Bloco das Carmelitas em Santa Teresa.  - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Bloco das Carmelitas em Santa Teresa. Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Gabriel Sobreira
Rio – O projeto de lei que cria o CarnaRio, um carnaval fora de época em todos os meses de julho, foi sancionado ontem pelo governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e divide opiniões visto o aumento do número de casos e mortes por covid-19.
Para a presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (Sebastiana), a iniciativa "parece fora de hora e sem propósito". "Não está na hora da gente pensar em fazer decreto de lei sobre carnaval com tanta gente morrendo, a pandemia da covid está fora de controle ainda", critica Rita Fernandes.
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Segundo o o pesquisador e infectologista da UFRJ, Edimilson Migowski, tudo vai depender muito da questão da cobertura vacinal e também do andamento da pandemia de uma forma natural sem intervenção. "Pois quanto maior o número de pessoas infectadas nesse momento, menor é a possibilidade de se ter a disseminação do vírus entre nós, pelo menos em um espaço tão curto de tempo após a primeira exposição", explica o especialista.
Migowski diz ainda que o mês de julho tem um conveniente. "É um período mais frio. Em geral, essas viroses respiratórias propagam mais em meses frios do que em meses quentes. Não sabemos como (a doença) vai se comportar. Até porque, diferente de julho de 2020, julho de 2021 já vai ter muita gente tendo sido vacinada e vai ter muita gente já tendo tido a doença há pouco tempo. Vai ter uma proteção parcial que seja, mas vai ter", afirma. 
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O autor do projeto, o deputado Dionísio Lins (PP-RJ) diz que entende a preocupação em relação à pandemia, mas esclarece o seguinte. "A lei foi sancionada, mas não quer dizer que, em julho próximo, teremos carnaval fora de época. Sem vacina, não terá carnaval fora de época. Se não tiver vacinação nas pessoas, não terá festa. Só terá Carnaval se, em julho, todo mundo estiver vacinado. O país estando normalizado, por que não alavancar o emprego, o imposto e o consumo?", questiona Lins, que ainda conversará com todos os segmentos, como escolas de samba e blocos.
Rita argumenta que, mesmo com todo mundo vacinado, em julho, os blocos que compõem a Sebastiana não iriam para as ruas. "A gente acredita que não vai ter clima. Também não temos viabilidade operacional e nem financeira para fazer um carnaval agora em junho/julho. Achamos que é melhor concentrar nossos esforços para o carnaval de 2022. Ou seja, no caso da Sebastiana, mesmo com vacina, nós não colocaremos o bloco na rua", explica ela.
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Contudo, a presidente do Sebastiana imagina algum tipo de celebração na forma de roda de samba ou evento fechado para simbolizar o fim da pandemia, se isso acontecer. "Mas nós não faremos o Carnaval na rua", frisa Rita.
FERIADO EM FEVEREIRO ESTÁ MANTIDO
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Assim como acontece desde 2008, o feriado de terça-feira de Carnaval está mantido para o dia 16 de fevereiro. A informação é dada pelo próprio Governo do Estado em uma nota enviada à imprensa. "Será decretado ponto facultativo apenas na segunda-feira, dia 15 de fevereiro, nos órgãos e entidades integrantes da administração pública estadual do Rio de Janeiro. A publicação sairá no Diário Oficial do Estado desta sexta-feira (15/01)", diz a nota.
GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA PARA O ESTADO
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De acordo com o deputado Dionísio Lins (PP-RJ), autor da lei, o mês de julho passa a ser calendário oficial da criação do Carnaval fora de época no âmbito do estado do Rio de Janeiro. "Isto contempla a cultura porque no exterior, o mês de julho é o mês de férias. O turista tem mais razões para visitar o Rio de Janeiro", defende o parlamentar.
Benemérito da Portela e do Império Serrano, Lins explica que sempre sonhou com o carnaval fora de época, assim como na Bahia. "Queremos o calendário oficial em fevereiro e outro fora de época, em julho. Eu não me reuni com as escolas de samba e nem com os blocos", assume ele. "A nossa vocação é turística. Precisamos trazer pessoal do exterior para investir aqui", completa.
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Segundo o presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro (Hotéis Rio), a medida é positiva. "Sendo necessário, lógico, que demais estados também concentrem o Carnaval nessa data para que haja condição das pessoas viajarem, se deslocarem de um local para outro. Mas tudo isso vai depender, sem duvida alguma, do sucesso da vacinação que deve começar na próxima semana. Não existe Carnaval sem aglomeração e não pode ter aglomeração se não tiver vacinação", pondera ele, que é conselheiro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ).
Para Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, "Carnaval não se faz por decreto". "Não é governador ou qualquer instância de poder, que diz quando vai ter carnaval. Carnaval é em fevereiro. O que estão fazendo é um evento no meio do ano para poder estimular o turismo. A gente também não acredita muito neste tipo de formato. Isso não poderia ser chamado de Carnaval. Seria um evento que o próprio governador pensa para a cidade, mas que não cabe nos nossos planos. A gente não funciona dessa maneira: 'Vamos pensar num carnaval para julho porque é bom para a cadeia do turismo'", explica ela.
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"A gente faz carnaval porque a gente gosta. Os blocos de rua fazem carnaval porque gostam. Essa lei para nós parece inadequada, fora de propósito e sem nenhum diálogo com os organizadores de blocos, com quem faz Carnaval, com quem está do outro lado, no mínimo deveria ter tido alguma conversa", acrescenta Rita.
Procurada, a Riotur informou que, por enquanto, não tem nada a declarar.