Por RENAN SCHUINDT

Há dois meses sem receber salários, o enfermeiro Anderson Pereira, de 32 anos, é um dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate ao coronavírus. Lotado no Hospital de Campanha do Maracanã, onde ontem mesmo foi impedido de entrar, ele vive agora a incerteza do desemprego. Geladeira vazia e contas acumuladas o fazem refletir sobre a falta de valorização da profissão. Enquanto a Secretaria de Estado de Saúde insiste em afirmar que a unidade, assim como o Hospital de Campanha de São Gonçalo, não foi fechada, quem sofre são aqueles que se dedicaram e colocaram a própria vida em risco para salvar doentes com covid-19.

Segundo a presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Mônica Armada, existe um risco de paralisação por parte dos profissionais. "Teremos uma assembleia na próxima segunda-feira para decidirmos sobre uma possível greve. A questão vai muito além dos hospitais de campanha. Em diversas unidades estaduais, nossos profissionais estão com salários atrasados", reclama.

A situação de Anderson é dramática. Ontem, quando chegou para trabalhar, foi imediatamente barrado por um dos seguranças. "Ele alegou que meu nome não estava na lista de autorizados a entrar. Fui orientado a voltar para casa e aguardar. Me sinto abandonado pelos governantes. A gente abriu mão de família, de amigos, tudo para nos dedicarmos à vida das pessoas. Agora, nem salário temos. Precisamos sobreviver", pede.

Anderson conta que, antes de ingressar na unidade do Maracanã, havia conseguido emprego como socorrista na Ponte Rio-Niterói, mas acabou dispensado devido à pandemia. "Quando olho para as vidas que ajudei a salvar, não tenho arrependimento algum.  É isso que eu amo fazer. Mas quando olho para minha geladeira vazia, as contas chegando...", resigna-se.

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