Operação da Polícia Federal mira os irmãos Jerominho e Natalino Guimarães - Reprodução
Operação da Polícia Federal mira os irmãos Jerominho e Natalino GuimarãesReprodução
Por Yuri Eiras*
Rio - A Policía Federal prendeu em flagrante o marido de Jéssica Natalino na Superintendência do Rio, na tarde desta quinta-feira durante a Operação da Sólon. A ação cumpriu 12 mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos irmãos Jerominho Guimarães e Natalino Guimarães, condenados por fundarem, décadas atrás, a milícia 'Liga da Justiça', considerada hoje a maior do estado. Natalino e Jerominho estão soltos desde 2018, e agentes agora investigam se a dupla usaria as eleições municipais para ampliar sua rede de poder na Zona Oeste.
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Como a lei eleitoral só permite prisões em flagrante até o dia das eleições, não foram expedidos mandados de prisão. Apenas o PM, identificado como marido da candidata a vice-prefeita na chapa de Suêd Haidar, foi conduzido para dar explicações sobre uma arma e munições irregulares, além de quantia em dinheiro em espécie. O militar foi preso com base nos artigos 14 e 16 da Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento).
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Atuais candidatos ao pleito também são investigados: Carminha Jerominho (PMB), filha de Jerominho e candidata a vereadora, e Jessica Natalino, filha de Natalino e candidata a vice-prefeita na chapa de Suêd Haidar (PMB).
Movimentação de R$ 1 milhão alertou PF
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Uma movimentação atípica de R$ 1 milhão em empresas ligadas aos irmãos Jerominho e Natalino Guimarães foi o estalo do relatório de inteligência financeira da Polícia Federal para a 'Operação Sólon', deflagrada nesta quinta-feira. 
"O objetivo do grupo é retomar o poderio político da Zona Oeste do Rio. Vários investigados hoje já foram presos em operações passadas. Desta vez, a investigação é embasada em relatórios de inteligência financeira. As movimentações atípicas foram na ordem de R$ 1 milhão", explicou Tacio Muzzi, superintendente da Polícia Federal no Rio.
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'Coração valente': R$ 320 mil em dois endereços
A PF encontrou na ação R$ 320 mil em espécie. Em uma das casas, R$ 180 mil. Em outra, R$ 141 mil. Notas de dólares - 2.500, ao todo - também foram apreendidas, além de documentos e material de campanha, principalmente de Carminha Jerominho, candidata a vereadora. Nas redes sociais, a filha de Jerominho, que já chegou a ser eleita vereadora, publica quase diariamente fotos com o pai e o tio. Adesivos e bandeiras espalhadas pelas ruas de Campo Grande exibem o slogan da família: 'Coração valente'.
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"O grupo que está sendo investigado não é a primeira vez. Verificou-se na investigação ainda a manutenção de poder local na Zona Oeste", afirma Muzzi.
Restaurantes e farmácias lavam o dinheiro
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A Polícia Federal se aprofundou desde o início do ano na complexa rede de poder e dinheiro do clã Natalino na Zona Oeste. A investigação observou que a lavagem de dinheiro acontecia em estabelecimentos formais, como restaurantes e farmárcias de Campo Grande, cujos donos serviam de laranja.
"A investigação detectou que a lavagem de dinheiro vinha de restaurantes e grupos de farmácias", afirmou Muzzi. "Esse foco na questão financeira, mesmo que não haja violência, redunda abuso de poder econômico, pelo histórico dos investigados".
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Jerominho pensou em concorrer à Prefeitura
Além do comércio, a eleição era terreno fértil para a ampliação do poder. O pleito é tradição antiga da família: Natalino foi eleito deputado estadual em 2006, e o irmão Jerominho vereador. Ambos foram presos em 2007, após a CPI das Milícias, e soltos em 2018. Jerominho chegou a anunciar que iria concorrer à Prefeitura pelo Partido da Mulher Brasileira, mas desistiu em julho, segundo o próprio, por problemas de saúde. A sobrinha Jessica defende o sobrenome como vice na chapa com Suêd Haidar, candidata que não ultrapassou 0% de intenções de voto.
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"Dois alvos da operação de hoje são fichas sujas e não podem ser candidatos. Essas pessoas tão usando parentes para retomarem o poderio político", afirmou o superintendente da Polícia Federal.
A Liga da Justiça, que começou a atuar em Campo Grande com os irmãos, ganhou células por todo o estado. Enquanto Natalino e Jerominho estiveram presos, a milícia passou para as mãos do ex-traficante Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, assassinado em 2017. Desde então, é o irmão de Carlinhos, Wellington da Silva Braga, o Ecko, quem comanda o grupo, que tem braços na Zona Oeste e Baixada Fluminense. Ecko é o criminoso mais procurado do estado.

Jerominho: 'adversários apavorados'
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Em vídeo publicado nas redes sociais, Jerominho Guimarães atribuiu a busca e apreensão da PF aos "adversários". "Venho justificar as reportagens estão falando. Foram na casa do Jerominho, Natalino. O dinheiro encontrado não tem nada a ver com a gente. Estamos aqui, eu e meu irmão. Quero dizer a todos vocês o seguinte: os adversário estão apavorados com o crescimento da minha filha. Ela vai ganhar e vai ter a votação maciça da Zona Oeste. Peço que apoiem a minha filha".

Suêd Haidar se defendeu e afirmou que não é investigada. "A candidata Suêd Haidar apoia a operação, o estado democrático de direito, investigações policiais e reforça o compromisso com a Constituição que assegura o contraditório e ampla defesa a todos, não sendo a mesma alvo de nenhuma investigação".

O Partido da Mulher Brasileira, de Jéssica e Carminha, disse que está à disposição da Justiça. "O PMB é um partido ficha limpa e democrático nas suas filiações, nominatas e candidaturas, desde que sejam validadas e aprovadas pelo TRE. Estamos a disposição da Justiça para apuração de fatos que envolvam candidatos da nossa legenda. Hoje já somos mais de 1050 candidatos em todo Brasil e lutamos pelo combate à corrupção", diz a nota. Jerominho chegou a lançar pré-candidatura a prefeito pelo partido no início do ano".
*Colaborou Beatriz Perez