A fotógrafa Fernanda Dias mostra a coloração e a aparência da água que chega em sua casa - Arquivo Pessoal
A fotógrafa Fernanda Dias mostra a coloração e a aparência da água que chega em sua casaArquivo Pessoal
Por Bruno Gentile*
Rio - Apesar de ter sido constatada apenas nesta quinta-feira (29) a presença de geosmina na água da Estação Guandu, sistema responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana do estado, uma grande parte da população fluminense já suspeitava da contaminação, em função do gosto, cheiro e aparência anormais do líquido que chegava às residências pela torneira ou encanamento. Das milhares de pessoas que ainda sofrem com esse problema, uma delas é a fotógrafa Fernanda Dias, de 33 anos, moradora de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.
Convivendo com esse transtorno há mais de uma semana, ela conta que, além de ter passado pela experiência de ter água contaminada em sua casa, ainda precisou suportar a ausência de fornecimento por um determinado período também, já que acabou ficando sem abastecimento. Fernanda diz que já imaginava a presença de geosmina no líquido, mas que, com a confirmação após análises laboratoriais, ficou indignada com a situação.
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"Então, foi muito constrangedor essa situação toda, porque a água fechou, ficamos sem fornecimento por um tempo e não tivemos nenhum aviso prévio de que isso aconteceria. Além disso, um dia antes de a distribuição ser afetada e paralisar no bairro de Campo Grande, a água já vinha apresentando uma coloração turva e gosto de terra, como se estivesse impura mesmo, ou seja, imprópria ao consumo", falou.
"Pelo fato de estar tendo obra lá em casa, tudo isso ficou ainda mais crítico. Com a ausência de fornecimento de água, o pedreiro não conseguiu trabalhar, já que não tinha as condições básicas necessárias para fazer o serviço, e ainda tinha a questão do calor também, que afetou nosso cotidiano. Depois de algumas horas, a água finalmente voltou, mas ainda com uma potabilidade bem duvidosa. A única solução, no momento, foi sair para comprar galões de cinco litros, ou seja, um gasto a mais para compensar um serviço da Cedae mal feito e de péssima qualidade", completou a fotógrafa.
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Fernanda ainda relata como foi difícil para ela ter de sustentar a obra dentro de casa sem a distribuição adequada de água e de que modo conseguiu fazer para cozinhar, uma vez que o líquido que saia da torneio e do filtro estava visivelmente afetado por impurezas e geosmina. Ela também ressaltou que a Cedae, companhia responsável por abastecer o Rio, tem total culpa nessa situação e não parece, segundo a moradora de Campo Grande, se mexer para resolver o imbróglio.
"No dia que o pedreiro esteve lá em casa, acabamos tendo de cancelar a obra, pois não tinha água na torneira para ele conseguir fazer a massa de cimento e nem nenhum tipo de líquido potável para beber, portanto, resolvemos dispensá-lo por hora. Para cozinhar, também tive de usar os galões. A verdade é que eu não tenho confiança na água que eu bebo, sendo que ainda tenho de pagar por isso, e a Cedae não resolve nunca esse problema. É um absurdo", desabafou.
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Em nota, a Cedae falou sobre a situação envolvendo o estado da água da Estação Guandu e afirmou que todo o líquido distribuído no Rio de Janeiro "encontra-se dentro dos padrões de potabilidade e consumo. E que os resultados da análise das amostras por laboratório externo apresentaram traços de geosmina/Mib em níveis muito baixos, o que explica as alterações de gosto e odor, mas ainda assim atende aos parâmetros do Ministério da Saúde".
Ainda segundo a companhia, "o aumento da dosagem de carvão ativado utilizado de forma contínua na entrada da estação atua na remoção da geosmina. A Cedae também monitora a quantidade e espécies de algas na lagoa e aplica a argila ionicamente modificada com o objetivo de diminuir a proliferação das algas no local".
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A reportagem do O DIA procurou a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa) para saber se haverá punições à Cedae por distribuir água com impurezas, mas ainda não obteve resposta.
Comprovação da presença de geosmina
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A Cedae confirmou, nesta quinta-feira (28), ao receber o resultado da análise feita na água, aquilo que muitos desconfiavam: foi constatada a presença de geosmina na Estação Guandu. Segundo o presidente da companhia, Edes Fernandes de Oliveira, o laudo mostrou que houve uma alta repentina do composto químico a partir do dia 9 de janeiro.
Ainda de acordo com Edes, a concentração de geosmina neste ano foi de 0,02 microgramas por litro, o que configura uma taxa 100 vezes menor do que no começo de 2020, quando o Rio também foi afetado pela alteração na água, ainda antes da pandemia do novo coronavírus eclodir no país. Para resolver o transtorno da presença desse composto químico na distribuição, está sendo utilizado carvão ativado na Estação Guandu.
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*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes