Centro esportivo de resgate social, na Baixada, reúne mulheres que lutam diferentes modalidades - fotos: Fabio Costa
Centro esportivo de resgate social, na Baixada, reúne mulheres que lutam diferentes modalidadesfotos: Fabio Costa
Por Waleska Borges
Rio - "Lute como uma garota". A frase, que surgiu de uma campanha publicitária, bem que poderia ser usada por qualquer uma das mulheres do Projeto #Vemcer, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Além de preparar as empoderadas para se protegerem através de aulas de defesa pessoal, o projeto oferece aulas gratuitas de Muay Thai, Kickboxing, Judô, Jiu Jitsu e Luta Livre.
Neste domingo, Dia Internacional das Mulheres, as garotas do tatame mostram que estão prontas para o enfrentamento, da vida e das lutas. O projeto #Vemcer, que foi fundado em 2017, promove a prática esportiva integrada à cidadania e à solidariedade. São atendidos cerca de mil alunos da Baixada Fluminense.
Publicidade
E foi por meio deste projeto que Ingrid da Silva, de 28, viu a sua vida se transformar. Depois de ter sido demitida, a ex-funcionária de um telemarketing começou a sofrer de ansiedade e a se isolar."Eu só ficava nas redes sociais, dentro de casa e abalada emocionalmente. Depois da Luta Livre, mudei espiritual e emocionalmente", contou.
Quem também se encontrou nas mesmas aulas foi a técnica de enfermagem Juliana da Silva, de 26. Ela conheceu o projeto quando levava o filho de oito anos para as aulas de luta. "Esse projeto me abraçou. Mas ainda há muito preconceito. Ao postar minhas fotos lutando, nas redes sociais, recebi comentários do tipo: 'Isso aí não é lugar de mulher'. Então, respondo dizendo que o lugar da mulher é onde ela quer estar", revelou.
Publicidade
Há três anos no projeto Letícia Costa, de 16, agora tem a companhia da mãe Natália Ancelme, de 32, que trabalha como babá. "No começo, minha mãe e meu pai não queriam que eu lutasse. Eles tinham medo que eu me machucasse. Hoje, os dois mudaram de pensamento. Quero fazer isso para toda a minha vida".
A mãe da adolescente, Natália, conta que, atualmente, seu marido assiste às aulas dela e que ambos treinam juntos em casa: "Nunca tinha feito qualquer esporte. Hoje, fico impaciente se falto a alguma aula", constatou Natália.
Publicidade
Além de subir ao tatame para aprender as diferentes modalidades de luta, segundo a presidente do #Vemcer, Tatiana Figueiredo, as mulheres têm aulas das técnicas de defesa do Empoderadas - projeto coordenado por Érica Paes, ex-lutadora de MMA e campeã mundial de Jiu-Jitsu."O Empoderadas ensina mulheres a se protegerem da violência, em especial a doméstica. Em paralelo, fazemos ações de empoderamento feminino", explicou Tatiana.

Projeto nasceu com voluntários
O projeto #Vemcer, que não recebe apoio institucional, segundo a presidente Tatiana Figueiredo, surgiu da união de vários amigos. Eles decidiram realizar um trabalho voluntário de socialização por meio do esporte.
Inicialmente, as atividades eram voltadas para crianças e adolescentes. Com o passar do tempo, a abrangência foi ampliada para outros segmentos. "Muitas mulheres vinham trazer seus filhos, algumas ociosas. Então, elas foram inseridas no projeto", contou Tatiana.
Publicidade
Segundo a professora de luta livre Priscila Alves, além da ociosidade, algumas mulheres integram o projeto para melhora da auto estima e emagrecimento.

Técnicas ensinadas são capazes de salvar vidas

Através de aulas de prevenção e enfrentamento à violência, segundo a professora Gabriella Lacerda, de 26, as mulheres do projeto Empoderadas aprendem a se defender de chutes, estrangulamentos, puxões de cabelo, entre outras situações. "Aos poucos, essas mulheres vão se soltando e nos tornamos uma família", disse a professora.
De acordo Érica Paes, coordenadora geral do programa Empoderadas, do Governo do Rio, o projeto realiza ainda a promoção e conscientização dos direitos e as leis voltadas à proteção das mulheres. "Certamente, as técnicas de defesa pessoal e luta são capazes de salvar vidas, porém, o programa vai muito além disso", frisou.
Publicidade
Ainda segundo Érica, com o aumento da violência contra mulheres, há um fluxo natural delas em busca de defesa. "A mulher, ao longo do tempo, tem conquistado o seu espaço em diversos setores da sociedade. Porém, a luta da violência contra a mulher ainda é uma realidade", avaliou.
Quem quiser aprender algumas estratégias de defesa pessoal, também pode participar de um treino gratuito, em Vila Isabel, hoje, às 10h, na academia de artes marciais RTKD Esportes. As instruções serão dadas em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres. Inscrições pelo email: rtkd.esportes@gmail.com.
Publicidade
Para participar do treino, a equipe da RTKD Esportes pede a doação de itens de higiene e beleza, que serão doados a uma instituição que atende mulheres vítimas de violência doméstica e seus filhos.