Por Gabriel Sobreira

O Rio perdeu mais um ícone centenário com o fechamento das portas da tradicional Casa Turuna, loja de artigos de Carnaval que funcionava há 105 anos na Saara, no Centro. Mas na contramão da crise provocada pela covid-19, são hercúleos os esforços que estabelecimentos igualmente históricos têm buscado para driblar os efeitos da pandemia. Tudo para não desaparecerem para sempre e ficarem apenas na memória dos cariocas.

Entre os esforços para se manterem de portas abertas, sistema de entregas até campanha de financiamento coletivo. E os proprietários avisam que de braços cruzados é que não vão ficar. Fundada no dia 5 de março de 1860, a Casa Cavé, na Rua Sete de Setembro, também no Centro, é a confeitaria mais antiga da cidade e ainda quer ter muita história pra contar. De olho na sobrevivência do negócio, o estabelecimento recorreu ao delivery.

"O sistema de entregas está sendo implementado agora, com delivery programado com 24h de antecedência. Estamos nos adequando aos novos tempos. Já havia o interesse, com a pandemia, resolvemos adotar", conta Clarene Bernardo, sócia da Casa Cavé.

Nome de herói destemido, a Casa Paladino, na Rua Uruguaiana, não foge à luta e está tentando achar uma saída no meio de um caminho de tantas incertezas. Especializado em secos e molhados, o espaço já tinha a entrega como parte da rotina. Contudo, como o Centro vive do movimento semanal efetivo dos dias úteis, o estabelecimento tem visto e sentido o impacto da redução do movimento. "A gente pensa que no futuro, se não melhorar, possa abrir em outro bairro, que funcione melhor", avalia Antônio Rodrigues, funcionário há 26 anos.

"A Casa Paladino já enfrentou outras crises políticas, econômicas, mas nada no tamanho dessa", avalia Rodrigues. E ele vai além. "Estamos resistindo a mais uma fase ruim que nosso país enfrenta de tempos em tempos. Com muitas empresas no esquema home office, o Centro da cidade não está com 20% do efetivo dela. Sinceramente, se esse quadro não vier a mudar, o Centro vai definhar se não tiver uma revitalização logo. Ninguém sabe qual loja sobrevive. Não estamos falando não só de um nome. São famílias que perdem emprego, pessoas que perdem o significado de acordar de manhã. Tivemos que mandar três funcionários embora", lamenta.

 

Vaquinha para ajudar velho reduto boêmio
Publicidade
Nem só a adoção de sistema de entrega pode resolver a atual crise das casas centenárias do Centro. No caso do Bar Luiz, na Rua da Carioca, o financiamento coletivo, além do delivery, é mais uma forma de atenuar as consequências provocadas pela pandemia. Aliás, as portas do icônico bar, fundado em 1887, serão reabertas ao público nos primeiros dias de agosto.
Para o retorno, uma campanha iniciada na última segunda-feira, no Instagram, anuncia uma vaquinha virtual. "Aproveitamos a data especial do Dia do Amigo para pedir seu apoio para que possamos manter as portas deste patrimônio cultural abertas. Em breve, lançaremos uma campanha de 'crowdfunding' e contamos com a sua participação. Doe e se torne um amigo do Bar Luiz!", pede a postagem.
Publicidade
"Estou vendo a data do lançamento do financiamento coletivo com o pessoal da agência que cuida da nossa conta do Instagram e Facebook. Devemos fazer alguma filmagem ainda esta semana no bar. Infelizmente, a fachada está feia porque um 'espírito de porco' foi lá e quebrou nosso letreiro novinho", lamenta a proprietária Rosana Santos.
Você pode gostar
Comentários