Em maio, mototaxistas fizeram passeata na Cidade de Deus contra morte de um colega. Moradores afirmaram que homem foi baleado por PMsLuciano Belford/Agencia O Dia

Por Yuri Eiras
Rio - A motocicleta é o principal veículo das favelas do Rio. Todos os dias, milhares de mototaxistas da Região Metropolitana sobem ladeiras e atravessam becos que nenhum carro de passeio conseguiria. O problema é que esses trabalhadores têm sido vítimas de extorsão de milicianos e traficantes, que os obrigam a pagar taxas que passam de R$ 300 mensais para circular nas comunidades. É o que aponta um levantamento realizado pelo Disque Denúncia, a pedido do DIA.
Nos últimos seis meses, o Disque Denúncia recebeu 35 registros de ameaças e extorsões a mototaxistas. Em dezembro, reportagem já havia relatado que criminosos têm proibido a entrada de entregadores em favelas. Foram mais de 70 denúncias relativas a dificuldades de trabalho em um ano, média de pouco mais de uma por semana. A rotina tem sido estressante para muitos deles, caso de Carlos Eduardo da Silva, o Pelezinho, motoboy e organizador de manifestações a favor da categoria.
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"A gente tenta trabalhar, mas está cada vez mais difícil. Em áreas de tráfico e milícia somos extorquidos e reprimidos. Milicianos sempre revistam a moto, revistam o telefone. Para humilhar ainda mais, mandam sair da moto e pedem para fazer entrega a pé", desabafa Carlos Eduardo. Felipe (nome fictício), mototaxista em um bairro da Zona Oeste, tem sofrido com extorsões. "Quem trabalha parado (como em pontos de mototáxis) tem que pagar a semana. Eles anotam. Teve um dia que minha moto quebrou, trabalhei dois dias e basicamente 70% do que recebi foi para eles. Eles tiram R$ 300 por mês de cada um", conta.
O Disque Denúncia recebeu relatos de extorsão em vários pontos da Região Metropolitana - da Zona Sul à Baixada Fluminense. Há relatos de pagamentos a criminosos em Cascadura, na Zona Norte, em Inhoaíba, na Zona Oeste, e no Centro do Rio; Balneário Ana Clara, Campos Elíseos e Vila Meriti, em Duque de Caxias; e no Fonseca, em Niterói.
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Em uma rua movimentada da Gávea, afirma um denunciante, "pode ser visto, na parte da noite, por volta das 19h50, um traficante, oriundo da Rocinha, realizando a cobrança de taxa de segurança do comércio e dos taxistas". 
Em Nova Iguaçu, em plena região central, de comércio movimento, mototaxistas são obrigados a pagar taxas semanais de R$ 57 a um miliciano que alega ser dono do ponto, diz uma denúncia. Já em Santa Cruz, bem próximo ao hospital municipal Pedro II, um homem ligado à milícia estaria "cobrando taxas de segurança aos mototaxistas e comerciantes". O miliciano, "que pode ser encontrado diariamente, em diversos horários", "faz ameaças" a quem não pagar. A testemunha aponta que ele ainda teria grande quantidade de armas escondidas em casa.
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Procurada, a Polícia Civil informou que "a 15ª DP (Gávea) apurou denúncias de cobranças irregulares na região, que se mostraram inverídicas" no local de atuação. A 36ª DP (Santa Cruz) afirmou que "apura constantemente a atuação de organizações criminosas na região, com diversas investigações em andamento".