Moradores e candidatos relatam ações de criminosos em currais eleitorais
Moradores e candidatos relatam ações de criminosos em currais eleitoraisAgência O Dia
Por Thuany Dossares e Bruna Fantti
"Estava voltando para casa do trabalho, com uma praguinha (adesivo eleitoral) na blusa, e me abordaram, mandando eu tirar. Então, não pude demonstrar apoio para o meu candidato". Esse é o relato de uma moradora da comunidade do Carvão, em Itaguaí, na Baixada Fluminense, à reportagem. Abalada, ela descreveu como traficantes criam os chamados currais eleitorais, onde quem determina o voto é o crime.

"Me sinto invadida e sem poder de escolha, como moradora e eleitora, não podendo escolher em quem votar, quem eu quero que gere mudança para a minha cidade", completou.

O apoio de organizações criminosas a candidatos é alvo de uma força-tarefa da Polícia Civil. Como O DIA revelou, cinco candidatos estão sendo investigados, em todo estado, pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco). Enquanto moradores são reprimidos, candidatos que fizeram alianças com os traficantes podem circular pela comunidade. "Já vi outros candidatos podendo atuar lá. Mas eu não posso falar nada, não posso bater de frente com eles para questionar".

Outros bairros

Ainda em Itaguaí, moradores das favelas do Engenho e Jardim Ueda relataram a abordagem de traficantes. Os criminosos proibiram campanha para os adversários políticos dos candidatos já escolhidos por eles.

"Tinha adesivado o carro com campanha para o meu candidato. Estava com meu pai no carro, pediram para a gente parar e bateram na janela. Falaram que não podia circular na região apoiando o candidato, porque quem estava mandando lá não era aquele candidato", contou o morador do Jardim Ueda. "Fiquei com medo e parei de fazer campanha", disse.

Já no Engenho, uma reunião com amigos foi interrompida pelos traficantes: eles acharam que era um encontro político.

Ex-chefe de polícia denuncia ameaça
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A maioria das denúncias que chega à Polícia Civil é sobre a ação de milicianos. Candidatos que se sentem prejudicados têm procurado a Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas).
Concorrendo à Prefeitura de Queimados, Zaqueu Teixeira (PSD), ex-chefe de Polícia, foi um dos denunciantes. Ele afirmou que além da agenda de campanha cancelada pela milícia, que não permitiu que ele se reunisse com apoiadores, também foi ameaçado.
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"Estava marcada uma reunião e quando cheguei lá, não tinha ninguém. Fui me informar do que tinha acontecido e me contaram que uma pessoa, que estava em uma moto, disse que não podia ter aquela reunião de candidato. As pessoas ficaram com medo e foram embora. Então, não pude cumprir minha agenda", disse.
Ele também contou que uma vereadora foi forçada a tirar o adesivo com o seu número eleitoral de um veículo.
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"Ainda falaram para ela não andar comigo, porque se viessem me pegar iria todo mundo junto".
Para Zaqueu, a população é a mais prejudicada. "O dono da cidade não pode ser o traficante, o miliciano, tem que ser a população, e quem a representa é o prefeito e seus vereadores. A gente não está tendo democracia", afirmou.
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Candidato descreve ação da milícia
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A cidade do Rio também tem convivido com currais eleitorais. Concorrendo a uma cadeira na Câmara de Vereadores da capital, Sancler Mello (PODE) diz que não consegue colocar adesivos ou bandeiras nos bairros do Recreio, Vargem Grande e Vargem Pequena, na Zona Oeste, porque os milicianos não permitem. Segundo ele, somente está permitida a campanha do vereador, candidato à reeleição, Marcello Siciliano (Progressistas).
"Na comunidade do Terreirão, no Recreio, mandaram tirar todos os adesivos de outros candidatos. Na Cascatinha, em Vargem Grande, você não consegue nem entrar para apresentar sua proposta. E em Vargem Pequena, a informação que tive, conversando com outros candidatos, é que quando tem alguém bandeirando por ali, aparecem três, quatro homens de carro e dizem que não pode ficar ali", afirmou Sancler.
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Siciliano já é investigado por suposto curral na Vila Cruzeiro, Zona Norte. Ele nega as acusações.