José Ricardo foi atendido em Copacabana por uma equipe de abordagem social em março deste ano
José Ricardo foi atendido em Copacabana por uma equipe de abordagem social em março deste anoDivulgação / Secretaria Municipal de Assistência Social
Por Jorge Costa*
Rio - Nos últimos oito anos, José Ricardo Pereira, 65, dormiu ao relento nos bancos do Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Saindo da região, ele foi para o Centro da Cidade viver nas calçadas da Avenida Presidente Vargas e acabou indo para Copacabana, lugar em que encontrou pela primeira vez uma equipe de abordagem da Secretaria Municipal de Assistência Social (Smas), que fez o seu atendimento e encaminhamento para um abrigo.
Antes de conhecer o serviço da unidade, José lembrou do seu antigo medo: “Nunca quis ir para abrigos, temia ficar preso”.
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Segundo a diretora do Centro de Referência Especial de Assistência Social (CREAS) da unidade Daniela Perez, Cirenide de Souza Nascimento, José Ricardo chegou na instituição com poucos pertences, sem banho, carregando em suas mãos um saco de lixo e com os cabelos e barbas desgrenhados e muito compridos.
Em 27 de março, quando ele passou mal ao ser encaminhado para o abrigo: “Sou cardíaco e precisava de atendimento médico. Eles me levaram em uma UPA e me atenderam na hora. Saí de lá com consulta marcada com cardiologista. Em todos esses 20 anos na rua, isso nunca tinha acontecido. Me senti especial”, disse.
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Agora, com roupas novas e cabelo cortado, José aguarda retirar a sua segunda via de identidade e conseguiu retirar a certidão de nascimento. Ele está ansioso para tomar sua segunda dose de vacina contra a covid-19, e no dia 15 de maio, vai dar entrada na sua aposentadoria. “Eu tenho certeza que já deu tudo certo! Assim que eu me organizar aqui no Rio de Janeiro e a minha aposentadoria sair, vou voltar para Minas Gerais”, comentou.
José vive atualmente no Espaço de Atendimento Emergencial Zona Oeste, mais conhecido como "Espaço Taquara". De acordo com o diretor da unidade, Edson Fernandes, o abrigo possui diversos serviços e atividades que podem ajudar não apenas José, mas outras pessoas que estão nas ruas na busca de reestruturar as suas vidas.
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“Nosso abrigo hoje possui diversos espaços e atividades que são planejadas sempre respeitando o distanciamento social e uso de máscaras. Nossos usuários dispõem de cinco refeições por dia: jejum, almoço, lanche, janta e ceia. Nós temos uma sala de convivência com televisão, uma biblioteca recém-inaugurada totalmente informatizada, com diversos gêneros literários", afirmou Edson.
O diretor também disse que a unidade possui parcerias com a iniciativa privada e dispõe de cursos de capacitação. Através da qualificação, muitos residentes aprendem atividades podem ajudar na busca de uma oportunidade no mercado de trabalho.
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"O nosso abrigo é um lugar totalmente arborizado onde incentivamos o cuidado com o meio ambiente por meio de oficinas de jardinagem, temos o plantio de uma horta comunitária e estamos realizando parcerias com a iniciativa privada, oferecendo cursos de capacitação. O nosso último foi de sanitização e temos também outro curso que qualifica o usuário para trabalhar como porteiro”, disse Edson.
Uma entre muitas vidas recuperadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social
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O caso de José é um entre muitos exemplos de vidas que foram recuperadas pelo trabalho conjunto das equipes que são coordenadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Nos três primeiros meses deste ano o órgão alcançou 265.719, batendo recorde no número de atendimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade.
José Ricardo foi atendido pelo CREAS, que é responsável pelo cuidado de pessoas que sofreram violações de direitos, das populações vulneráveis, de idosos, crianças e adolescentes vítimas de violência, e de moradores em situação de rua.
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A unidade fez o seu acolhimento e encaminhou o desalentado para um abrigo. De acordo com a secretária de assistência social, Laura Carneiro, o propósito da rede de acolhimento é oferecer melhores condições de vida a essas pessoas.
“Nosso trabalho é ampliar e requalificar toda a rede de atendimento da Secretaria, e as condições dos abrigos, é tornar visível essa população vulnerável da nossa sociedade, oferecendo-lhe melhores condições de vida”, afirmou.
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Desde 1º de janeiro, foi inaugurado o Espaço Cazuza para crianças de 0 a 8 anos; feita parceria com a Fecomércio para reformar os abrigos Dina Sfat e da Ilha do Governador; foram reformados dois Conselhos Tutelares e outros dois estão sendo reformados; obras e reparos em 13 abrigos e em sete Conselhos Tutelares; estão em curso manutenção em outros sete abrigos. Além disso, um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) está em fase de construção, 10 passaram por reparos e/ou manutenção, assim como cinco CREAS.
Do total de 265.719 atendimentos, 229.978 foram feitos pelos CRAS, um crescimento de 34% em relação ao total de serviços feitos no mesmo período do ano passado. Os CRAS trabalham preventivamente na garantia de direitos das famílias em situação de vulnerabilidade social. As abordagens de rua aumentaram em 21,5%. Foram 29.396 em 2020 e 35.741 neste ano, entre janeiro e março.
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*Estagiário sob supervisão de Cadu Bruno