A comerciante Janaína Azevedo com o filho Heitor no consultório da pediatra Jessica Pinha - Gilvan de Souza / Agencia O Dia
A comerciante Janaína Azevedo com o filho Heitor no consultório da pediatra Jessica PinhaGilvan de Souza / Agencia O Dia
Por ANA CARLA GOMES
Acostumadas a conciliar as delícias e os desafios da maternidade à paixão pela medicina, a obstetra Paula Joazeiro, de 35 anos, e a pediatra Jessica Pinha, de 39,vivem um dia a dia sem rotina, em que, a qualquer momento, um chamado de parto pode alterar toda a programação delas, inclusive em família. No dia 3 de abril, durante estes tempos difíceis de pandemia do novo coronavírus, lá estavam elas juntas, mais uma vez, participando do sonho da comerciante Janaína Azevedo, de 33 anos, de dar à luz o pequeno Heitor. Foi a vida deste bebê quem proporcionou o encontro dessas três mulheres que, neste domingo, comemoram o seu Dia das Mães relembrando essa história e compartilhando o amor pelos filhos.
Heitor era um sonho antigo de Janaína e do marido, o também comerciante Adélio Martins, de 43 anos. Ela vinha de um longo processo tentando engravidar, depois de fazer uma cirurgia de endometriose. O casal resolveu recorrer à fertilização, bem-sucedida. E, durante a pandemia, Heitor acabou nascendo prematuro, com 34 semanas, e precisou ficar 16 dias na UTI. Um período que exigiu de Janaína muita garra e força para cuidar do filho durante todo o dia no hospital, voltando para a casa à noite. Foi uma luta para ela dar início à amamentação até o filho, finalmente, ter alta.
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"Quando eu tive alta e ele ficou, era como se tivessem arrancado um pedaço de mim.Depois, eu chegava ao hospital pela manhã para ficar com ele na UTI e só ia embora ao fim do dia para tentar descansar. Mas a cabeça não saía de lá, só pensando em voltar no dia seguinte", conta Janaína.
Ela lembra que o apoio das médicas Paula e Jessica, com mensagens a todo instante, foi fundamental. Do lado de lá do telefone, além de duas profissionais, estavam duas mães, que se revezam entre a Medicina e os afazeres da casa. Paula é mãe de Letícia, de três anos. "A Janaína é uma mãe muito guerreira, conseguiu lidar com a situação de o Heitor estar na UTI. Fico muito feliz e realizada profissionalmente e também pessoalmente, porque nos apegamos às pacientes", conta Paula.
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Jessica, mãe de Alice, de 10 anos, e Mariana, de 9, diz que a pediatria cria um vínculo muito forte e de confiança com os pais. "A Janaína foi uma mãe que precisou vir mais vezes porque o Heitor nasceu prematuro. Então, precisou de uma atenção maior e a relação ficou mais estreita", conta, certa de que está na profissão certa. "Não me imagino fazendo outra coisa, é o que eu amo".
"A minha rotina é não ter rotina", Jessica Pinha, pediatra e mãe de Alice, de 10 anos, e Mariana, de 9  
A pediatra Jessica Pinha com as filha Alice e Mariana
A pediatra Jessica Pinha com as filha Alice e MarianaArquivo Pessoal
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"Todos os meus dias são diferentes. A minha rotina é não ter rotina. Não estou todos os dias no mesmo lugar. Então, eu busco ter qualidade no tempo em que estou em casa com elas. Já aconteceu de eu sentar em casa para almoçar um nhoque com meu marido e, quando fui dar a primeira garfada, o telefone tocou. Era um parto e tive que sair correndo. Minhas filhas já se acostumaram. Sou a mãe que elas escolheram. No início, elas sofreram um pouco. Eu trabalhava num hospital que se chama Jesus e ela falavam para mim: 'Não vai para o Jesus'. Agora já entenderam".
 
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"O meu dia a dia é uma loucura", Paula Joazeiro, obstetra e mãe de Letícia, de três anos
A obstetra Paula Joazeiro com a filha Letícia, de três anos
A obstetra Paula Joazeiro com a filha Letícia, de três anosArquivo Pessoal
"Minhas pacientes estão nervosas, preocupadas com o atual momento, porque ainda não há muito estudo sobre coronavírus em gestantes. O meu dia a dia é uma loucura total. O tempo em que estou em casa eu estou trabalhando, com paciente e hospital me ligando. Mas a minha filha é muito boazinha e lida superbem. Fico com o coração apertado. E também tem o fato de eu estar sempre em ambientes com maior potencial de contaminação,  com o medo de transmitir alguma coisa".
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"Tive dificuldade de engravidar e muitos torciam", Janaína Azevedo, comerciante
A comerciante Janaína Azevedo em casa, com o filho, Heitor, que nasceu prematuro, no dia 3 de abril
A comerciante Janaína Azevedo em casa, com o filho, Heitor, que nasceu prematuro, no dia 3 de abrilArquivo Pessoal
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"Depois que o Heitor conseguiu sair do respirador e ele teve alta da UTI, parecia que era outro parto. Eu me arrumei e fiquei naquela ansiedade para ir buscá-lo. Estar em casa com o meu filho é um prazer. Estar no hospital era algo muito pior do que não poder sair de casa. Apesar de o CTI ser um lugar muito limpo e a equipe ter todos os cuidados, todos os pais ali estavam se expondo ao risco. Graças a Deus, agora eu consigo amamentá-lo e ele está ganhando peso. Muitos amigos estão doidos para poderem vê-lo porque tive uma história difícil de engravidar e muita gente torcia pela gente".
*Janaína é mãe de Heitor, de um mês
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