Bianca Castelo Lopes atuava como falsa médica em Duque de Caxias
Bianca Castelo Lopes atuava como falsa médica em Duque de Caxias Divulgação
Por Thuany Dossares e Bruna Fantti
Rio - Remédio tarja preta para dor abdominal, antialérgico para quadro de infecção urinária, mais de um medicamento com o mesmo efeito. Essas são algumas das receitas médicas prescritas por Bianca Castelo Lopes, de 39 anos. A falsa médica foi presa, na tarde de segunda-feira, no Posto Médico Sanitário de Imbariê, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por policiais da 58ª DP (Posse), conforme O DIA antecipou.
A Polícia Civil apreendeu documentos com as queixas médicas de pacientes e os receituários passados por Bianca, em cada caso. Onze deles foram analisados por médicos, a pedido da reportagem, que constataram: os remédios prescritos eram inadequados.
Um dos receituários é da tarde de segunda-feira, mesmo dia da prisão, quando um homem de 42 anos procurou a unidade de saúde com queixa de dor abdominal. Saiu tomando Diazepan, um remédio tarja preta, que pode causar dependência. Isso ocorreu porque, na consulta, Bianca analisou o quadro como uma 'crise de ansiedade' e, além do ansiolítico, prescreveu um antialérgico.
Recorte da receita médica mostra prescrição de ansiolítico para dor abdominal - ARTE O DIA
Recorte da receita médica mostra prescrição de ansiolítico para dor abdominalARTE O DIA
"A queixa principal que está escrita na folha de triagem é dor em flanco esquerdo, que é na região abdominal esquerda. A anotação dela (da falsa médica) é de crise de ansiedade; ela prescreve o Diazepam e Fenergan, o que é incoerente", analisou a médica Luiza Travalloni.
A médica também apontou que Bianca prescreveu antialérgico, com efeito sedativo, para uma jovem que apresentava sinais de infecção urinária. "A paciente se queixava de prurido e disúria, que é ardência para urinar. Isso é sintoma típico de infecção urinária ou candidíase; na prescrição ela coloca Fenergan, que é um anti-histamínico, um tipo de medicação usada para alergia ou para sedativo, pois tem efeito colateral calmante", explicou Luiza.
Já para um paciente que apresentava sintomas de infecção urinária grave, Bianca receitou um antibiótico intramuscular, anti-inflamatório e remédio para dor, sem requisitar exames mais aprofundados.
Uma outra médica, que preferiu não se identificar, ressaltou que o tratamento para pacientes com quadro de coronavírus era inadequado. "Quando a suspeita era de infecção pelo Covid-19, fazia sistematicamente corticoide, o que também não se recomenda o uso de rotina. Os boletins mostram uma qualidade de atendimento (história clínica, exame físico, conduta terapêutica) bastante ruim", analisou.
O mesmo entendimento teve o diretor do Sindicato dos Médicos, Pedro Archer. "Ela receitava alguns remédios que não tinham muito a ver com os casos relatados, como o medicamento Profenid para todo mundo, que é um anti-inflamatório para tirar dor, e usava para quadros que não precisaria usar. Ela também passou Plasil e Bromoprida para um paciente, e são medicamentos que tem basicamente o mesmo efeito", disse.
E finalizou: "ela não chegou a colocar ninguém em risco, mas eu consideraria uma possível iatrogenia, que são os danos causados por excessos médicos".
Pacientes devem procurar a delegacia
A Polícia Civil pede que pacientes que tenham sido tratados por Bianca, que é universitária de medicina e usava a identificação e o carimbo de uma médica para trabalhar, procurem a 58ªDP (Posse), responsável pela investigação. Em depoimento, ela chegou a dizer que atendia mais de 130 pessoas por plantão. Bianca vai responder por exercício ilegal da profissão, falsidade ideológica e crime de perigo para a vida ou saúde de outra pessoa.
 
 
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