Coletivo de mulheres faz pesquisa para contabilizar casos no município - Divulgação
Coletivo de mulheres faz pesquisa para contabilizar casos no municípioDivulgação
Por Marina Cardoso
Rio - Desde o início da pandemia do coronavírus (covid-19) no país, os especialistas alertavam para a chegada do vírus em locais com pouca infraestrutura e condições precárias de saneamento básico. No Rio, as favelas foram apontadas como grandes locais com alto risco de proliferação da covid-19. A preocupação dos especialistas se justifica pelos números de casos nas favelas de Itaguaí, na Baixada Fluminense. Cinco comunidades correspondem por 38% dos óbitos e 26% casos de coronavírus de todas as localidades mapeadas pelo Painel Unificador das Favelas. 
Segundo levantamento feito pelo O DIA, com base no painel para verificar o comportamento do coronavírus nas favelas, já são 2.671 infectados e 560 óbitos (confira no gráfico os números nas cinco favelas). Os dados são diferentes dos apresentados pela prefeitura, que contabiliza 2.172 casos e 114 mortes.
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De acordo com Theresa Williamson, urbanista e diretora executiva do Comunidades Catalisadoras, gestora do Painel Unificador, Itaguaí aparece com grande número de casos e óbitos, pois é um das poucas cidades com contagens precisas nas favelas. "É complicado fazer qualquer análise de todo o estado, pois nós no painel fazemos a contabilização dos números coronavírus em apenas 150 favelas das 1 mil que temos em todo o Rio. Existem muitas favelas que não há contagem alguma. Itaguaí é um dos poucos lugares que têm números precisos de casos e mortes de covid-19", explica ela. 
Para ela, se outras favelas tivessem esse levantamento, o número de casos no Estado do Rio seria bem maior do que o notificado. "Precisamos contabilizar, mas não temos estrutura. Dados salvam vidas, sem dados a população fica mais uma vez negligenciada", afirma Theresa.
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De acordo com Douglas Almeida, coordenador de mobilização da Casa Fluminense, a pandemia só escancara as desigualdades. "A covid-19 atinge principalmente os mais pobres, nas favelas e periferias. Infelizmente, não é surpresa o impacto em Itaguaí. O Mapa da Desigualdade aponta que a cidade tem uma das piores médias de idade com que as pessoas morrem, 60 anos, 6 anos a menos que a média da Região Metropolitana do Rio. São diferentes fatores que contribuem para isso, entre eles a falta de saneamento. Um exemplo disso é que Itaguaí figura entre as cidades em que o esgoto não é coletado e tratado", afirma ele.

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Associação faz a coleta de dados
Em Itaguaí, a contagem de casos é feita por seis integrantes da Associação de Mulheres de Itaguaí - Guerreiras e Articuladoras Sociais (Amigas). Anna Paula Sales, uma participantes, diz que o trabalho começou de forma simples.
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"Começamos em março de maneira ingênua e desde então fazemos trabalho de formiguinhas. Nas nossas doações de cestas básicas, víamos o aumento no número de óbitos, mas não sabíamos de testagem. A partir daí, começamos a rastrear casos e mortes. Corremos atrás de testes para moradores", conta.
Anna questiona a falta de infraestrutura na cidade e a escassez de leitos. "Não tínhamos leitos de UTI, depois vieram quatro, mas ainda é pouco, não temos hospital decente para atender. Estamos na luta, de porta em porta, para ajudar as pessoas", diz.
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