Famílias precisaram sair do galpão cedido por igreja na última sexta-feira (12) - Divulgação
Famílias precisaram sair do galpão cedido por igreja na última sexta-feira (12)Divulgação
Por *Thalita Queiroz
Rio - Ao todo, 58 famílias atingidas pelo incêndio que destruiu a ocupação "Unidos Venceremos", em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, voltaram a ficar desabrigadas na última sexta-feira (12) e sem ajuda da Prefeitura do Rio. Os moradores estavam alojados em um galpão cedido por uma igreja da região desde o dia 14 de janeiro, mas o local precisou iniciar uma obra que já estava planejada.
Usando apenas a roupa do corpo, as famílias que ainda não conseguiram o Auxílio Habitacional Temporário (AHT), estão tentando se abrigar nas casas de outras famílias que conseguiram receber o aluguel social. De acordo com a representante das famílias desabrigadas, Rosangela Rocha, de 52 anos, não há mais diálogo com a Secretaria Municipal de Habitação e Cidadania (SMHC). "A gente pensou que não fosse demorar tanto, pensamos que a prefeitura iria resolver a situação de todo mundo junto, mas não foi isso que aconteceu", conta Rosangela.

Ao todo, 147 famílias das 205 desabrigadas conseguiram receber o Auxílio Habitacional e outras 58 seguem sem respostas. "A prefeitura não deu previsão, parece até que resolveu a vida de todo mundo. Eles sabem muito bem quais são as famílias, pois todas estão cadastradas no sistema da secretaria", afirma a representante.
Publicidade
Defensoria Pública do Rio de Janeiro cobra ação da Prefeitura
No último dia 5, a Ouvidoria Externa realizou um encontro com os moradores por meio da organização BASE, que atua com projetos sociais junto a essas pessoas desde o início da pandemia. Durante o encontro, as famílias já haviam relatado certa dificuldade em conseguirem se manter no local sem a ajuda de doações. Para o Ouvidor-Geral, Guilherme Pimentel, a situação exige urgência.

"Cinquenta e oito famílias estão vivendo de favor em um galpão emprestado por uma igreja. Lá, há apenas dois vasos sanitários para cerca de 200 pessoas, entre elas muitas crianças pequenas e alguns idosos. Além disso, elas só têm até semana que vem para ficar no local, e não possuem lugar para onde ir. É preciso garantir o aluguel social imediato como solução temporária, sem deixar de providenciar moradia digna definitiva para as mais de 200 famílias que perderam tudo no incêndio", relatou Guilherme na ocasião.

Após a mediação entre os moradores e a Ouvidoria, foi realizada uma nova reunião na terça-feira (11), desta vez com o Núcleo de Terras e Habitação (NUTH). No momento, a Defensoria aguarda resposta de uma solicitação enviada à Prefeitura para entender porque essas 58 famílias não receberam o AHT e que providências podem ser tomadas para garantir que essas pessoas tenham o direito à moradia garantido.
Publicidade
Voluntária tenta adaptar centro social para abrigar 20 famílias

Em uma tentativa de ajudar essas dezenas de famílias, Rosangela está adaptando um centro social no bairro de Sepetiba, Zona Oeste do Rio. "O objetivo é abrigar essas pessoas, mas o local só tem espaço para no máximo 20 famílias. Tem uma família com seis filhos, por exemplo, como que uma outra família, que já não tem condição, vai conseguir abrigar esse tanto de gente em uma mesma casa? Sem falar que eles todos estão muito desestabilizados, tem crianças que não podem mais ver fogo pois estão traumatizadas", relata a voluntária.

Além de perderem o galpão, as famílias também perderam o ponto de recebimento das doações. "Tudo o que eles tinham era de doação, alimentos, roupas, colchões… não temos mais nada disso já que não há um local para recebermos esses materiais", desabafa Rosangela.
Procurada, a Secretaria Municipal de Habitação informou que 146 famílias já foram contempladas com o Auxílio Habitacional Temporário (AHT), "cujo primeiro pagamento foi realizado no dia 20 de janeiro". Confira a íntegra:
Publicidade
"Importante ressaltar que, das 58 famílias, os processos de 39 tiveram análise concluída na última sexta-feira (12). Os processos aguardam liberação e publicação no Diário Oficial para que o pagamento seja efetuado a esses novos beneficiários.

A Secretaria Municipal de Assistência Social não recebeu comunicação oficial sobre o despejo do galpão onde os desalojados escolheram ficar, depois do incêndio na ocupação “Unidos, venceremos”, ou pedido de realojamento. Ainda na noite do incêndio, de 14 para 15 de janeiro, eles foram levados temporariamente para o Centro Esportivo Miécimo da Silva, onde foi iniciado o trabalho de acolhimento e cadastramento dessas famílias. Elas não aceitaram ir para equipamentos do município, conforme oferta da Prefeitura, informaram que se hospedariam em casas de parentes até começar a receber o aluguel social e deixaram o abrigo temporário na própria sexta-feira, 15.
No entanto, sem comunicar às autoridades municipais, decidiram ir para o galpão próximo à ocupação. Caso desejem ser atendidas pela Assistência Social, deverão aceitar abrigo nos equipamentos municipais disponíveis para esses casos".
Publicidade
Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes*