Dava para piorar! Moradores da Zona Oeste reclamam da escassez de ônibus
A queixa é antiga na região, principalmente em Campo Grande, bairro mais populoso do Rio
O que já era ruim podia ficar pior. Depender do transporte público nunca foi uma tarefa fácil para moradores da Zona Oeste, acostumados a aguardar horas em pontos de ônibus, mas a pandemia do novo coronavírus deixou a espera ainda mais demorada. Com a frota reduzida, muitas linhas simplesmente desapareceram, dificultando a locomoção de milhares de cariocas.
Linhas como 830 (Campo Grande-Serrinha) e 841 (Campo Grande-Vilar Carioca), operadas pela Pégaso, praticamente sumiram. Isaura Gonçalves, de 80 anos, por exemplo, precisa pegar o 840 (Campo Grande-São Fernando), e a espera tem sido ainda mais longa.
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"Não fico menos de uma hora nessa fila. Quando estou vindo, é pior. Isso quando não passam direto do ponto", conta Isaura, que aguardava no ponto sob a cobertura improvisada com papelão, madeira e plásticos.
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Para chegar na comunidade da Carobinha, o transporte alternativo se tornou a única opção para a maioria dos moradores, já que os ônibus que vêm de Campo Grande se limitam a deixá-los na Avenida Brasil.
"Os ônibus me deixam muito longe de casa, então tenho que pegar uma van", explica Patrícia.
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Já Jorge Eripe, de 76 anos, só precisa pegar um ônibus que passe pela Estrada da Posse. As opções são muitas e o trajeto é pequeno, mas, ainda assim, costumam demorar.
"Sempre foi ruim, não é de agora. É muita pouca vergonha existente no sistema", analisa Jorge.
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"Frescões" não faltam
Enquanto as linhas da Pégaso que levam de Campo Grande para o Centro do Rio estão praticamente extintas, os ônibus executivos da empresa, conhecidos como 'frescões' — que fazem o mesmo trajeto — estão a todo vapor. O parador 398 (Campo Grande-Tiradentes, via Posse) e o expresso 366 (Campo Grande-Tiradentes via Mendanha), de tarifa comum, raramente são vistos. As opções são o 2336 (Castelo via Mendanha) e 2339 (Castelo via Posse), que custam R$ 15, o que força os passageiros a tirarem do próprio bolso para trabalhar ou fazer baldeação, atrasando uma viagem que já seria longa.
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"Esqueceram que Campo Grande existe. Chego a ficar duas horas esperando um ônibus, sempre demora. O bairro é ótimo para outras coisas, mas o transporte é horrível", reclama o segurança José Roberto, de 59 anos, que trabalha no Centro.
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Motoristas sem salários
O perrengue se estende também aos motoristas de ônibus, que já sofriam com a crise financeira muito antes da pandemia. Na Pégaso, que enfrenta grave recessão, funcionários alegam que já não recebem da empresa há quatro meses.
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"O único dinheiro que entrou nesse tempo foi a porcentagem que o Governo paga do salário, porque a empresa resolveu aproveitar a medida provisória", afirma um motorista, referindo-se à MP 936, que permite que o Governo arque com uma porcentagem do salário. Mas a Pégaso ainda não arcou com a sua parte.
Já na Jabour, a maior parte dos motoristas entrou de férias quando a quarentena começou, e muitos eram obrigados a assinar pedidos de dispensa do trabalho em vários dias. Agora, porém, eles já voltaram a trabalhar com a carga horária reduzida, seguindo as instruções da MP 936.