Por MARTHA IMENES
Carla Grigório de 43 anos, desistiu de esperar o auxílio emergencial de 2020, que até hoje está em análiseDivulgação
A pandemia de coronavírus e o fim do auxílio emergencial em dezembro, criado justamente para amparar as pessoas que perderam a renda nesse período, mostram uma triste realidade nas favelas brasileiras: oito em cada 10 famílias dependem de doações. A pesquisa "A favela e a fome", realizada pelo Instituto Locomotiva, em parceria com Data Favela e Cufa, entrevistou 2 mil moradores de 76 favelas brasileiras na segunda semana de fevereiro. A pesquisa mostra que cerca de 7 em cada 10 (68%) pessoas que vivem nestas favelas afirmam que a pandemia fez piorar a sua alimentação - isso representa um aumento de 25 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, realizado em agosto de 2020.
Entre eles, a média de refeições diárias é de menos de duas (1,9) e 68% afirmam que, nos últimos 15 dias, em ao menos um dia faltou dinheiro para comprar comida. Com o fim do auxílio emergencial, 67% precisarão cortar despesas básicas - como comida (53%), limpeza (45%) e atrasar contas (61%) -, enquanto somente 8% conseguirão manter o padrão de consumo. A pesquisa aponta também que 71% das famílias das favelas brasileiras estão sobrevivendo com menos da metade da sua renda e 93% não têm qualquer dinheiro guardado.
As doações ajudaram a lidar com o problema de forma mais imediata: 90% dos moradores de favelas receberam alguma doação durante a pandemia do coronavírus e 8 em cada 10 famílias entrevistadas afirmaram que não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza ou pagar contas mais básicas caso não tivessem recebido a doação.
Mais de 16 milhões de pessoas moram em favelas no Brasil atualmente. Se essa população compusesse um estado, seria o quinto maior, atrás apenas de SP, MG, RJ e BA. Entre eles, 8 em cada 10 conhecem alguém contaminado pela covid-19 - se considerar apenas a Região Norte, esse número sobe para 96%. Vale destacar que 97% dos moradores de favela não têm plano de saúde, enquanto no Brasil como um todo 74% não o possuem. A maioria da favela (65%) afirma tentar seguir as medidas de prevenção do vírus. Entre quem não consegue seguir, a principal justificativa é a necessidade financeira (78%).
Saiba como ajudar
E como ajudar quem realmente precisa? O DIA mostra. Entidades sérias como a Central Única das Favelas (Cufa) e a ONG Rio de Paz aceitam doações de alimentos e até mesmo de dinheiro.
Criado em junho do ano passado o projeto Mães da Favela, da Cufa, visa criar uma renda mínima de auxílio a milhares de mães residentes de favelas em todo o Brasil. No Rio de Janeiro, uma das beneficiadas pelo projeto foi Carla Grigório, de 43 anos, moradora do Morro da Cotia, no Lins, Zona Norte do Rio.
Mãe de 4 filhos ela viu sua renda encolher na pandemia e sem o auxílio emergencial, que não foi deferido pelo Ministério da Cidadania, se viu no sufoco. "Após um longo período em análise meu requerimento foi negado. Entrei com recurso, que foi negado em menos de 48 horas. Quando tentei novamente a informação era de CPF irregular. Eu desisti", explica a O DIA.
Mãe de Lucas (22 anos), Matheus (18), Mayra (15) e Maísa (12) ela conta que os filhos a ajudam na confecção de turbantes e acessórios que vende pelas redes sociais. "Trabalho com eventos, faço turbantes e acessórios, caldos. Mas com a pandemia tudo parou", explica.
E foi com o programa desenvolvido pela Cufa que ela conseguiu auxílio nos meses mais críticos.
"Fui agraciada com R$ 240 do Mães da Favela. Paguei o gás e ajudou muito. Recebi cestas de alimentos, água. Aqui a falta d'água é frequente", diz Carla. A cesta distribuída pelo Mães da Favela tem arroz, feijão, óleo, açúcar, macarrão, biscoito, farinha e fubá. Esses mantimentos são imprescindíveis na alimentação e ultimamente têm estado bem caros.
Para conhecer o projeto e doar basta acessar
https://www.maesdafavela.com.br/doar. A Cufa disponibiliza ainda conta para depósitos no Bradesco, agência 0087, conta-corrente 5875-0, o CNPJ é 06.052.228/0001-01. E também a Vakinha Virtual no link http://vaka.me/1758793. E quem puder dar uma forcinha pra essa mãe e curte turbantes e acessórios é só entrar no perfil dela no Facebook (https://www.facebook.com/prettaturbantes) e fazer a encomenda pelo messenger.
ONG atua em todo Brasil
Em fevereiro a ONG Rio de Paz esteve nas favelas do Mandela e Jacarezinho, ambas na Zona Norte do Rio com um dos piores IDHs do estado, pra distribuir alimentos. No Mandela, 60 cestas básicas foram distribuídos aos moradores. No Jacarezinho foram distribuídas 1,5 tonelada de vegetais e frutas.
O presidente da ONG Antonio Carlos Costa fez uma publicação na página da Rio de Paz no Facebook: "Agradecemos imensamente nossos colaboradores pela parceria, principalmente nesse período de pandemia quando nossa demanda aumentou muito".
No dia 5 de março, foi a vez da ocupação Elma, na Zona Portuária do Rio, que recebeu 100 cestas básicas. Os alimentos foram doados por Rio Decor, Tapioca da Terrinha e Broadmedia. No prédio abandonado, vivem cerca de 70 famílias, a maioria desempregada ou que vive do trabalho informal. As condições do local, cheio de crianças, são insalubres e desumanas. Os corredores são escuros, sem ventilação e luz do sol, os banheiros são improvisados e, consequentemente sem água, há infiltração nas paredes, mofo e fiação exposta.
"A maioria está desempregada e mora ali por não ter como custear uma moradia digna. Mal conseguem se alimentar porque falta dinheiro até para comida, situação que piorou ainda mais com o fim do auxílio emergencial. Ainda estamos na pandemia e a possibilidade de conseguir trabalho é muito remota", explicou Antonio Carlos.
A ONG Rio de Paz agradece a quem puder fazer doações e disponibiliza o número da conta no Banco Itaú agência 1185, conta 44820-4, CNPJ 09.551.891/0001-49. O Pix é o número do CNPJ. Para quem for doar para a ocupação é preciso colocar no valor, depois da vírgula o número 20. Por exemplo, se for doar R$ 20,00 é só acrescentar os 20, ficando R$ 20,20.
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