Carretas são abastecidas por grandes navios em Terminal Portuário da multinacional Cosan, na Ribeira. Elas saem do local carregadas de combustíveis e passam pela Estrada do Galeão
 - Fotos de Ricardo Cassiano
Carretas são abastecidas por grandes navios em Terminal Portuário da multinacional Cosan, na Ribeira. Elas saem do local carregadas de combustíveis e passam pela Estrada do Galeão Fotos de Ricardo Cassiano
Por Waleska Borges

Rio - Um movimento diário de cerca de 250 caminhões-tanque e carretas bi-trem, algumas delas carregadas com produtos inflamáveis, cruzam a Estrada do Galeão, única via de acesso à Ilha do Governador. Os veículos - com 12 milhões de litros de combustíveis - seguem até o Terminal Portuário da multinacional Cosan, na Ribeira. No local, eles são abastecidos por combustíveis de grandes navios. Preocupados, moradores temem riscos tecnológicos (acidentes industriais), como explosões, incêndios e vazamentos de resíduos tóxicos.

De acordo com levantamento do Movimento Baía Viva, uma organização não governamental, coordenado pelo ambientalista Sérgio Ricardo, a Ilha do Governador concentra 33 pontos críticos das 92 áreas de riscos tecnológicos na cidade. A situação é agravada, segundo ele, por esses veículos que circulam pelas vias do bairro. Ele lembra ainda que a Ilha abriga diversas instalações de elevado risco de acidentes, incêndios ou explosões devido a estocagem no solo urbano e em ilhas do seu entorno de material explosivo, inflamável ou tóxico e de depósitos de material bélico.

"Não podemos permitir, de braços cruzados, mais uma tragédia em nosso bairro. A Ilha, com mais de 200 mil habitantes, não dispõe de um Plano de Contingência para eventual desastre industrial", alertou o ambientalista, lembrando da explosão de paióis de munição da Marinha, em 1995.

De acordo com moradores, há cerca de três anos, tem aumentado o número de carretas circulando em direção à Cosan. Os veículos estariam destruindo o asfalto das vias urbanas e aumentando os engarrafamentos. Além disso, conforme Sérgio Ricardo, o porto da Cosan opera grande volume de carga e descarga de combustíveis próximo ao Rio Jequiá, que pode ser contaminado em caso de vazamento.

Em fevereiro, o Baía Viva protocolou representação junto à Procuradoria Geral da República e ao Ministério Público Estadual (MP-RJ), solicitando providências quanto ao problema. De acordo com o MP, foi instaurado o inquérito civil para apurar "eventual omissão do poder público com relação ao tratamento de risco ambiental decorrente de eventual desastre tecnológico na Ilha do Governador". O MPE pediu informações de órgãos públicos municipais e estaduais, estando a investigação pendente da prestação de informações pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), pela Secretaria Municipal de Urbanismo e pelo Baía Viva.

O Inea informou que a fiscalização do uso e ocupação do solo é de competência da Prefeitura do Rio. Segundo o instituto, o controle de circulação de vias cabe aos órgãos de transporte e trânsito. Já a Secretaria Municipal de Transportes disse que não tem responsabilidade sobre o problema, assim como a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. A prefeitura informou, por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo, que a empresa (Cosan) pode manter sua atividade no local, por estar em conformidade com o que dizem os decretos de Zoneamento Urbano do município. Essa informação, porém, é rebatida por Sérgio Ricardo: "Houve uma expansão ilegal das atividades da Cosan". O ambientalista assegura também que relatório da Secretaria de Urbanismo, anexado ao inquérito do MP, diz que a atividade realizada no local não é compatível com o zoneamento.

A Moove Lubrificantes (Grupo Cosan) informou que não foi formalmente intimada para se manifestar nos autos do inquérito. A multinacional nega expansão ilegal no território da empresa. Ainda de acordo com a Cosan, o grupo está estabelecido há mais de 100 anos na Ilha do Governador e não registrou ocorrências de acidentes relevantes com os seus transportes. Além disso, conta com um Plano de Emergência Individual, aprovado pelo Inea.

Conforme a empresa, atualmente, a operação de transporte destes produtos não chega a 8% do valor denunciado (12 milhões de litros de combustíveis por dia). "Reforçamos que o único combustível transportado no local pela Moove é o óleo diesel, que tem ponto de fulgor consideravelmente mais baixo que a gasolina ou o etanol", informou a Moove.

 

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