Ana Beatriz Honório, técnica de enfermagem de 29 anos - Acervo Pessoal
Ana Beatriz Honório, técnica de enfermagem de 29 anosAcervo Pessoal
Por Gabriel Sobreira
Diariamente, vários profissionais de saúde curados da covid-19 estão retornando aos seus postos de trabalho. Como é o caso da enfermeira Nina Savoldi, que está no grupo de risco. Ela tem 62 anos, é hipertensa e tem diabetes. Ela está se recuperando e hoje (quarta-feira) tem consulta para saber se já pode voltar ao trabalho na segunda-feira como responsável técnica da enfermagem do Instituto Fernandes Figueira (IFF).
"Os meus familiares e eu ficamos receosos, com medo de uma nova contaminação. Mas a volta ao trabalho é um compromisso, responsabilidade,é sabido que os colegas estão sobrecarregados”, explica ela, que nesse retorno promete que será ainda mais cautelosa. “Vou voltar com muito mais cuidado, usando Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários,provavelmente não vou atender pacientes com covid, vou me envolver com questões em relação ao serviço de enfermagem de modo geral, e promoções de aleitamento materno, orientar gestantes e equipe", conta.
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Nina diz que durante o período em que esteve na UTI refletia frequentemente se ia sobreviver ou não. “Pensava sobre o que eu fiz da vida até aqui, quais as minhas falhas, o que fiz de bom. É como se fosse passar na cabeça um filme da infância, adolescência, vida adulta, se valeu a pena as coisas que adquiriu. É um momento de muita solidão, você fica isolado na UTI, não tem familiares perto, fica você, os profissionais e deus”, relembra em tom emocionado.
Aos 29 anos, a técnica em enfermagem Ana Beatriz Honório voltou ontem (terça-feira) ao trabalho em um hospital particular na Zona Norte do Rio. Isso 15 dias depois de ter conseguido a tão sonhada cura da doença. Para ela, o mais difícil foi o confinamento no quarto, não poder receber visitas.Quando questionada qual foi a reação da família ao avisar que voltaria ao trabalho, a carioca é bem direta. "Minha mãe não foi muito de acordo com minha volta, o resto da minha família está tranquila", justifica ela.
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"Essa foi uma das profissões que escolhi pra mim. Faço faculdade de Biomedicina. Foi o que eu escolhi, a vida continua. O fato de eu ter me contaminado foi só mais uma fase da minha vida, passou! As pessoas precisam da gente nesse momento”, defende Ana Beatriz, que reforça a admiração pelos colegas de trabalho. "Os profissionais que estão vivendo essa luta merecem muito mais do que nosso respeito e admiração", derrete-se.
Especializado em fisioterapia em terapia intensiva, dr. Ezequiel Pianezzola pegou a covid-19 no começo da pandemia e ele ficou bem assustado.Logo que manifestou os primeiros sintomas ficou afastado da família, não precisou ficar internado, mas teve febre por 10 dias ininterruptos, precisou tomar banho sentado. Ele voltou a trabalhar depois de 16 dias restabelecido.
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"Voltar a trabalhar era uma prioridade. Está na minha vocação primeiro exercer a minha profissão para ajudar o próximo e fazer com que mais pessoas possam passar por isso com a mínima possibilidade de sequelas assim como eu”, diz ele, que é e representante da Câmara Técnica do Crefito 2 e diretor da Assobrafir-RJ.
Pianezzola trabalha em um hospital particular diretamente na linha de frente com pacientes graves com covid-19 e em ventilação. “Temos toda proteção e cuidado com os EPIs, apesar de eu ter tido, eu me protejo assim como os que não tiveram. Todas as regras e normas de segurança são fundamentais para que eu não vá contrair de novo e nem carregar para disseminar esse vírus para outras pessoas. A nossa vocação é ajudar o próximo”, defende.
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Não há certeza sobre imunidade à covid-19, dizem especialistas
De acordo com a infectologista Tânia Vergara,presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro,ainda não se sabe se os anticorpos produzidos após a infecção pelo SARS- Cov-2 são capazes de conferir imunidade. "Se conferirem imunidade ainda é necessário saber por quanto tempo. Nem toda imunidade é permanente. Sendo assim, convém manter as medidas preventivas indicadas para todas as pessoas", defende ela.
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O epidemiologista Danilo Klein segue o mesmo raciocínio. Segundo ele, a história da medicina diz que para essas infecções gerais, o ser humano cria uma proteção, que varia de vírus. "Tem vírus que temos proteção permanente para o resto da vida. Tem vírus que a gente se infecta e cria uma proteção temporária e o novo coronavírus a gente ainda não teve tempo para saber se e temporária se de fato existe ou não", explica.
Para Klein, tal pensamento não deve ser usado como critério para alegar uma eventual imunidade. "Talvez em algum tempo daqui para frente a gente consiga olhar para trás, a gente consiga falar isso com mais certeza, afirmar que as pessoas possam voltar a trabalhar porque já pegaram o vírus e estão imunes. Mas hoje, até o presente momento, a gente não tem essa certeza. Então, ter anticorpo hoje para o coronavírus não é atestado ainda de imunidade", reforça o epidemiologista.