Geral - Linhas de onibus que deixaram de circular ou diminuiram muito o numero de carros para atender os usuarios. Na foto, Diego Donald, no Bairro de Fatima, no centro, moradores reclamam da linha 010.
Geral - Linhas de onibus que deixaram de circular ou diminuiram muito o numero de carros para atender os usuarios. Na foto, Diego Donald, no Bairro de Fatima, no centro, moradores reclamam da linha 010.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Jorge Costa*
Rio - A situação dramática de milhares de passageiros que dependem do transporte público no Rio ainda está sem prazo para acabar. Após a prefeitura ter determinado o retorno de 40 linhas de ônibus às concessionárias responsáveis, poucas mudanças aconteceram. Um balanço parcial feito pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) apontou que 12 dos 20 itinerários de alta prioridade voltaram a operar, mas nenhum deles em conformidade com os critérios do município.

Agora, faltam dois dias para o término do prazo da determinação da reativação das linhas de ônibus. O pedido foi feito em fevereiro e até o momento não foi integralmente cumprido pelas empresas de transporte.

O pedido de retorno das 40 linhas de ônibus foi dividido em dois grupos, os de alta e média prioridade. O primeiro e mais importante segmento precisava voltar a circular 20 trajetos até 30 de março; já o segundo, tinha o prazo de retorno para mais 20 itinerários até a próxima sexta-feira (30).

A SMTR não detalhou quais linhas de média prioridade retornaram e as que não voltaram, e alegou que o prazo dado pela prefeitura para o retorno destes itinerários ainda não venceu. Novos encontros com os consórcios estão previstos para os próximos dias e a tendência é que o município adote uma postura de diálogo com as companhias, em função das perdas financeiras sofridas por conta da pandemia.

Enquanto o poder público e o setor privado buscam uma solução comum, a passageira Janícia Batista, de 57 anos, moradora do bairro de Fátima, sofre com a falta ônibus da linha 010, que liga a região em que ela mora e o Centro da cidade.

"Os ônibus do 010 sumiram desde o início da pandemia. Antes já existiam bem poucos, mas quando chegou a covid-19 eles pararam de vez. Em seguida, voltou a circular um ônibus, que sumiu novamente. Ele faz muita falta porque aqui temos muitos moradores do Centro da Cidade que precisam dele, além de muitos idosos no bairro também que precisam dessa linha, pois ela liga a região direto ao Instituto do Câncer", afirmou.

A aposentada Marise Alves Nascimento, de 70 anos, disse que está cada vez mais difícil depender do transporte público para se deslocar no Centro. Ela explicou que esperava a linha 06, que circula a região central mas, devido à escassez dos ônibus, tem pegado duas conduções para ir até seu destino.

"Estou esperando o 06 há 30 minutos, eu costumava pegar ele para ir até o Centro. Mas só tem o 07 agora. Eu uso essa linha sempre que eu preciso ir na cidade para fazer as minhas consultas no médico, inclusive eu já estou atrasada", desabafou Marise.


Na Zona Oeste do Rio, a enfermeira Juliana Santos, de 34 anos, também afirmou que não encontra mais os veículos da linha 851, que passa por Campo Grande e que, por isso, precisa fazer uma rota alternativa para ir ao trabalho.

"Então, neste ponto em que moro é o único ônibus que passa e vai até a rodoviária de Campo Grande, o que me ajudaria a pegar outra condução para o meu serviço, que fica em Santa Cruz. Tento pegar ele ou preciso andar até a Rua Artur Rios. Porém, quem mora na Estrada do Pré depende dele para ir trabalhar. Fora ele, os passageiros têm somente as vans", explicou a enfermeira.
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Secretaria está realizando estudo para propor soluções definitivas para o transporte na cidade

Para tentar solucionar os problemas de mobilidade na cidade, a SMTR disse, em nota, que está fazendo a revisão de todo o sistema de ônibus da cidade. Segundo a secretaria, a proposta é muito mais ampla e tem como prioridade identificar todas as áreas desatendidas (ou com pouco atendimento) e, a partir disso, propor modificações nas linhas para que atendam à população plenamente.

A pasta mencionou ter feito o mapeamento do histórico de linhas modificadas, criadas ou descadastradas entre 2010 e 2021. O estudo indicou que, nesse período, 800 linhas passaram pelo sistema - 77 foram criadas, 60 linhas alteradas e 196 extintas.

A SMTR ainda esclareceu que todas as linhas extintas, alteradas e as mais reclamadas passam por uma análise detalhada. A secretaria também avalia todos os itinerários, com identificação do perfil de atendimento e verificação de compatibilidade com a rede atual de ônibus. Em seguida, as informações levantadas são compiladas, com a indicação de conclusões e propostas feitas pela secretaria para cada linha.

Este relatório mais profundo com o amplo levantamento sobre as linhas de ônibus está previsto para ser finalizado no dia 30 de junho. E a revisão deste documento com informações detalhadas irá possibilitar à SMTR a garantia de ofertar uma solução mais eficiente para o transporte público, segundo o órgão.

O Rio Ônibus também afirmou, em nota, que os consórcios trabalham para manter as linhas em operação. Contudo, a cada dia é mais difícil manter a linearidade do serviço sem efetivo auxílio do poder concedente.

Ainda em nota, a entidade afirmou que o transporte público "não aguenta mais o peso da crise". "Na busca por soluções, as dificuldades e necessidades para retomada plena do serviço são integralmente compartilhadas com a Prefeitura", diz o documento.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes