Jardineiro do Hospital do Andaraí foi preso confundido com irmão, diz companheira
Mulher de Wilton Oliveira da Costa, Marcele Oliveira, acredita que companheiro tenha sido confundido com o irmão, William, morto em uma operação policial no Complexo do Lins em fevereiro deste ano
Rio - Com a hashtag #SINHALIVRE, uma campanha no Twitter denuncia que Wilton Oliveira da Costa, 33 anos, foi preso injustamente. Conhecido como Sinhá, ele trabalhava como jardineiro no Hospital Federal do Andaraí, Zona Norte do Rio, quando foi detido por volta das 15h30 do dia 12 de maio. A mulher de Wilton, Marcele Oliveira, acredita que o companheiro, com quem tem uma filha, Ana Sofia, de cinco anos, tenha sido confundido com o irmão, William, morto em uma operação policial no Complexo do Lins em fevereiro deste ano.
O Tribunal de Justiça do Rio informa que o julgamento de um pedido de Habeas Corpus para Wilton Oliveira da Costa está previsto para o dia 7 de julho.
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O jardineiro está matriculado no quarto período de licenciatura em Educação Física na Universidade Estácio, conta Marcele. No Morro do Encontro, onde mora, no Complexo do Lins, Wilton também trabalhou como estagiário em um projeto de escolinha de futebol para a comunidade. Seu sonho é ser professor de Educação Física, conta Marcele.
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"A gente estava com um sonho: eu iria me formar no meio do ano que vem no curso de enfermagem e ele também, em Educação Física. Iríamos nos casar direitinho. Eu sei da inocência do meu marido", conta Marcele, que recebe cestas básicas da Associação de Moradoes do Morro do Encontro e trabalha com venda de bolos. "Ele corre o risco de perder o investimento que fez na faculdade. Está perdendo semana de prova. É um custo muito alto que a gente paga", lamenta.
A companheira critica o alegado engano na prisão do marido. "Ele foi preso por acusação de ter participado de um assalto em 2018. Está sendo confundido com irmão dele, que era traficante e praticava assaltos. O nome do irmão é parecido (William), a fisionomia também. Mas, minha família não pode se confundida com a vida do meu cunhado. Wilton foi preso sem nenhuma notificação. Por que ele está sendo incriminado por atos que não são dele? Querem dizer que todo preto é igual?", critica.
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Marcele também aponta que no processo a qual Wilton responde por roubo, consta que o acusado não trabalha. "Wilton sempre trabalhou. Ele trabalhava no Hospital do Andaraí, em uma empresa terceirizada. Trabalhava em projetos sociais da comunidade, faz parte da escolinha de futebol", contesta.
O jardineiro e estudante de Educação Física nunca teve envolvimento com o crime, conta a noiva, que é companheira de Wilton há doze anos. Ela diz que ele teve uma única passagem pela polícia, quando, em 2009, foi levado à delegacia por estar em uma lanchonete no Morro do Encontro, onde um rapaz foi flagrado com com quantidade de drogas. Wilton foi absolvido na ocasião.
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Mulher teme por saúde de Wilton
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Marcele não pode visitar o companheiro no Presídio Ary Franco, em Água Santa, por conta das restrições impostas pela pandemia da covid-19 e ressalta a preocupação com a saúde de Wilton. "Ele já teve bronquite. Temo pela saúde física e mental dele. É revoltante. Estava pronto para ir ao mercado comigo no dia em que foi preso e chega essa prisão injusta, sem notificação prévia", completa.
A denúncia por roubo tem como autor o Ministério Público do Rio e tramita na 36ª Vara Criminal do Rio. Em 1º de junho, a Justiça foi comunicada da prisão do acusado e do recurso. Em nota, a Promotoria de Justiça junto à 21ª Vara Criminal informou que "Wilton Oliveira da Costa teve uma das condutas de liderança no roubo de carga ocorrido, não havendo racismo em sua acusação".
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O Hospital Federal do Andaraí confirmou que Wilton trabalhava como jardineiro, contratado por uma empresa terceirizada e que nunca apresentou nenhum desvio de conduta no emprego.
A Polícia Civil informou que de acordo com a 19ª DP (Tijuca), o homem foi preso por policiais militares e encaminhado à unidade onde foi cumprido um mandado de prisão por roubo. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público e ele indiciado pelo crime. O caso está com a Justiça.
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O Ministério Público afirma em nota assinada pela Promotoria de Justiça junto à 21ª Vara Criminal que "Wilton Oliveira da Costa teve uma das condutas de liderança no roubo de carga ocorrido, não havendo racismo em sua acusação".
A Estácio afirmou que não fornece informações sobre alunos, nem confirma matrícula.