Núbia Rodrigues estava internada em estado grave de covid-19 - Reprodução/Facebook
Núbia Rodrigues estava internada em estado grave de covid-19Reprodução/Facebook
Por Karen Rodrigues*
Rio - Núbia da Silva Rodrigues, de 42 anos, foi a primeira a morrer no incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso, na última terça-feira, na Zona Norte do Rio. A técnica de radiologia e fonologia estava internada em estado grave, desde sexta-feira, por complicações da covid-19. Núbia sofreu uma parada cardiorrespiratória durante o processo de transferência para outra ala que estava sem fogo. O filho único biológico de Núbia, Patrick Rodrigues, de 23 anos, ficou sabendo da morte da mãe em casa pela televisão. Ele explicou ao DIA que ela foi tirada do terceiro andar do prédio em uma maca improvisada de lençóis e não aguentou quando tiraram o tubo orotraqueal.
"Era uma pessoa de bom coração, sempre acolhia tudo que podia fazer. Era brincalhona, tinha muita vitalidade. Ela tinha o sonho da casa própria, ter estabilidade financeira. Queria um lugar onde pudesse viver bem, que não precisaria viver de ajuda de ninguém”, contou Patrick.
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Além de Patrick, Núbia também deixa uma filha adotada de coração e amigos queridos.
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A técnica de enfermagem, Elaine Pereira, de 45 anos, conheceu Núbia no trabalho em 2013 e considerava a amiga parte da família "Era uma pessoa super extrovertida, alegre, com muitos sonhos pela frente", relembra a amiga.
A técnica de enfermagem contou ao DIA que o laudo da tomografia feita pela amiga, na sexta-feira, indicava que ela já estava com 75% do pulmão acometido.
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"Ela deu entrada no Hospital de Bonsucesso na sexta-feira, ficou no oxigênio. No sábado, ela ficou na máscara de VNI [ventilação não-invasiva], e estava estável. Na segunda-feira, ela teve uma baixa de oxigênio no sangue, os médicos resolveram entubá-la. Na terça-feira, aconteceu essa tragédia. Não foi uma fatalidade, foi uma tragédia. A vida da Núbia foi arrancada, interrompida pela transferência. A gente vai ficar sem saber se ela sobreviveria da covid-19", lamentou a amiga de Núbia.
A família ainda não pensa em entrar com recurso contra o Estado pela morte de Núbia Rodrigues, mas acreditam que justiça deva ser feita.
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"As pessoas precisam ser penalizadas. Já foram três incêndios no Rio, isso precisa ser revisto. As autoridades já tinham ciência de que isso poderia acontecer de um dia para o outro", afirma Elaine Pereira. O sepultamento de Núbia Rodrigues acontecerá nesta quinta-feira, às 10h30, no Cemitério de Inhaúma.
Mais duas vítimas fatais do incêndio
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Além de Núbia Rodrigues, também faleceu uma senhora de 83 anos, que não teve a identidade revelada, que estava internada com covid-19 e em estado grave no CTI coronariano, e o garçom Marcos Paulo Luiz, de 39 anos. O paciente estava sendo colocado na ambulância para ser transferido para outra unidade de saúde quando morreu. Ele estava internado há mais de 20 dias por conta de uma bactéria.
Onze pacientes ainda aguardam transferência para outras unidades de saúde após o incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso. De acordo com o Ministério da Saúde, outros 179 pacientes já foram remanejados, 37 receberam alta e outros três morreram.
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Procurado pelo DIA, o Ministério da Saúde informou que determinou a abertura de sindicância para apurar as causas que levaram ao incêndio. "A prioridade, no momento, é garantir o atendimento em segurança da população, uma vez que as consultas e exames laboratoriais no complexo estão temporariamente suspensos. Para isso, a pasta disponibilizará toda a estrutura de saúde da rede federal do Rio de Janeiro, de forma que não haja prejuízo na assistência", disse.
*Estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro