Hospital de Campanha do Riocentro ficou na ordem de R$ 370 milhões, de acordo com os dados apurados à época. Nem sequer 1/4 dos 500 leitos que seriam disponibilizados foram ocupadosArquivo Pessoal

Por Bernardo Costa
Rio - No momento em que cresce a taxa de ocupação dos leitos operacionais de covid-19 na cidade do Rio, a Rede SUS contabiliza 93 leitos de UTI e 313 de enfermaria impedidos de receber pacientes para o tratamento da doença na Região Metropolitana. Os leitos impedidos aparecem no Censo Hospitalar da Secretaria municipal de Saúde, e estão localizados em 22 hospitais públicos. Todos ficam na cidade do Rio, à exceção do Hospital Estadual São José, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e são administrados pelo município, estado e Ministério da Saúde. Nesta terça-feira, a taxa de ocupação de leitos operacionais na capital está em 86%. Há uma semana, no dia 4, a taxa era de 76%.
Na relação de leitos de UTI impedidos (93 ao todo), a maior quantidade está nos hospitais da rede federal: 30 impedidos no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), 28 no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, 6 no Hospital Federal da Lagoa, 1 no INI Fiocruz e 1 no Hospital Universitário Gaffree e Guinle - o que equivale a 71% do total.

O panorama se repete nos leitos de enfermaria. Dos 313 leitos impedidos, 72% estão na rede federal: 168 no HFB, 36 no Hospital Federal do Andaraí (HFA), 11 no Hospital Federal da Lagoa, 7 no Hospital Universitário Gaffree Guinle e 4 no INI Fiocruz. Os dados foram coletados às 15h desta terça-feira.
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Segundo a defensora pública Thaísa Guerreiro, coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva da Defensoria Pública do Estado do Rio, o principal motivo para o bloqueio dos leitos é a falta de profissionais. Há, ainda, outras razões, como falta de insumos, medicamentos ou equipamentos e necessidade de reparos de infraestrutura.
"Esses leitos bloqueados fazem falta, especialmente após o fechamento dos hospitais de campanha, inclusive o do Riocentro, o que gerou uma redução da oferta assistencial no Rio. Se esses leitos não forem desbloqueados de forma rápida, nós poderemos voltar ao cenário verificado no ano passado, quqando havia pessoas morrendo na fila de espera por leito", alerta a defensora pública.
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Ela chama atenção também para o impacto que a abertura desses leitos pode provocar na assistência a pacientes de outras enfermidades que não a covid-19. Atualmente, segundo Thaísa Guerreiro, há aproximadamente 200 pacientes de outras doenças à espera de um leito no Rio.
"Estamos hoje praticamente com a mesma condição assistencial na Rede SUS verificada antes da pandemia, e ainda tivemos leitos convencionais que foram transformados em leitos de covid. Com o desbloqueio desses leitos que hoje estão impedidos, poderemos desafogar a fila das outras doenças, que no momento é maior que a fila de covid. Estamos caminhando para a desassistência dessas pessoas", diz Thaísa Guerreiro.
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Diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência do Estado do Rio (Sindsprev/RJ), Sidney Castro afirma que a maior causa do bloqueio de leitos na rede federal é a falta de profissionais.
"Isso se agravou agora, no último dia 28, com a demissão de 1.419 profissionais que atuavam na rede federal do Rio. São pessoas experientes que estão fazendo falta. Emergências e centros cirúrgicos estão sendo fechados com a saída desse pessoal, como aconteceu no Hospital de Bonsucesso, em que os serviços de transplantes de córneas e de rins foram interrompidos. Somos a favor do concurso público, mas, enquanto ele não é feito, os profissionais temporários precisam ter contrato renovado", diz Sidney Castro.
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Demais leitos impedidos na rede
Além da rede federal, os demais leitos de UTI impedidos no Rio são administrados pelas outras esferas da administração pública, e estão no Hospital Estadual Getúlio Vargas (8), Hospital Municipal Souza Aguiar (7), Hospital São Francisco na Providência de Deus (7), Hospital Municipal Salgado Filho (2), CER Leblon (2) e Hospital Municipal Evandro Freire (1).
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Já em relação aos leitos de enfermaria, as outras unidades com leitos impedidos além das que fazem parte da rede federal são: Hospital Municipal Salgado Filho (18), Hospital Municipal Miguel Couto (12), Hospital Municipal da Piedade (7), Hospital Municipal Souza Aguiar (3) e Hospital São Francisco na Providência de Deus (47).
Segundo o infectologista Rivaldo Venâncio, da Fiocruz, os leitos impedidos fazem falta neste momento em que a pressão sobre a Rede SUS aumenta no Rio.
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"Há 15 dias não imaginávamos que a situação crítica verificada em outros estados, como a que vemos em São Paulo e no Sul do país, poderia chegar ao Rio. Mas a situação no Rio vem se agravando nesse período e entendo que as medidas tomadas pela prefeitura estão corretas, pois estamos vendo um aumento no número de casos. Além da abertura de leitos, é preciso que os governos intensifiquem as fiscalizações para conter as aglomerações, inclusive nos transportes. É importante também que cada cidadão tome as medidas sanitárias de proteção individual e coletiva", diz o infectologista.
MS: carência de profissionais se deve a afastamentos
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A Superintendência do Ministério da Saúde no Rio afirma que, em relação ao impedimento de leitos por falta de profissionais, houve um aumento no déficit de pessoal em todas as suas unidades federais em decorrência do afastamento de profissionais por licença médica, relacionadas ou não à covid-19, e também de profissionais que fazem parte de grupo de risco para a covid-19, problema que, segundo a superintendência, está sendo resolvido com o retorno gradativo ao trabalho.

Quanto aos leitos impedidos por problemas de manutenção, a superintendência afirma que já estão sendo adotadas as providências necessárias para a solução adequada a cada situação.
A nota ainda acrescenta que há na rede hospitalar federal no Rio 78 leitos de enfermaria e 42 de CTI cedidos exclusivamente para pacientes graves com covid-19. E que o número é superior aos 70 leitos estabelecidos para a unidade de saúde de referência da rede no atendimento a pacientes com covid-19, o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), que está com leitos bloqueados devido ao incêndio do ano passado, e com obras em curso. 
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Ainda de acordo com a superintendência, o Ministério da Saúde já habilitou 1.601 leitos de UTI desde o início da pandemia na rede estadual e municipal de Saúde.

A superintendência afirma que está em fase final a apresentação dos 4.117 profissionais de saúde selecionados por meio do Edital nº 14/2020, no 6º certame, para as unidades federais, e que, destes, mais de 3.350 profissionais já se apresentaram em suas unidades.
Sobre os leitos impedidos nos hospitais administrados pela prefeitura, a Secretaria municipal de Saúde (SMS) informou que está fechando novos convênios para a contratação de profissionais, e que aguarda o retorno ao trabalho dos servidores da saúde vacinados com a segunda dose para que os leitos sejam ativados.  
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Segundo a SMS, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para covid-19 no município é de 90%. Já os leitos de enfermaria têm taxa de ocupação de 80%. 
O DIA aguarda resposta da Secretaria de Estado de Saúde, que, quando enviada, será atualizada nesta reportagem.