Ricardo Nascimento fez apelo pelo WhatsApp: Estou sem oxigênio
Ricardo Nascimento fez apelo pelo WhatsApp: Estou sem oxigênioArquivo Pessoal
Por Jessyca Damaso
Rio - Após seis dias de espera por um leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), Ricardo Nascimento de Oliveira, de 45 anos, que estava internado com covid-19, não resistiu e morreu na manhã desta quinta-feira. "Ele esperou durante todos esses dias a vaga e quando saiu a tal vaga, ele não resistiu. O coraçãozinho dele não aguentou", contou a Greice Oliveira, esposa do paciente, aos prantos.
Um dia antes de conseguir transferência para o Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz (INI), Ricardo, que estava internado na UPA de Queimados, na Baixada Fluminense, fez um desabafo angustiante para a mulher. Em uma troca de mensagens, ele pediu ajuda:

Ricardo: “Estou morrendo”.

Greice: “Não, para com isso”.

Ricardo: “Não sei se aguento até amanhã”.

Greice: “Aguenta firme”.

Ricardo: “Estou falando sério”.

Greice: “Pelo amor de Deus”.

Ricardo: “Não tenho oxigênio”.

Greice: “Respira devagar”.
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Greice disse que o marido começou a sentir os sintomas da covid-19 no dia 10 de março e, desde então, começou uma peregrinação por várias unidades de saúde em busca de atendimento. Em todas, Ricardo foi medicado e o mandaram voltar para casa.

No entanto, na última sexta-feira (19), o quadro dele piorou e estava com muita falta de ar. Greice o levou para a UPA de Queimados, onde descobriu que ele precisava urgentemente de um leito de UTI.
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"Ele ficou lá e falaram que iam dar uma medicação para ele, logo em seguida veio a enfermeira falando que eu teria que levar ventilador e travesseiro porque a unidade não tem ar-condicionado. É um calor do inferno e ele estava desde sexta esperando uma vaga".
Greice e Ricardo - Reprodução/TV Globo
Na quarta-feira, Greice precisou recorrer à Defensoria Pública, porque a unidade de saúde não queria entregar o laudo de Ricardo. "Se deixarmos nas mãos deles, eles não estão nem aí, é um descaso", afirmou a mulher, que conseguiu a vaga de UTI através de uma liminar da Justiça.
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A Secretaria Estadual de Saúde (SES), por meio da Central Estadual de Regulação (CER), confirmou que Ricardo conseguiu transferência para o Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz (INI).
Nesta quarta-feira, o Estado bateu recorde de pacientes à espera de leitos em UTI. A quantidade de hospitalizados aguardando por uma vaga era de 582. Hoje, 20 cidades já estão com 100% dos leitos de UTIs ocupados. Os municípios mais afetados ficam da Região Serrana e no interior do Estado. O percentual de ocupação de leitos em UTI é de 96%.
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Baixada Fluminense sofre com falta de vagas de leitos em UTI
Um painel da Secretaria Estadual de Saúde indica que Duque de Caxias está com 94% de ocupação em CTI para pacientes com o novo coronavírus. Nas enfermarias exclusivas para o tratamento da doença, o número é de 92%. Os dados se referem a informações colhidas entre os dias 17 e 22 de março. De acordo com o Estado, a cidade da Baixada Fluminense tem 110 leitos de CTI e 25 leitos de enfermaria para covid-19.

Na última semana, Duque de Caxias entrou em risco muito alto (bandeira roxa) para covid-19, o nível máximo da escala de cinco estágios. A avaliação leva em conta indicadores como o número de mortos na última semana, a ocupação dos leitos e a procura por atendimento. Segundo protocolos do estado, neste caso, a cidade precisa adotar medidas de distanciamento social e adoção de quarentena.
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Em nova atualização do Painel covid-19 no site da Prefeitura de São João de Meriti, a pasta disponibilizou a taxa de ocupação de leitos de UTI que atingiu seu recorde máximo: 100%.
"A Prefeitura de São João de Meriti, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que trabalha 24h por dia para conseguir suprir a demanda que chega ao município, que é o mais populoso da América Latina. Nossas equipes estão em constante atuação para regular o paciente ao hospital mais próximo com o suporte clínico que ele precisa. Por isso, ao chegar na unidade, ele recebe o primeiro atendimento, sendo avaliado de acordo com a gravidade de seu quadro clínico. Permanecendo em leitos até que sua regulação saia",  pronunciou-se a prefeitura por meio de nota.
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O município ainda informou, que a partir da semana que vem, a UPA do bairro Jardim Íris vai passar a receber pacientes de covid-19 transferidos do hospital municipal (a UPA segue fechada ao público), com outros 30 leitos de retaguarda, exclusivamente para pacientes infectados pela doença.