Geral - Fim da operaçao da linha 456, Meier/Copacabana. Na foto, ponto proximo ao NorteShopping, no Cachambi, zona norte do Rio.
Geral - Fim da operaçao da linha 456, Meier/Copacabana. Na foto, ponto proximo ao NorteShopping, no Cachambi, zona norte do Rio.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Yuri Eiras*
Rio - Curtir o Maracanã, mergulhar em Copacabana, esticar até Ipanema e, enfim, voltar para casa. Ao longo das décadas, as linhas de ônibus 456 e 457 fizeram parada no coração dos moradores da Zona Norte por ser a principal ligação, muitas vezes negada, ao Centro e à Zona Sul da cidade. Elas e outras seis linhas correm risco de extinção desde o anúncio do fim das atividades da Viação Acari, responsável pelo itinerário. Na última quarta-feira, a empresa de 57 anos anunciou o fechamento, o que pode deixar cerca de 600 funcionários desempregados, e outros tantos passageiros a pé. Na sexta, houve paralisação
O 456, que por anos fez o icônico itinerário Méier x Copacabana, virou até tema de música para o cantor e compositor Gabriel Moura, ex-Farofa Carioca e 4 Cabeças, em letra que derrama amores pelo subúrbio e pelas paixões cariocas de verão - 'Ela pega no Méier/O 456/No Fim de semana/Vai à praia em Ipanema'. "A linha é um dos símbolos do bairro", diz o compositor.
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Além do 456 (Norte Shopping x Siqueira Campos), também são de responsabilidade da viação Acari outras sete linhas importantes que ligam a Zona Norte à Zona Sul, como 457 (Abolição X Copacabana), 650 (Engenho Novo X Mal Hermes), 254 (Madureira x Calendária), 277 (Rocha Miranda x Candelária) e 607 (Cascadura X Rio Comprido). Durante a última semana, outras empresas fizeram temporariamente o itinerário. O 457, por exemplo, rodou sob responsabilidade das viações Braso Lisboa e Verdun. Há negociações para que ao menos as linhas mais importantes sejam remanejadas.
O estudante Wesley Ferreira, 28, é um dos passageiros que diariamente fazem viagem em um dos ônibus da viação. "O morador da Zona Norte tem esse orgulho próprio e os ônibus que fazem o trajeto no Méier, Abolição, Cachambi e região têm total participação com isso. O 457, 456 foram responsáveis por me levar ao colégio, à universidade, são parte da trajetória", afirma.
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Antiga pintura da viação Acari, em azul, amarelo, vermelho e branco, era uma das mais famosas do Rio - DIVULGAÇÃO VIAÇÃO ACARI/ACERVO PAULO ROBERTO
Antiga pintura da viação Acari, em azul, amarelo, vermelho e branco, era uma das mais famosas do RioDIVULGAÇÃO VIAÇÃO ACARI/ACERVO PAULO ROBERTO
O cenário rodoviário da cidade do Rio é grave e outras viações podem acabar. A viação Acari é uma das 17 empresas que fecharam as portas desde 2015. Segundo o Rio Ônibus, as falências são frutos do "sufocamento financeiro por falta de passageiros pagantes e carência de ajuda do Poder Público para operação". O porta-voz do sindicato das empresas, Paulo Valente, cobra apoio municipal para a manutenção das linhas.
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"Sem ajuda ou atendimento de nenhuma das esferas de Governo, congelamento de tarifas há quase 30 meses e a queda de 50% dos passageiros pagantes desde março do ano passado, empresas como a Viação Acari não conseguem se manter em atividade por absoluta falta de caixa. O que temos é um grande problema estrutural sistêmico que tende a levar outras empresas à mesma situação", opina Valente, que calcula déficit de R$1,3 bilhão no Rio Ônibus.
Compositor da ‘Garota do Méier’ lamenta a situação da linha 456
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O músico Gabriel Moura, que fez a música Garota do Méier, homenageando a linha 456, lamentou a incerteza sobre o futuro da linha. Ele relembra que o trajeto era apelidado por '45Méier' e considera que existe uma perda simbólica que deve ser considerada se a linha for extinta.
"A linha 456 em particular tem um lado simbólico do Méier por ser chamada de 45Méier, mesmo depois de ter ido parar no Norte Shopping, pra quem viveu ela nessa época, continua tendo o mesmo apelido. Ficarei triste se ela não existir mais fisicamente, mas pelo menos poderá ser lembrada e festejada na canção Garota do Méier", afirmou.
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O músico, criado no bairro do Lins, tem na memória afetiva bons momentos com o 456. "Ia à praia descalço, de sunga e sem camisa, queimando o pé no assoalho quente do ônibus sob o calor de 40 graus do Rio. Pegava ele no ponto final, que era em frente à antiga Casa Mattos e desembarcava no final da linha, no Arpoador. Na volta, saltava na Rua 24 de Maio para subir pro Lins pela Rua Pache de Faria".
Gabriel Moura - ARQUIVO PESSOAL
Gabriel MouraARQUIVO PESSOAL
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A expectativa é que a Viação Acari mantenha as atividades até o dia 21 de maio. Seus funcionários estão de aviso prévio, e na última sexta-feira realizaram uma assembleia para organizar uma mobilização contra as demissões. Rodrigo Lisboa, motorista da Viação Acari há três anos, conta que a diretoria da empresa vem falhado com os funcionários e que diversas tentativas de acordo foram frustradas pelos contínuos atrasos de salários. A empresa cobre as linhas 607, 677 e 686 pelo consórcio Transcarioca e as linhas 254, 277, 456, 457 e 650 pelo Internorte.
"Estamos com praticamente três meses de salários atrasados, a cesta básica com dois meses de atraso e com a promessa da diretoria de melhora. Nunca melhorava. Estamos passando dificuldade financeira, eu pago pensão, estou correndo risco de chegar uma intimação na minha casa e ser preso porque não estou conseguindo arcar com as minhas despesas, muito menos com a pensão dos meus filhos", disse.
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Geral - Funcionarios da Viaçao Acari resolvem parar para cobrar atraso de salarios e beneficios. - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Geral - Funcionarios da Viaçao Acari resolvem parar para cobrar atraso de salarios e beneficios.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
*Colaborou o estagiário Jorge Costa