Jorge Barroso morador da Ilha do Governardor reclama que a água que chega na sua casa está com cheiro ruim e gosto - Daniel Castelo Branco
Jorge Barroso morador da Ilha do Governardor reclama que a água que chega na sua casa está com cheiro ruim e gostoDaniel Castelo Branco
Por Luana Benedito*
Rio - Moradores de diversos bairros do Rio e da Baixada Fluminense voltaram a reclamar da qualidade da água oferecida pela Cedae. Eles relatam o abastecimento com cheiro e gosto ruins há uma semana. As reclamações acontecem um ano após a crise hídrica causada pela proliferação de um composto orgânico produzido por micro-organismos por causa da presença de esgoto na água.

O motorista José Amorim, de 54 anos, diz que percebeu o gosto e cheiro ruins nesta quarta-feira (20). “Minha esposa já tinha relatado sobre a qualidade da água, mas eu estava sem paladar e olfato por conta da covid-19. Ela e a minha filha, inclusive, começaram a passar mal, eu achei que era exagero. Mas, ontem, eu notei que estava com outro sabor e cheiro”, comenta o morador de São Cristóvão, na Zona Norte.


Por conta da qualidade da água, José vai voltar a comprar galão de água para a casa. “É mais uma despesa. Eu gasto quatro galões por semana e isso dá um custo a mais de R$ 40”, conta o motorista. "Eu me sinto enojado com essas autoridades, que entram para administrar, e não mudam nada. Eles continuam mandando esgoto pra gente", completa.

Ângela Góes, 46 anos, fala que a água está com “gosto horrível” na Pavuna, na Zona Norte, onde mora. Desempregada, ela espera uma solução para o problema. “Com a compra da água mineral, eu tenho uma despesa de R$12 a mais por dia”, lamenta.

O guarda municipal Jorge Barroso, 45 anos, é subsíndico de um prédio de nove apartamentos no Zumbi, Ilha do Governador, e reclama da qualidade da água no condomínio. “Minha esposa, Carla, começou a sentir gosto no último sábado. É um gosto de terra e um cheiro muito esquisito. E olha que aqui no prédio nós temos um filtro que já faz um primeiro tratamento, mas nem isso adianta.”
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“Eu tenho esposa e três filhas, uma delas de quatro anos, que ainda toma mamadeira. Não tem condições de dar essa água com gosto de sujeira para ela”, completa Barroso, que estima um prejuízo nos próximos dias com a compra de galões d’água.
O professor Victor Hugo Magalhães, 30 anos, começou a sentir o sabor ruim desde semana passada. "Eu venho sentindo um gosto estranho na água, como se fosse agua de poço", analisa o morador de Manguinhos, na Zona Norte. Ele também reclama da pressão da água.  "Do fim de semana pra cá, a água está mais fraca", acrescenta. 
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A moradora de Vicente de Carvalho, Zona Norte, Paola Guimarães, 30 anos, observou a mudança no gosto da água no último domingo. "Eu já tinha notado, mas passou despercebido. Até que minha irmã ao voltar do Enem comentou: 'vocês sentiram aquele gosto na água de novo?'. Foi então que eu levei a sério. Continuamos bebendo a água do filtro porque o gosto não é insuportável, mas ano passado nós compramos", afirma a designer e confeiteira. 
A fotógrafa Fernanda Dias, 33 anos, comenta que começou a sentir o gosto ruim nesta quarta-feira, em Campo Grande, na Zona Oeste. “O gosto está estranho. Gosto de terra, ferrugem. Eu reparei que agora pela tarde a água está um pouco turva”, destaca.
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Também na Zona Oeste, Marco Antônio, 58 anos, relata sentir o gosto ruim há dois dias. O corretor de imóveis da Praça Seca diz que o sabor é “mais ou menos de terra”. “Nessa mesma época, no ano passado, a gente estava passando por isso, começou assim. É muito ruim você pagar caro na conta e receber esse serviço”, lamenta.

Procurada, a Cedae ainda não comentou o caso. A Defensoria Pública informou que o Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon) está acompanhando a situação e vai analisar o que pode ser feito. Mas sem previsão.
Há um ano população sofria água turva da Cedae
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Há um ano a população sofria com o abastecimento de água turva pela Cedae. À época, consumidores deixavam as prateleiras vazias nos supermercados por conta da qualidade da água nas torneiras, que nem mesmo os filtros davam conta de tirar o gosto ruim e o mau cheiro. A explicação, na ocasião, foi que a mudança na coloração, sabor e cheira havia sido provocada pela geosmina, um composto orgânico. 
Entretanto, um estudo realizado por pesquisadores da UFRJ na Bacia do Rio Guandu, divulgado pelo RJTV, da TV Globo, apontou que o gosto ruim e o mau cheiro na água da Cedae não foram provocados pela geosmina. A análise foi realizada durante três meses e apontou forte presença de esgotos doméstico e industrial na água do Guandu, que abastece 70% da Região Metropolitana.

O laudo técnico do estudo afirma que a "alta abundância de bactérias de origem fecal e bactérias degradadoras de compostos aromáticos sugerem contaminação por esgoto doméstico e industrial". E essas bactérias estão presentes em número até mil vezes maior que o tolerado.

Também foram identificadas bactérias entéricas de diversos gêneros que seriam indicadores da contaminação por fezes humanas. O documento chama a atenção que a presença de micro-organismos "potencialmente patogênicos e tóxicos na água bruta e no manancial é um alerta para a necessidade de monitoramento dessas águas".
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*Colaborou Yuri Eiras