Whisqueria Quatro por Quarto - Gilvan de Souza / Agência O Dia
Whisqueria Quatro por QuartoGilvan de Souza / Agência O Dia
Por O Dia
Rio - O dono da boate Quatro por Quatro recebeu voz de prisão, na tarde desta sexta-feira, durante seu depoimento na CPI dos Incêndios na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A acusação contra o empresário Carlos Marinho é de falso testemunho. Ele foi conduzido para a 5ª DP (Mem de Sá). De acordo com a Polícia Civil, o homem foi conduzido à unidade, onde foi ouvido e liberado em seguida. Em depoimento, ele se retratou e se comprometeu a contribuir com as investigações.
O objetivo da sessão era  levantar dados sobre o incêndio ocorrido em 18 de outubro na whiskeria. Na ocasião quatro bombeiros morreram. Além dos donos da boate, havia representantes do Ministério Público, da Defensoria Pública, da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros.
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Marinho recebeu voz de prisão do presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura incêndios no estado, deputado Alexandre Knoploch (PSL), após entrar em contradição sobre o uso do espaço e as certificações que a casa possuía.
Knoploch argumentou que Carlos Marinho se contradisse por diversas vezes durante depoimento e que a Whiskeria estava com a documentação irregular. “De acordo com o artigo 342 do código penal, como testemunha, ele jurou falar a verdade, mas faltou com a verdade em vários momentos da oitiva. O falso testemunho infringiu o artigo penal”, disse o parlamentar. "Ele fez um termo se comprometendo em retornar à Alerj na próxima oitiva se retratando. Diante disso temos um acordo que extingue o processo", completou. 

Vice-presidente da CPI, o deputado Rodrigo Amorim (PSL) destacou que a ação mostra a seriedade do trabalho que vem sendo feito. Ele lembrou que na última sexta-feira chegou a ser aprovada a condução coercitiva do diretor do Hospital Badim, onde aconteceu um incêndio em novembro. "A grande lição que fica é que a CPI é séria, mostra a importância de tratar esse tema que busca salvar vidas", afirmou.

Contradição

Durante a oitiva, o proprietário da Whiskeria afirmou que utilizava os quatro pavimentos do estabelecimento como danceteria, quando a licença só permitia um, e admitiu que 16 quartos eram utilizados por massagistas autônomas e ainda por garotas contratadas por frequentadores para realizarem programas. Carlos chegou a dizer que não cobrava pelos quartos, mas depois afirmou que havia cobrança.

“Vamos levantar todos os documentos pedidos pela CPI e vamos encaminhá-los ao relator, deputado Jorge Felippe Neto (PSD). Continuaremos com as oitivas e as fiscalizações externas até o final do ano. Há inúmeros indícios documentais irregulares e a testemunha entrou em contradição várias vezes. Tudo que era possível foi infringido, e por isso aconteceu essa tragédia”, explicou Knoploch.

O subchefe operacional do corpo de bombeiros, coronel Sarmento, afirmou que local chegou a ser interditado em 2013 por critérios de perigo iminente. "O local não tinha certificado de registro desde 2010 e tinha um alvará que dava autorização para boate funcionar em apenas um pavimento", contou Sarmento. Segundo o coronel, no dia da ocorrência os bombeiros envolvidos no combate às chamas estavam com máscaras com boas condições de uso.

Início das chamas

Segundo José Duarte, delegado titular da 1ª DP (Praça Mauá), falta a conclusão do laudo pericial para a conclusão do inquérito, que ouviu sete funcionários. "O local não estava em funcionamento no momento do início das chamas porque isso começou por volta de onze da manhã e a casa só abria as três da tarde para o público. O incêndio partiu do quarto andar onde havia um depósito com material de limpeza. Uma funcionária identificada como Edna, se deparou com fumaça saindo de uma caixa”, explicou o delegado. Ele acrescentou ainda que duas das quatro vítimas fatais foram encontradas com os aparelhos conectados no rosto.

Já a médica legista e diretora do Instituto Médico Legal (IML), Gabriela Graça, afirmou na reunião que a causa da morte dos bombeiros que atuaram no combate ao incêndio da whiskeria foi queimadura de vias aéreas e intoxicação por monóxido de carbono. No entanto o laudo do IML ainda não foi concluído porque foi solicitado um exame específico que verifica a presença de cianeto no sangue das vítimas fatais. Segundo ela o resultado ainda não foi disponibilizado e a presença do cianeto vai esclarecer se o socorro foi prestado de forma correta aos bombeiros.

Os deputados Jorge Felippe Neto (PSD) e Bruno Dauaire (PRP) também participaram da reunião.
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Boate chegou a anunciar reabertura 
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A famosa casa de entretenimento para homens chegou a divulgar a reinauguração nas redes sociais. Mas, após ser questionado por O DIA, no último dia 17 de novembro, se os requisitos de segurança tinham sido atendidos, o Corpo de Bombeiros resolveu ir no dia seguinte ao local. Resultado: interditou o estabelecimento por ter constatado "risco iminente" e deu prazo de 30 dias para adequações em dispositivos fixos e móveis contra incêndio e pânico.

Na manhã de domingo, três funcionários faziam os últimos retoques na pintura da boate e confirmaram, à reportagem, a reabertura. Na página da Quatro por Quatro no Facebook, os clientes comemoravam a notícia. "Excelente novidade", postou um deles.

Na ocasião, o Corpo de Bombeiros explicou, que o espaço precisa ainda requerer o Certificado de Vistoria Anual, documento voltado para imóveis projetados para reunião de público. Ele tem validade de um ano e perde efeito caso os critérios definidos pela legislação sejam modificados ou descumpridos. "A corporação emitiu um auto de interdição (no que diz respeito à segurança contra incêndio e pânico) por ter sido constatado risco iminente, principalmente pela falta de manutenção de um sistema de pressurização da canalização preventiva", ressaltou a corporação.
A história da casa
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Inaugurada em 1995, a Whiskeria Quatro por Quatro é referência em "entretenimento para homens" no Centro do Rio de Janeiro, segundo a descrição da casa em uma rede social. A casa tem quatro andares, boates, saunas e bares. "Com ambientes sofisticados e atendimento personalizado, a casa recebe diariamente executivos, artistas e turistas à procura de um local descontraído onde possam se divertir, apreciando uma boa dose Whisky, deliciosos petiscos e outras coisinhas mais", diz o texto de divulgação.

O nome da casa ficou famoso nacionalmente ao ser citado em um dos sucessos de Mr. Catra, o funk "Adultério", versão da música "Tédio", do grupo Biquini Cavadão. Catra faleceu em setembro do ano passado em decorrência de um câncer gástrico.