Após o relato destes acontecimentos, as prefeituras dos municípios entraram em contato com familiares dos idosos e eles foram vacinados corretamente. Essa prática, inclusive, é crime, alertam especialistas em Direito. Se for comprovado o desvio da dose, pode ser configurado crime de peculato, que prevê pena de prisão de 2 a 12 anos e multa, informou o delegado João Valentim Neto, da 105ª DP (Petrópolis), que investiga um dos casos.
CONFIRA OS CASOS
No Rio de Janeiro, um senhorzinho foi ao posto drive-thru do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, para receber a dose do imunizante, mas o profissional de saúde, inicialmente, não aplicou a dose.
Nas imagens feitas pelo familiar do idoso, o profissional aplica a agulha, porém ele não aperta a seringa. Segundo o parente, outra pessoa da equipe alerta que a vacinação não foi realizada e, então, só após a notificação, o profissional aplica a dose da vacina corretamente.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio de Janeiro, houve uma intercorrência na aplicação da dose, que foi imediatamente resolvida. A pasta recomenda que, em caso de dúvida sobre a aplicação, os familiares questionem imediatamente os profissionais de saúde. Fotos e imagens estão totalmente liberadas no momento da aplicação da vacina.
Em Niterói, o caso aconteceu, na última sexta-feira, no posto de vacinação drive-thru no Campus do Gragoatá na Universidade Federal Fluminense. A técnica de enfermagem inseriu a agulha, mas não empurrou o líquido. No momento em que o idoso é vacinado, os parentes comemoraram, mas, após reverem o vídeo, perceberam que a aplicação correta não havia acontecido.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Niterói, a técnica de enfermagem foi imediatamente afastada de suas funções, assim que a pasta tomou conhecimento do caso. "O fato está sendo apurado e as medidas cabíveis serão tomadas".
A SMS realizou uma auditoria no local e constatou apenas uma seringa descartada com líquido. "Todos os profissionais que participam da ação de imunização no drive-thru na UFF passam por um treinamento e supervisão constantemente, onde são dadas informações técnicas quanto a vacina e sua aplicação. Os técnicos de enfermagem e enfermeiros foram capacitados para a ação na última quarta-feira, com carga horária de 6 horas", disse a SMS, em nota.
Em Petrópolis, uma senhorinha de 94 anos também recebeu a "vacina de vento" na sexta-feira. No vídeo, a técnica de enfermagem tem dificuldade em abrir a proteção da agulha da seringa e o parente da idosa, que está no banco de motorista e filmando a ação, sugere trocar a seringa. Com isso, a profissional pega outra seringa, no entanto, sem a dose do imunizante contra covid-19 e aplica na idosa.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Petrópolis informou que tomou todas as providências cabíveis assim que recebeu a denúncia e confirmou que a seringa utilizada para vacinar a idosa estava vazia no momento da aplicação. As equipes fizeram contato com a família e a idosa foi vacinada no sábado.
A secretaria abriu procedimento interno de investigação para apurar a responsabilidade sobre o fato. Segundo informações da pasta, a técnica de enfermagem é contratada e foi imediatamente afastada e o caso foi levado ao Conselho Regional de Enfermagem, que abriu investigação interna.
A técnica de enfermagem se apresentou ontem à secretaria. Ela garantiu que não percebeu o problema e assegurou que não foi intencional, mas sim um problema com a seringa.
A Secretaria de Saúde de Petrópolis esclareceu que este foi um caso isolado e que mantém o controle das vacinas, além de cobrar o registro de qualquer ocorrência durante a vacinação.
O governo municipal comunicou o caso à Polícia Civil, que instaurou procedimento para apurar o caso. "O governo segue colaborando com as investigações a fim de esclarecer integralmente os fatos".
"A Secretaria de Saúde está reforçando junto às equipes os protocolos a serem seguidos durante o trabalho para garantir a transparência na aplicação das doses. É direito do vacinado e/ou familiar pedir para ver a ampola de onde a vacina está sendo retirada, assim como verificar o rótulo. Também é direito registrar, seja em vídeo ou foto, o momento da aplicação", , informou em nota.
E continua: "O responsável pela aplicação tem que se certificar, antes da aplicação e na presença do vacinado, que a seringa está com a dose. Após a aplicação, deve-se certificar, ainda na frente do vacinado, que a seringa está vazia. Por último, a equipe deve informar, no cartão de vacina, qual a vacina aplicada e a data de retorno para a segunda dose”.
*Estagiária, sob supervisão de Gustavo Ribeiro