Por O Dia

Acúmulo de lixo, caça predatória, especulação imobiliária, lançamento irregular de esgoto... São inúmeros os problemas nas unidades de conservação estaduais e municipais da Zona Oeste. As informações estão no documento apresentado no início do mês pela ONG Defensores do Planeta, de Campo Grande, que, para marcar a Semana Mundial do Meio Ambiente, fez avaliações técnicas com a utilização de drones nestes locais.

O resultado das inspeções e seus diagnósticos - com diversas fotos - foram reunidos no 'Relatório Preliminar sobre as Unidades de Conservação em Perigo no Rio de janeiro', publicados no site da organização (https://www.defensoresdoplaneta.org.br/) e entregues aos órgãos públicos e ao Ministério Público Estadual.

Mauro Pereira, biólogo e diretor executivo da ONG, explica que as avaliações foram feitas nas Áreas de Proteção Ambiental (APA) das Brisas e Sepetiba, e Parque Estadual do Mendanha. O equipamento aéreo é um trunfo na fiscalização: ele facilita operações de inspeção, controle, combate, monitoramento, busca etc.

Além disso, os drones são capazes de capturar imagens de alta resolução em áreas remotas. São uma ferramenta de baixo custo, quando comparada ao uso de aeronaves tripuladas tradicionais, e oferecem maior flexibilidade e qualidade, quando comparada às imagens de satélites.

DENÚNCIAS DE ABANDONO

A APA das Brisas, com 101,6 hectares, no litoral da Baía de Sepetiba, se destaca pelo valor ecológico, histórico e arqueológico. Mas apesar disso, a área sofre com a pressão urbana do entorno. Alguns dos problemas apontados por Mauro, após o sobrevoo no dia 1º de junho, são o acúmulo de lixo, o lançamento de esgoto in natura que acaba atingindo o mangue e o lençol freático da região, a caça predatória e o vandalismo.

"Importante acrescentar que a área sofre também com a ausência de sinalização ecológica e a falta de um conselho gestor e de uma sede. Além disso, não existe fiscalização, o que acarreta na maioria dos danos acometidos à Unidade de Conservação. Outros problemas graves são a especulação imobiliária e as queimadas", completa Mauro.

ADEUS, BOTO CINZA

No Parque Estadual do Mendanha, declarado Reserva da Biosfera da Mata Atlântica pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1992, uma das questões mais graves é a ocupação com empreendimentos imobiliários irregulares, o que contribui para o processo de favelização e problemas de infraestrutura. Com 4.398 hectares, o parque, monitorado pela Defensores do Planeta em 2 de junho, se estende pelos municípios do Rio (Bangu e Campo Grande), Nova Iguaçu e Mesquita.

Na APA da Baía de Sepetiba (171,6 hectares), que corresponde a uma extensa faixa litorânea que se inicia em Barra de Guaratiba e se prolonga até o Rio Itaguaí, alguns dos problemas diagnosticados pela ONG são as áreas degradadas, o uso irregular da área pública, a presença de animais domésticos em meio às matas e a disposição inadequada de resíduos no interior da unidade.

"A intensa poluição das águas da Baía de Sepetiba está, literalmente, dizimando a população local de botos-cinza e mostrando ao mundo a triste sina de mais uma das baías do Estado do Rio. Além dos botos, as populações de um sem número de espécies marinhas como peixes e crustáceos estão se reduzindo e desaparecendo", aponta Mauro.

Segundo ele, espécies que eram muitos comuns nas águas da Baía de Sepetiba como cavalas, sororocas, cações, camarões e mariscos, estão ficando cada vez mais raras. "Cerca de 8 mil pescadores registrados na Associação dos Pescadores Artesanais, que vivem e/ou trabalham na região, lutam cada vez mais para retirar seu sustento das águas. Muitos deles acabaram transformando seus antigos barcos de pesca em embarcações adaptadas para o transporte de turistas: a belíssima paisagem do entorno ainda permite alguns ganhos".

Esgoto despejado na natureza
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Uma parte importante dos problemas ambientais da Baía de Sepetiba está ligada ao despejo de grandes volumes de esgotos domésticos in natura. O famoso e poluído Rio Guandu, responsável pelo fornecimento de 80% da água consumida pela cidade do Rio, tem sua foz na Baía de Sepetiba. Calcula-se que a bacia hidrográfica do Rio Guandu receba aproximadamente 4 bilhões de litros de esgotos todos os dias, a maior parte despejada sem qualquer tipo de tratamento por cidades da Baixada Fluminense.
"Já é hora de a Prefeitura e o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) atuarem para salvar nossas florestas, pois a gestão correta da biodiversidade é vital para frear os impactos das mudanças climáticas, fornecer água, segurança alimentar. Por isso estamos denunciando que estas unidades estão esperando para ser de fato protegidas", completa Mauro.
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A ONG Defensores do Planeta atua há 21 anos na região e em outras áreas carentes do Rio e da Baixada Fluminense - e é a única da Zona Oeste a ter um assento na Organização das Nações Unidas (ONU). Além das ações sociais - entre elas a doação de cestas básicas e kits de higiene para mais de 1.000 famílias de áreas carentes desde o início da pandemia - a entidade realizou uma série de atividades do longo da Semana Mundial do Meio Ambiente.
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Construção de autódromo pode destruir uma floresta
Situada na Zona Oeste, a floresta do Camboatá possui 200 mil arvores que são resquício da Mata Atlântica, e abriga uma rica diversidade biológica, incluindo espécies ameaçadas de extinção. Mas toda essa riqueza natural corre risco por conta do projeto de construção de um autódromo.
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"Não somos contra a construção de um autódromo em nossa cidade, mas temos absoluta convicção - embasada no conjunto de percepções de moradores locais e no conhecimento de diversos profissionais qualificados - de que não faz sentido destruir uma floresta para isso", afirma Mauro Pereira, da ONG Defensores do Planeta.
O fragmento florestal da floresta do Camboatá é raro remanescente do tipo de vegetação que recobria grande parte da planície do Rio de janeiro, algumas espécies madeireiras de grande interesse econômico eram abundantes, entre elas o jacarandá- caviúna, o pau brasil, a garapa e a canela tapinhoã.
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"Os alegados benefícios sociais, econômicos e urbanísticos deste empreendimento não serão em nada afetados com a transferência do projeto para um pedaço do Campo do Gericinó, vizinho à Floresta do Camboatá, também de propriedade da União e ocupado pelo Exército. Por que não destinar menos de 8% da área do Gericinó para o autódromo, ao invés de ocupar 100% da área do Camboatá e destruir uma floresta com mais de 200 mil árvores, abrigo de espécies de plantas e animais ameaçadas de extinção?", reivindica o relatório da ONG.
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