Mundo desperdiça cerca 1,3 bilhão de toneladas do alimento produzido, em todas as fases de produção - Flickr/Caipira Lab Tech
Mundo desperdiça cerca 1,3 bilhão de toneladas do alimento produzido, em todas as fases de produçãoFlickr/Caipira Lab Tech
Por Letícia Moura*
Rio - Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a origem dos alimentos. Que tal repensar alguns hábitos nocivos para a sua saúde e a do planeta? Até a chegada à mesa, as etapas de produção, processamento, comercialização e preparo das refeições podem trazer impactos significativos para uma alimentação saudável e para o meio ambiente. E para tentar aproximar produtores e consumidores finais, iniciativas surgem com o intuito de fortalecer a economia local e garantir alimentação de qualidade, por meio da tecnologia.
É o caso plataforma CaipiraTech Lab, que será lançada em 2021, e vai integrar sistemas agroalimentares locais da Serra da Mantiqueira e do Vale do Rio Paraíba, desde as primeiras etapas produtivas até a chegada aos consumidores dessas regiões.
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Com mulheres à frente da organização, a Silo - Arte e Latitude Rural, responsável pelo programa, também tem como preocupação a equidade de gênero e raça. "Portanto estamos atentas a inclusão de mulheres em nossos programas e trabalhamos para alcançar mulheres negras e indígenas. Outra coisa é que na agroecologia, o feminismo é um pilar. A participação das mulheres nos sistemas agroalimentares é de suma importância e precisa ser valorizado economicamente e socialmente. Como estamos compromissadas com isso nada mais justo que oferecer o espaço formativo para elas", enfatizou Cinthia Mendonça, diretora e fundadora da Silo – Arte e Latitude Rural.
ÁREAS RURAIS
O Caipira Tech Lab privilegia comunidades tradicionais de agricultores e prestadores de serviço das áreas rurais nas divisas entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Por enquanto, o programa está promovendo a capacitação dos agricultores selecionados. Para incentivar a troca de conhecimentos e compartilhar histórias de vida e práticas cotidianas entre os participantes, o programa oferece, até o dia 8 de outubro, minicursos sobre Gestão, Finanças e Comunicação para 16 pequenos produtores (14 mulheres e dois homens).
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Formas de organização participativas, orientadas pela agroecologia, contribuem para a democratização do acesso a alimentos sem agrotóxicos, a redução do consumo de ultraprocessados e a criação de circuitos locais de distribuição e de instrumentos alternativos de regulação política e institucional. Pode alterar os fluxos de distribuição de riqueza e prevenir a degradação das culturas alimentares locais.
"Acreditamos que a agricultura é uma das tecnologias mais fascinantes já inventadas porque além de garantir a nutrição pode também colaborar para a manutenção e regeneração do solo e da biodiversidade. Sabemos que nem todo mundo pensa e age assim, mas acreditamos que isso pode mudar", explicou Cinthia Mendonça.
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"Uma das maneiras de mudar isso é ter essa consciência de que quem come também tem responsabilidade sobre os impactos da agricultura sejam eles bons ou ruins", avalia. 
Força feminina nos assentamentos
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A agricultora Edneia Araújo, de 43 anos, participa dos cursos da CapiraTech Lab e carrega como herança familiar o contato com a terra, desde a geração de seus avós. Há nove anos no ramo, ela faz parte do coletivo de Alaide Reis, composto por três núcleos de famílias, de três assentamentos distintos da reforma agrária, chamados de Dorothy, Roseli Nunes e Terra da Paz. Localizado em Quatis, no Sul Fluminense, o coletivo Reis comercializa mais de 100 produtos, in natura e industrializados. 
Edneia lembra com orgulho que um grupo de famílias foi quem primeiro produziu tomate orgânico na região. "Eles produzem muitos tomates, tudo de forma orgânica, sem veneno. E contradiz a regra, porque dizem que não dá para cultivar tomate sem veneno". 
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Ela comenta sobre o papel da mulher no campo, ainda pouco valorizado. "No campo, muitas famílias são guiadas por mulheres. Aqui no assentamento, um terço das famílias são chefiadas por elas. São solteiras, têm os filhos, trabalham na roça, tiram leite e plantam. E são pouco valorizadas, porque têm jornada dupla e às vezes tripla". 
*Estagiária sob supervisão de Bete Nogueira