liguei para a direção do Instituto de Biociências e falei com o diretor. Eu estava na rua, com minha filha no colo, visivelmente abalada. No dia seguinte fui à faculdade, mas não assisti às duas aulas que estavam programadas. Eu não tinha ânimo para estudar", desabafou ao DIA.
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Com medo de represálias dentro da universidade, Ana preferiu não revelar o nome do docente pois, segundo ela, o professor tem grande influência dentro da instituição. 
A Unirio informou que o coordenador do curso foi informado verbalmente pela aluna sobre o caso e que foi orientada que para apuração do caso, ela deveria realizar uma denúncia formal, por escrito e que a universitária não realizou o procedimento. A Universidade destacou que apenas foi informada sobre o ocorrido pela estudante, sem acionamento por parte do professor. A instituição também esclareceu que desconhece a existência de qualquer restrição ao acesso de alunas e seus filhos às dependências da unidade.
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Caso semelhante
Em março de 2018, a aluna de Ciências Sociais, Waleska Maria Lopes, foi expulsa de uma aula na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) por estar acompanhada da filha cinco anos. O professor que lecionava, graduado e mestre em Ciências Sociais (UFRN), doutor (Universidade de Paris René Descartes) e pós-doutor em sociologia (UFRJ) Alípio Sousa Filho, teve um áudio vazado de quando falava com a turma sobre o caso após a aluna deixar o local. 
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O áudio foi massivamente compartilhado nas redes sociais. Nele, o professor diz que a estudante deveria repensar a escolha de estar na universidade por conta da filha: "Ela que encontre uma rede de solidariedade para cuidar da criança. Não consegue essa rede de solidariedade? Repense sua vida. Não tem que estar fazendo Ciências Sociais, não tem que estar estudando na universidade. Você só faz isso se tiver condições. Agora não vai impôr à instituição coisas que não são assimiladas pela instituição (…) 'ah, eu sou pobre, não tenho'. Problema seu, a universidade não tem problema com isso, se vire", disse.
Um ano e seis meses após o ocorrido, Waleska diz que continua frequentando as aulas, mas que não leva mais a menina. Ela explica que abriu um processo interno contra o docente: "Com muita dificuldade e corpo mole da universidade, depois de 1 ano e 4 meses o resultado saiu com uma punição pra ele de 5 dias de suspensão. E no processo tinha saído uma punição de advertência verbal pra mim" conta. Segundo ela, por conta do tempo para a decisão ser registrada, a sentença prescreveu.
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Waleska conta ainda que se sentiu perseguida após o caso: "Ele mandava pessoas ao meu prédio para perguntar sobre mim para os meus vizinhos, fez uma denúncia ao Conselho Tutelar, processou meus colegas e perseguiu professores que tentaram me ajudar", conta. 
Segundo a universitária, a vontade de desistir passou por sua cabeça diversas vezes: "Deu vontade de desistir em alguns momentos pq sentia que estavam minando a minha vida aqui. Tive que fazer tratamento psicológico pra dar conta de tudo na minha cabeça", desabafou ao DIA.
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A aluna continua estudando na UFRN e precisou entrar com um pedido para que a instituição a permitisse substituir matérias que o profissional lecionasse por aulas com outros professores. 
O professor nega todas as acusações da aluna.
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*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes