Apesar do alto risco de contágio na cidade do Rio, cariocas lotaram as praias do Arpoador, Leblon e Ipanema - Estefan Radovicz
Apesar do alto risco de contágio na cidade do Rio, cariocas lotaram as praias do Arpoador, Leblon e IpanemaEstefan Radovicz
Por Luísa Bertola*
Rio - Os dados da Prefeitura do Rio mostram que, atualmente, a taxa de letalidade da covid-19 é de 9,2% por 100 mil habitantes. A capital fluminense registrou 17.648 óbitos por coronavírus até a manhã desta segunda-feira. Na semana passada, o Rio se tornou a cidade com o maior número de óbitos por coronavírus do Brasil e já ultrapassou até a cidade de São Paulo. Em entrevista ao DIA, a pesquisadora em saúde do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde do COPPEAD/UFRJ e Membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ, Chrystina Barros, explicou que a alta taxa de letalidade está diretamente ligada a falta de testagem da população.

"A letalidade de uma doença significa o número de óbitos decorrentes de uma doença sobre o total de número de casos dessa doença. O que acontece especificamente no Rio de Janeiro é que comparando até com outros países, a capital tem testado em torno de 25 pessoas por cada mil habitantes. Se a gente olhar, por exemplo, a Inglaterra ou alguns países da Europa, esse número chega a 800 pessoas por cada mil habitantes. Então, é lógico, se nós estamos testando basicamente apenas pessoas que têm sintomas, nós não temos o número real de casos de doença, e por conta disso, a letalidade será mais alta", explicou Christyna.
A pesquisadora defende a testagem em massa da população para que seja possível aplicar as políticas e diretrizes adequadas de isolamento. "Ter uma letalidade alta no Rio de Janeiro, infelizmente, passa por um indicador que não é confiável, mas quando a gente observa que o Rio de Janeiro tem o maior número absolutos de óbitos, comparados a outros munícipio. Quando compara-se, por exemplo, em relação a São Paulo, que tem quase que o dobro de habitantes do Rio, a gente vê que aqui tem proporcionalmente o maior número de mortes por 100 mil habitantes. Nós estamos testando pouco, temos uma política de isolamento e um controle de pessoas contaminadas muito deficientes, com isso a doença está sem controle, o número de casos de pessoas doentes sobe, por consequência das que precisam internar, das que complicam e morrem e daquelas que nem conseguem ter internação e acabam morrendo, sem assistência".
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Levantado pela pesquisadora, o Rio pode não apresentar uma taxa de letalidade tão alta, já que o município testa tão pouco a população. Ela ainda ressalta, "o que não significa que a notícia seja boa, significa que faltam informações", com os números estão "descontrolados". Christyna também falou sobre as altas taxas de transmissão para a doença no munícipio. "As taxas de transmissão estão superiores a 1, ou seja, 100 pessoas transmitem, hoje, para 120 pessoas. E sim, nós amargamos a posição da cidade com o pior número de mortes por cada 100 mil habitantes".
A questão dos testes que perderam a validade e não puderam ser utilizados também foi um ponto levantado pela pesquisado, para ela isso atrapalha a "confiabilidade das informações" para a população. "Infelizmente, nós vemos testes perdendo a validade. Por exemplo, o governo do estado do Rio chegou a anunciar um programa de testagem em massa e não conseguiu implementar. Hoje, o estado não faz nem 40% dos testes que foram prometidos no final de dezembro e isso tudo traz informações inconsistentes e, claro, total falta de confiabilidade ou de transparência em todas essas informações tão necessárias para que haja o controle adequado da doença e a informação da gravidade da situação para toda a população".

"O Rio de Janeiro amarga o pior cenário possível. A descoordenação entre o governo federal, estadual e municipal. Um governo estadual com várias trocas de secretários, corrupção, má gestão, falta de investimento em atenção primária à saúde e o resultado são esses números tristes que a gente vê. E o governo não consegue deixar claro a gravidade da situação", lamentou.
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*Estagiária sob supervisão de Beatriz Perez