Faixa oferecia internet pirata em São Gonçalo. Após denúncias do DIA, traficantes a retiraram das ruas - Reprodução
Faixa oferecia internet pirata em São Gonçalo. Após denúncias do DIA, traficantes a retiraram das ruasReprodução
Por ANDERSON JUSTINO e BRUNA FANTTI

Rio - Não é somente em São Gonçalo, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que traficantes da facção Comando Vermelho (CV) coagiram moradores a aderirem à internet pirata gerenciada pelo grupo criminoso, conforme O DIA denunciou. Após a reportagem, informações de que o mesmo crime está sendo cometido no bairro de Piratininga, em Niterói; e em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio, foram relatadas ao jornal.

"O condomínio, inicialmente, não recebia sinal de nenhuma operadora que não fosse a empresa X, com péssimo sinal de internet. Em janeiro, entrou uma empresa grande, com excelente serviço. Mas (traficantes) cortaram o sinal de várias unidades do condomínio. O meu corte ocorreu agora em outubro", afirmou uma moradora de Piratininga, que preferiu não se identificar.

Já em Vicente de Carvalho, um morador, que também optou pelo anonimato, disse que já fez denúncia à polícia. "Já tinha desistido de ver alguém falando sobre esse absurdo. Todos os cabos da única operadora que aqui podia prestar serviços foram cortados. Do mesmo jeito que fizeram lá em São Gonçalo. Estamos sem telefone fixo e sem internet por aqui. Fomos obrigados a assinar a internet deles. Estamos há oito meses denunciando à polícia e ao Ministério Público, mas nada. É um absurdo. Além do gás, claro, que já somos obrigados a comprar com o tráfico", relatou o homem.

Segundo o titular da 27ª DP (Vicente de Carvalho), Edu Guimarães, o caso já está sendo apurado. "Temos uma investigação nesse sentido, mas não podemos revelar ainda por não estar concluída e correr em segredo de Justiça", afirmou.

Os pacotes de internet oferecidos pela organização variam em velocidade e preço. Além de cartazes espalhados pelas ruas, funcionários da 'empresa' fazem o serviço boca a boca, indo nas portas das casas entregando panfletos.

De acordo com moradores, as pessoas flagradas cortando os fios e destruindo as caixas de internet são as mesmas que oferecem a prestação de serviço logo depois do vandalismo.

Há dois dias, a matéria publicada com exclusividade pelo DIA denunciou a ação de traficantes do Comando Vermelho apoderando-se do serviço de internet em vários bairros de São Gonçalo. A audácia dos criminosos já atinge quase 110 mil moradores de pelo menos dez bairros. Após a publicação, vários deles foram ameaçados por traficantes e tiveram seus celulares vasculhados.

Empresários acuados entre tráfico e milícia

Um território na mira de duas organizações criminosas do Rio: milícia e tráfico de drogas. Não é de hoje que os serviços de internet vêm se tornando a válvula de escape para que essas gangues consigam obter ganhos extras e, assim, seguirem no poder. Para que isso aconteça, pequenas empresas prestadoras de serviço são assediadas nessa disputa. Há dois modos de agir, segundo as denúncias: os traficantes oferecem parceria e divisão dos lucros. Já a milícia impõe um valor mensal a ser pago pela empresa, ela arrecadando ou não o montante exigido.
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"As grandes empresas conseguem se manter, porque elas estão em um patamar diferenciado. Os pequenos empresários são acuados e não têm muito o que fazer. Há duas opções para eles: ou aceitam ou aceitam. Vários acabam perdendo suas empresas, porque não querem compactuar com a criminalidade", revela um consultor do setor de telecomunicações, que presta serviços para pequenas empresas do Rio.
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Muitos empresários não denunciam nem fecham a empresa, por medo, ela fica ativa e, quando investigada, consta como lícita e com CNPJ regular. Segundo a denúncia, essa prática tem se tornado cada vez mais comum e há informação de que seja no país todo.
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"O que acontece é que a maior parte dessas pequenas empresas está em áreas controladas por essas gangues. Não tem para onde fugir", conclui o consultor.
 
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O Ministério Público do Estado disse que as informações foram passadas para a Promotoria de Investigação Penal (PIP/MPRJ) de São Gonçalo. As polícias Civil e Militar não se pronunciaram até o fechamento desta edição.
 
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