Comerciantes, moradores, ambulantes e turistas comentam sobre as medidas de restrição para o Réveillon em Copacabana. Na foto, o barraqueiro Severo Nunes - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Comerciantes, moradores, ambulantes e turistas comentam sobre as medidas de restrição para o Réveillon em Copacabana. Na foto, o barraqueiro Severo NunesEstefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Natasha Amaral
Rio - A decisão da Prefeitura do Rio de cancelar a festa de Réveillon e fechar Copacabana, na Zona Sul, para evitar aglomerações parece não agradar a todos e gerar um racha de opiniões no bairro. Além de restringir o acesso para Copacabana apenas aos moradores, a prefeitura decidiu proibir qualquer queima de fogos, o uso de equipamentos de som em toda a orla e restringiu a permanência de barraqueiros em ponto fixo na areia e no calçadão.
Para Plínio César, de anos 48, o fechamento não passa de um ato político. "Esse fechamento é uma pouca vergonha, não fizeram nada nas eleições e agora querem fechar. Isso é política. Mandam as pessoas ficarem em casa sem trabalhar e os políticos todos com dinheiro", contou o morador.
Publicidade
Já o motorista Marco Aurélio, de 49 anos, informou que medidas como essas são necessárias para diminuir a circulação do vírus. "Eu sou a favor da vida, a vida é mais importante. Eu trabalho com pessoas e estamos passando uma situação bem difícil. Na primeira onda foi um desastre, quem teve recurso conseguiu se manter, mas quem não teve quebrou. No momento, acho necessário o fechamento. Eu peguei covid-19 e sei que não é brincadeira, que é uma coisa séria". 
Publicidade
Milton Araújo, sócio da confeitaria By Lopes, uma das mais tradicionais do bairro, contou que o tempo é de incertezas. "Nós funcionaremos até às 19h do dia 31, que é o horário padrão da casa. O fechamento do bairro é preocupante, acaba impactando nas vendas. Normalmente, essa é a data mais importante do ano, agora, traz incertezas", afirmou.
As amigas Dirce Lopes, Dalila de Almeida e Helena Urias vieram da Zona Leste de São Paulo para participar da tradicional festa de fim de ano carioca. Para elas, o tempo é de reclusão e as medidas para enfrentamento da covid-19 são necessárias. "Estamos aqui na fé, a gente toma as devidas providências, não vamos andar sem máscara, mas viemos para ficar até o ano novo. Nós alugamos um apartamento e vamos ficar nele. Se der pra sair, queria ir pelo menos ao calçadão. Se não der, tá tudo muito bom. Cada um tem que fazer a sua parte", contou Dirce Lopes.
Publicidade
"O governo mandou fechar, eu acho que é uma coisa certa. O mundo todo está sofrendo. Não podemos criticar porque estão fechando a cidade, são medidas necessárias", completou Dalila. 
A tristeza de Severo
Publicidade
Há quarenta anos trabalhando na altura do posto 5, o barraqueiro Severo Nunes conta que essa é a primeira vez que não vai passar a virada na praia. "A gente tem que cumprir a ordem, não podemos passar por cima da lei. Essa doença veio para ficar e até a vacina sair não podemos trabalhar. Ficamos seis meses em casa e agora mais a virada do ano. (O cancelamento) Deixa todos nós da orla muito triste, mas é necessário. Eu já estou aqui há 40 anos, já passei 40 viradas de ano aqui, vi até quando o Bateau Mouche virou. Vivi muita coisa aqui, quarenta anos não são quarenta dias. Infelizmente esse vai ser o primeiro que não vou passar".
Questionado se vai colocar alguém para trabalhar na virada, Severo informou que não. "Temos que trabalhar no certo para não nos prejudicar". Sobre a redução nas vendas, ele afirma que aparecem alguns turistas, mas o movimento caiu em 50%. "Tem turista brasileiro mas não tem de outros países, a redução nas vendas é de 50%. Alguns hotéis estão fechados, não têm previsão para abrir. É lamentável, vamos ficar em casa, não vou me arriscar, mas é triste".
Publicidade
Medidas anunciadas pela Prefeitura
A Prefeitura do Rio vai apresentar, nesta segunda-feira (28), o plano operacional com as medidas que serão tomadas para desestimular aglomerações na orla e preservar vidas. São elas:
Publicidade
. Bloqueio de estacionamento na orla e ruas no entorno a partir do dia 31/12;
. Bloqueio da circulação de transporte público para acesso a Copacabana e Barra da Tijuca a partir das 20 horas do dia 31/12;
. Barreira de fiscalização nos limites do município para não permitir acesso de ônibus, micro-ônibus e vans de fretamento à cidade do Rio de Janeiro a partir do primeiro minuto do dia 31/12 até às 6h do dia 1/01.
. Quiosques poderão funcionar desde que sem venda de ingressos, shows, instrumentos sonoros e sem cercados.
. O uso de equipamentos de som será proibido em toda a extensão da orla a partir da 0h do dia 31/12 até às 6h do dia 1/01.
. A permanência de barraqueiro em ponto fixo, tanto na areia da praia quanto no calçadão, ficará proibida das 0h do dia 31/12 às 6h do dia 1/01.
. Proibida queima de fogos em toda a orla da cidade, incluindo rede hoteleira, desde às 0h do dia 31/12 até às 7h do dia 1/01.
"Temos que buscar, acima de tudo, a preservação da vida e da saúde, ninguém desconhece a gravidade do covid-19. Exige dos homens públicos, medidas austeras e, com certeza, vamos encontrar por parte da população a solidariedade, o empenho e a responsabilidade necessária para que possamos evitar o aumento do contágio na cidade", disse o prefeito em exercício, Jorge Felippe.
Publicidade