Prefeitura do Rio proíbe funcionamento de feiras e irrita trabalhadores da categoria
Decisão foi publicada no Diário Oficial do município, na última terça-feira (2)
Rio - A população carioca, em geral, já sofre há tempos com problemas relacionados ao desemprego e boas fontes de renda para se sustentar. E, na semana passada, uma nova categoria de trabalhadores foi prejudicada por uma mudança nas leis da capital fluminense. A Prefeitura do Rio resolveu suspender, na terça-feira (2), a ocorrência de feiras de variedades e artesanato no município, segundo publicação do Diário Oficial (DO). Com isso, muitas pessoas que dependiam dos lucros desses eventos foram impactadas pela decisão. Quem está sofrendo com esse problema é a organizadora de feiras e expositora Marcia Regina Veiga, de 59 anos.
Responsável pela Feira Fashion Ilha, na Praça da Ribeira, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, ela conta que foi pega de surpresa pela resolução que suspende por 180 dias o funcionamento das feiras e explica como será difícil para os feirantes sobreviverem sem sua principal e, às vezes, única, fonte de renda. Marcia conta ainda que não pretende desrespeitar as regras impostas pelas autoridades, mas que buscará seus direitos como trabalhadora para voltar às atividades, já que não vê razão para essa suspensão, segundo a feirante, tão radical.
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"Minha feira acontece aos sábados, de 9h às 18h, mas esse decreto nos prejudicará demais. Hoje, eu posso garantir que cerca de 85% a 90% de todos os expositores tiram seu sustento das feiras, inclusive eu. Ou seja, se elas não acontecerem, não tenho como receber dinheiro, apesar de eu fazer minhas vendas também pelo Instagram, já que produzo bijuterias. Mas, mesmo assim, fica muito mais complicado do que quando se tem um espaço físico onde se pode comercializar e expor os produtos. No Diário Oficial, as feiras estão suspensas por um período de 180 dias. Como nós, que sobrevivemos disso, conseguiremos ficar seis meses sem trabalho? É um crime o que estão fazendo", disse.
"Aqui na Ilha do Governador, o meu evento sempre aconteceu com autorização. Mas agora, eu não vou arriscar colocar meus produtos em exposição e chegar uma ordem no local para levar minhas mercadorias e de todos os expositores, é um risco desnecessário. Então, o que a gente procura, de fato, é entender o motivo pelo qual as autoridades suspenderem nosso expediente dessa forma, tomando essa atitude tão radical. É claro que nós somos a favor de ordens públicas, para evitar a bagunça social, mas o que não aceitamos é proibir que realizemos nosso trabalho de modo honesto e organizado", completou Marcia.
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A expositora e organizadora de feira comentou também que, por conta da necessidade em voltar com as atividades em ritmo normalizado, ela e alguns membros da categoria recorrerão a algumas figuras públicas do poder, como subprefeitos, para reivindicar uma solução que agrade a todos e não deixe os feirantes à deriva. Para Marcia, é importante que se tenha normas municipais, desde que não se prejudique e afete o emprego da população carioca.
"O que quero deixar claro é que ninguém da nossa classe de funcionários é contra regras que ajudem a evitar a propagação da desordem pela cidade. Se tiverem que redigir normas para a ocorrência das feiras, não há problema nisso. O que, na minha visão, não pode acontecer, é a interrupção dos nossos empregos e vidas por conta de leis radicais que não fazem o mínimo sentido. Precisamos, enquanto grupo, exigir nossos direitos. Eu continuarei tentando procurar algumas figuras importantes da capital para levar os questionamentos sobre o assunto e conciliar uma solução que agrade a todos”, finalizou.
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Futuro incerto
Dona da marca de produtos artesanais Ballaio Rosa, Marcélia Ferreira, de 55 anos, outra expositora e vendedora de feira, assim como Marcia Regina, também está passando por dificuldades com a determinação da Prefeitura do Rio e não vê perspectiva de melhora, já que sua única fonte de renda é a receita obtida com a venda das mercadorias nesses eventos. Ela conta que não entende a suspensão do funcionamento e que, se isso perdurar realmente por seis meses, a tendência é que fique sem reservas financeiras para sobreviver.
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"É um momento difícil para os feirantes. Durante a pandemia, eu costumava usar o Instagram como uma plataforma para mostrar o meu trabalho e não para vender minhas mercadorias. Minha única fonte de renda é o lucro que arrecado nas feiras, não só da Ilha do Governador, onde participo mais, mas também na Ilha da Gigoia, na Barra da Tijuca; na Antero de Quental, no Leblon; e na Cardeal Arcoverde, em Copacabana. Então, com essa proibição, eu fico sem ter o que fazer e sem entender a suspensão, porque trabalhamos ao ar livre, todo mundo com máscara e respeitando o distanciamento social. Agora, sem as feiras, com as quais eu trabalho há 20 anos, não tem para onde correr”, desabafou.
"Para os próximos meses, eu apenas conto com a esperança da volta das atividades, porque é meu único meio de viver. Minha profissão é essa, se me tiram ela, não consigo ganhar dinheiro para me sustentar. Sendo bem sincera, não parei para pensar nisso ainda. As vendas já estavam bem diminuídas por conta da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, agora então, vai ser pior", completou Marcélia.
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A reportagem do O DIA procurou a Prefeitura do Rio para saber o motivo da suspensão das feiras na cidade, mas não obteve resposta. O espaço está aberto para manifestação.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes