Por falta de vacinas da Coronavac, cidades do Rio correm risco de não aplicar segunda dose
Problemas podem afetar imunização correta da população. Ministro da Saúde admitiu dificuldades na chegada de insumos vindos da China e na distribuição das doses
Por YURI EIRAS E TATIANE GOMES*
Rio - Parte dos municípios do Rio de Janeiro corre risco de não aplicar a segunda dose na população por falta de vacinas da Coronavac. Há relatos de idosos que não conseguiram receber o imunizante em postos de saúde de algumas cidades da Baixada Fluminense nos últimos dias. Mais cedo, em sessão no Senado Federal, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu problemas no processo de distribuição da vacina produzida pelo Instituto Butantan.
O problema, segundo Queiroga, é no atraso do envio dos insumos vindos da China para São Paulo. "Tem nos causado certa preocupação a CoronaVac, a segunda dose. Tem sido um pedido de governadores, de prefeitos, porque, se os senhores lembram, há cerca de um mês se liberou as segundas doses para que se aplicassem. E agora, em face de retardo de insumo vindo da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa segunda dose", disse o ministro.
Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, uma idosa de 78 anos estava marcada para tomar a segunda dose da Coronavac na última semana. Mas ao chegar, recebeu a notícia de que o imunizante estava em falta. "Pediram para eu aguardar mais uma semana, que ainda estaria no prazo da vacina ser eficaz. Mas garantias, não deram. O problema é que enquanto isso, não sei o que fazer. Se tomo outra, se espero", disse a idosa, que preferiu não se identificar.
Presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o infectologista Renato Kfouri ressalta a importância de cumprir com rigor a recomendação das bulas das vacinas: a segunda dose da CoronaVac deve ser aplicada em um período entre 14 e 28 dias após a primeira. A Oxford/AstraZeneca tem intervalo mais de longo, de até três meses. Kfouri lembra que "a segunda dose não é um reforço, é o que completa o esquema de proteção".
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"Os prazos que a gente tem são baseados nos estudos, mostrando que as vacinas podem ser aplicadas neste intervalo sem prejuízo da sua eficácia. A vacina da Coronavac não tem informação da sua eficácia entre doses. Foram feitos estudos com intervalo curto. Com a vacina de Oxford, foi possível avaliar que indivíduos, ao receberem a primeira dose, ficam até três meses protegidos", afirmou o infectologista. "Se você fizer intervalos diferentes, você sai de uma zona de conhecimento do que vai acontecer".
Kfouri explicou ainda que não há qualquer comprovação de eficácia na mistura de doses - quando a pessoa toma a primeira dose de um imunizante, e a segunda de outro. A recomendação, segundo o especialista, é "não aplicar dose nenhuma".
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"Em relação a mistura das vacinas, ou intercâmbio, também não há estudo. A gente não sabe se isso protege, ou não protege. Como se não se conhece os dados de segurança, a recomendação é não aplicar dose nenhuma. Quem tomou a de uma, e por engano tomou a segunda dose da outra, o esquema é considerado finalizado".
Em nota, a prefeitura de Duque de Caxias informou que o lote da vacina Coronavac recebido pela Secretaria Municipal de Saúde no domingo (25/04), foi destinado exclusivamente para a aplicação da segunda dose nos caxienses que já receberam o imunizante. "Nesta segunda-feira (26), a equipe da Saúde aplicou a segunda dose apenas para quem tomou a primeira dose da Coronavac no dia 24 de março nos seguintes locais: Praça de Imbariê; Praça do Canal Farias (Saracuruna); e Praça do Dr. Laureano.
A PMDC reforça que aguarda a entrega de novas doses da vacina Coronavac, pelo Ministério da Saúde, para dar continuidade do calendário de segunda dose no município.
A Secretaria Municipal de Saúde está disponibilizando o canal direto “Informativo Covid”, através do WhatssApp (21) 98880-9783, para que a população possa tirar dúvidas e obter informações atualizadas sobre a vacinação no município", diz o documento.
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Já a Prefeitura de Nova Iguaçu afirmou que está "enfrentando um problema momentâneo de desabastecimento de vacinas coronavac para a aplicação da segunda dose".
"As doses foram aplicadas de acordo com cronograma da Secretaria Estadual de Saúde. Aguardamos, portanto, as próximas entregas para prosseguir. Prevenida, a secretaria municipal de saúde de Nova Iguaçu marcou o retorno para a segunda dose em 21 dias e não 28 dias, deixando a população coberta dentro do prazo máximo de retorno. O município está avançado em relação à vacinação, cumprindo todos os requisitos de segurança e obtendo sucesso nas aplicações", diz a nota.
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Na última sexta-feira, a Secretaria Estadual de Saúde recebeu 558.990 doses de vacinas, sendo 78 mil da CoronaVac e 480.990 da Oxford/AstraZeneca.
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