Um livro aberto é prato cheio para quem tem fome de conhecimento, que navega pela imensidão da sopa de letras por páginas a fio. As coloridas capas também podem encher o prato de pessoas que, com a pandemia, passam por dificuldades para colocar comida em casa.
Depois de uma boa olhada em seu vasto acervo, a publicitária e social media Cida Burlandy decidiu transformar 85 de seus livros em bônus para doações. E nasceu o projeto 'Ler alimenta'.
A iniciativa funciona como um sebo nas redes sociais mas em vez de vender, cada livro equivale a dois itens de alimentação, como arroz, feijão, macarrão, açúcar, café e leite em pó, além de produtos de higiene pessoal.
Desde 11 de junho, quando começou o 'Ler alimenta', Cida e o marido, Yuri, conseguiram entregar 16 cestas completas, todas montadas em sua casa, na Penha, e entregue nas casas das famílias beneficiadas.
"Quando vemos pessoas passando por problemas e não conseguimos ajudar, temos uma sensação de impotência. Se um quilo de alimento não me faz falta e pode fazer diferença para outras pessoas, isso não tem preço."
No começo, eles divulgavam através de folhetos, colocados na caixa dos correios do condomínio onde moram. A receptividade dos vizinhos se converteu em mais livros doados. A ideia e o anúncio se concretizaram em contas nas redes sociais, e expandiram para outros bairros do Rio.
Em estações de trem ou metrô, ela faz a troca de livros por alimentos, e em cada entrega, uma mensagem que simboliza o espírito do seu projeto: 'Sua leitura vai ajudar a alimentar uma família'.
Duas amigas do casal expandiram o projeto, na Ilha do Governador e em Campo Grande. "Quanto mais gente quiser expandir o projeto, maior vai ser a quantidade de pessoas ajudadas na cidade", diz a publicitária.
Para Cida Burlandy, o projeto que ela idealizou tem uma dupla função social: garantir a alimentação de quem precisa e incentivar a leitura.
"Cada livro que sai daqui foi com um pouquinho do meu amor espalhado, e que o meu amor pela leitura se multiplique."